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Entenda qual é a relação entre a saúde mental e a imunidade do seu filho

Especialistas explicam que situações estressantes recorrentes tendem a aumentar o nível de cortisol no organismo e enfraquecer a imunidade infantil.

Por Alice Arnoldi
20 jun 2021, 10h00
Criança-em-isolamento-para-protecao-contra-covid19
 (RichVintage/Getty Images)
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Em tempos pandêmicos devido a covid-19, mais do que conversar sobre a saúde física das crianças – que continuam menos suscetíveis ao vírus e suas novas cepas –, foi preciso trazer aspectos mentais para o centro do diálogo. Isso porque tanto quanto ou até mais que os adultos, em decorrência da paralisação escolar, os pequenos foram afetados pelo isolamento social e as perdas emocionais advindas dele.

Paradoxalmente, a primeira consequência do confinamento necessário neste tempo está ligado ao desenvolvimento fisiológico do sistema imune infantil. Como explica o infectologista pediátrico André Ricardo da Silva, do Grupo Prontobaby, o distanciamento entre as famílias foi necessário para que elas ficassem protegidas do coronavírus. Só que, ao mesmo tempo, uma das etapas da construção da imunidade infantil foi alterada, já que ela acontece por meio do convívio com seus pares.

“É um aspecto natural do ser humano ter contato com outras pessoas e ele ir trocando experiências infecciosas, para ir montando um arcabouço de defesa próprio e isso acontece na primeira infância”, destaca o especialista. Sem este contato físico entre os pequenos, eles podem acabar desenvolvendo formas mais intensas de doenças comuns até que seu sistema imunológico se estabeleça.

Já em relação a saúde mental infantil, é importante entender que os eventos psicológicos não são capazes de causar enfermidades, mas influenciam na barreira de proteção contra elas. “Mudanças devido a pandemia, traumas emocionais importantes como a perda de alguém, saudades de entes queridos e falta de convivência social podem causar situações de estresse às crianças, o que aumenta o nível do hormônio cortisol no organismo e pode promover uma queda no sistema imunológico“, esclarece a psiquiatra Priscila Zempulski Dossi, especialista em psiquiatria infantil e adolescência pela UNICAMP.

A médica ainda pontua que esta fragilidade na imunidade infantil pode acarretar em uma maior suscetibilidade tanto para agentes infecciosos externos, como o vírus da gripe, quanto em doenças autoimunes que acontecem por um descompasso do próprio organismo. O surgimento de transtornos psicológicos diante de situações estressantes frequentes também precisa de atenção.

Problemas de sono, alimentação e choro excessivo

No segundo ano consecutivo da pandemia causada pela covid-19, o isolamento social também é responsável por desestabilizar outras rotinas necessárias à saúde infantil. Tanto André quanto Priscila pontuam que a ausência de uma agenda esperada neste período da infância podem acarretar em problemas de sono, alimentação e até mesmo acúmulo de energia pela ausência de espaço para brincar.

“Crianças em casa durante muito tempo, principalmente sem definição de retorno à escola, acabam desenvolvendo diferentes sentimentos devido a falta da sociabilidade, como angústia, ansiedade, alteração do padrão de sono, alimentação irregular e muito tempo em frente as telas. Tudo isso gera uma falta de rotina e faz um desbalanço no seu sistema autoimune”, detalha o infectologista pediátrico.

Junto com a ausência de rotina, o sistema imunológico infantil também pode ser prejudicado durante a quarentena pelo medo de levar às crianças aos postos públicos ou clínicas privadas para fazer o acompanhamento pediátrico e vacinal. Entretanto, é sempre importante lembrar: a vacina é o único meio de evitarmos que doenças erradicas voltem e há formas seguras de levar os pequenos para recebê-las.

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(gahsoon/Getty Images)

Atenção às mudanças comportamentais!

Para entender se estes excessos estão prejudicando a saúde mental dos menores, o psiquiatra Alfredo Simonetti, especialista em crianças e adolescentes, orienta os pais a prestarem atenção nas atitudes dos filhos. “Enquanto que o primeiro sintoma de depressão nos adultos é uma tristeza, um desencantamento e a percepção de estar menos disposto, nas crianças é a alteração de comportamento, ou seja, ela funcionava de um jeito e passa a ser de outro”, explica o médico.

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Isso não significa obrigatoriamente que o comportamento será com viés negativo. Por exemplo, a criança pode estar em sofrimento emocional e demonstrar isso ficando mais calma nas aulas digitais, enquanto mostrava um comportamento mais espoleta na escola. Ou ainda deixar de chorar diante de situações difíceis, sendo que ela expressava a emoção com mais facilidade ao sentir-se frustrada.

Mas há também a possibilidade de sentimentos mais difíceis de serem administrados, como irritabilidade intensa, insônia ou sono de baixa qualidade, vontade de comer a toda hora e choro excessivo. Priscila ainda completa dizendo que dores físicas frequentes como de cabeça ou abdominais, sem achados clínicos nos exames, também podem aparecer e elas acontecem devido a um fenômeno chamado somatização.

E o que pode ser feito para contornar a situação? 

Antes de sair correndo à farmácia para comprar vitaminas e suplementos para aumentar a imunidade do seu filho, é preciso dar alguns passos para trás e entender que a ação mais poderosa neste momento é tentar estabelecer um cronograma real e próximo do que era antes.

“Uma boa influência neste momento é tentar organizar uma rotina tanto da criança quanto da família o mais normal possível, com horários para acordar, se alimentar, fazer atividades e ter um horário para lazer”, enumera Priscila. Os especialistas também reforçam que é importante que este tempo de descanso que a criança precisa ter para uma boa saúde mental não deve ser apenas em frente as telas, especialmente antes do horário de dormir devido a hiperestimulação.

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André também lembra que é necessário os pais ficarem atentos ao que os filhos acessam na internet. Os conteúdos podem tanto ser gatilhos para emoções que a criança ainda não consegue lidar quanto indicativos de que há algo errado, ao buscarem por determinados assuntos. Por isso, instituições como a Childhood Brasil indicam que crianças não tenham acesso às telas sem estarem acompanhadas de adultos.

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