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Médicos respondem às principais dúvidas sobre infertilidade masculina

Especialistas explicam como é dado o diagnóstico no homem, quais as principais causas, como funciona o tratamento e quais as alternativas para o problema.

Por Ketlyn Araujo
6 jan 2022, 16h11

Embora pesquisas nacionais mostrem que cerca de 65% das mulheres brasileiras acreditam ser responsáveis pela infertilidade do casal, na prática os números mostram outra realidade. Isso porque, expõe Paula Fettback, ginecologista especialista em infertilidade de alta complexidade, estatisticamente 30% dos casais apresentam infertilidade por fatores masculinos, 30% por fatores femininos e em torno de 30% dos casos há fatores de infertilidade de ambos os lados.

Ou seja, ao contrário do que muitas pessoas pensam, a infertilidade masculina é muito comum. A diferença é que mulheres, via de regra, cuidam mais da saúde reprodutiva e fazem mais exames do que homens.

As causas da infertilidade em ambos os sexos, porém, costumam ser distintas. Enquanto que em mulheres ela pode estar relacionada a questões hormonais, anatômicas ou doenças como a endometriose, no homem, ser infértil pode estar ligado, entre outras coisas, ao estilo de vida que ele leva, bem como hábitos que afetam diretamente a saúde.

“Como o homem produz novos espermatozoides constantemente a cada 90 dias, ele tem uma correlação muito grande do estilo de vida com a espermatogênese, que é a formação dos espermatozoides. Por essa razão, manter hábitos saudáveis de vida são aspectos relevantes neste processo”, reforça Paula.

Quais as causas da infertilidade masculina?

Entre as causas ligadas ao estilo de vida do homem, os especialistas citam como fatores que influenciam na infertilidade: 

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  • obesidade
  • má alimentação
  • estresse
  • tabagismo
  • drogas ou anabolizantes
  • consumo de álcool
  • sono não reparador
  • sedentarismo
Mulher sentada e homem em pé fumando
(Cottonbro/Pexels)

Além destes fatores ligados aos hábitos, o médico especialista em reprodução humana Rodrigo Rosa destaca a chamada varicocele, dilatação e varizes das veias da bolsa testicular, um dos principais fatores causadores da infertilidade. Paula diz, ainda, que a varicocele representa cerca de 38% dos casos de infertilidade masculina, podendo ser apresentada em níveis leve, moderado ou grave (tudo de acordo com o tempo e a gravidade da dilatação).

Obstruções pós-operatórias ou no trato geniturinário, como a vasectomia, também podem ocasionar a infertilidade no homem, além de ela estar também relacionada a causas infecciosas, imunológicas, congênitas, sexuais e endócrinas, por exemplo, mas apenas em uma pequena parcela.

“Causas complementares podem estar ligadas a fatores genéticos, com alteração do cariótipo, e também à chamada microdeleção do cromossomo Y, na qual falta um pedacinho do cromossomo, responsável pela ausência total ou presença de poucos espermatozoides”, acrescenta Rodrigo, que conclui: “Além disso, temos a criptorquidia, quando o testículo não desce antes do nascimento, e que, se não for corrigida a tempo, é causa de infertilidade masculina”.

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Por fim, a médica Claudia Navarro, especialista em reprodução assistida, diz que a infertilidade tem a ver, principalmente, com a diminuição da quantidade de espermatozoides no sêmen, com a alteração na motilidade deles ou no volume seminal. Isso tudo pode estar relacionado aos fatores já apontados acima, assim como cirurgias e tratamentos feitos anteriormente (como quimioterapia), além de traumatismos na bolsa escrotal e alterações hormonais.

Como é feito o diagnóstico no homem?

Os especialistas contam que o diagnóstico da infertilidade no homem é verificado, geralmente, pelo exame de espermograma, o principal teste para avaliar a fertilidade masculina, que deve ser feito após a análise clínica e a anamnese (histórico dos sintomas) do paciente. O exame deve ser repetido em um intervalo de duas semanas, a fim de uma conclusão mais precisa da condição.

Como ocorre em qualquer área da medicina, porém, é importante que o médico avalie, detalhadamente, o histórico clínico daquele paciente, para que demais testes também sejam feitos de acordo com cada perfil. É o próprio especialista em reprodução quem vai saber individualizar quais serão os exames necessários para cada paciente.

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“O espermograma vai avaliar o volume do sêmen, a concentração de espermatozoides, a motilidade nesses gametas e a morfologia deles. Baseados nesses parâmetros, nós podemos estimar se o homem é fértil ou não, mas a comprovação da fertilidade existe apenas quando ocorre a gravidez”, descreve Rodrigo.

Em caso de alterações no espermograma, são feitos também outros testes para maior investigação da infertilidade, como o ultrassom da bolsa testicular, doppler para avaliar a presença de varicocele (além do exame clínico), exames hormonais e, ainda, o chamado exame de fragmentação de DNA espermático, problema que também pode causar infertilidade e abortos de repetição.

Quais são os sinais de alerta?

O principal alerta, concordam os médicos, é a impossibilidade de gravidez, após certo período de tentativas. Em qualquer caso, ambos os parceiros devem ser avaliados corretamente – ou seja, mesmo que algum problema relacionado à infertilidade da mulher já tenha sido diagnosticado, o homem também precisa passar por uma avaliação, principalmente se possui: 

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  • Histórico clínico: quando o homem apresentou criptorquidia (quando os testículos do bebê não descem para o escroto); caxumba com acometimento dos testículos na infância; trauma importante, como uma pancada ou acidente na região dos testículos.
  • Histórico familiar: por exemplo, possua irmãos que tenham infertilidade, ou seja, algo que possa deixar mais evidente que existe uma carga genética envolvida.
  • Uso de drogas ou anabolizantes: “Atualmente é muito frequente o uso de anabolizantes, principalmente a injeção de testosterona intramuscular em altas doses para pacientes que fazem muita atividade física e querem adquirir ganho de massa muscular. Todos esses fatores são sinais de alerta para a infertilidade”, alerta Paula.
  • Disfunção sexual: Ainda que não tenha uma relação direta com a infertilidade masculina, é importante pontuar sobre esta questão. “O homem que tem alterações no saco escrotal costuma apresentar um desempenho sexual totalmente normal, mas aquele homem que, por algum motivo, apresenta alguma questão sexual, como problemas de ereção ou de ejaculação, pode também manifestar o problema da infertilidade. Na grande maioria das vezes, entretanto, ao tratar essa disfunção sexual a fertilidade do homem volta ao normal”, explica.

Como é o tratamento de infertilidade masculina?

O principal tratamento, opina Rodrigo, consiste em primeiro identificar a causa daquela infertilidade, para depois resolvê-la. Por exemplo, se existir a varicocele, pode ser indicada a cirurgia, já se o problema estiver relacionado ao estilo de vida, é preciso mudar os hábitos.

Na grande maioria dos casos de infertilidade masculina, diz Paula, existe tratamento efetivo, e a maioria dos fatores são reversíveis e passíveis de melhora. Mesmo quando o paciente recebe o diagnóstico de azoospermia, ou seja, da ausência de espermatozoides, a médica afirma que existem procedimentos nos quais os gametas são buscados diretamente nos chamados tubos seminíferos, por meio de punção testicular ou microdissecção testicular com microscópio.

Outras alternativas são o uso de drogas antioxidantes, de vitaminas, antibióticos e induções com medicações hormonais, que variam de acordo com a complexidade do caso.

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Infertilidade dos casais: saiba quais são as principais causas
(Shironosov/Thinkstock/Getty Images)

Existem casos que não possuem tratamento?

“Sim, existem casos que são realmente irreversíveis, por conta de sequelas de traumas e infecções, ou mesmo questões genéticas que não são passíveis de reversão. Na grande maioria destes que não possuem uma forma de reverter aquela piora da qualidade e quantidade dos espermatozoides, são indicados os tratamentos de reprodução assistida, como a inseminação artificial nos casos mais leves, e nos casos mais severos a fertilização in vitro (FIV)”, fala o médico.

Claudia ressalta que o tratamento é individualizado, mas o casal deve ser avaliado conjuntamente. “Em uma situação de um homem com espermograma alterado com uma parceira com mais de 36 anos, muitas vezes, o melhor é partir direto para uma técnica de reprodução assistida. Então a gente avalia o casal”, exemplifica.

Quais as alternativas se o tratamento não funcionar?

Caso sejam feitos todos os tratamentos disponíveis, sejam eles clínicos, hormonais, de punção ou microdissecção, e, ainda assim, não sejam obtidos resultados satisfatórios, a opção mais indicada para o homem, assim como ocorre com a mulher, é recorrer aos bancos de sêmen, fazendo uso do esperma de um doador anônimo. Nesse caso, podem ser usados tanto os bancos nacionais quanto internacionais, nos quais as amostras seminais são importadas para que seja realizado o tratamento.

No mais, Rodrigo acredita que todos os casais que estão tentando engravidar há cerca de um ano, sem sucesso, devem ser investigados, pois essa é uma luta contra o tempo, e quanto antes a causa da infertilidade for identificada e tratada, melhor o prognóstico de gravidez.

“Como a infertilidade masculina é tão comum quanto a feminina, o homem sempre deve ser investigado. O espermograma é um exame básico, que deveria ser feito em todos os homens antes mesmo de tentar a gravidez. Assim, ele vai saber como tratar aquela causa antes que o tempo em busca de uma gestação espontânea, que muitas vezes pode não acontecer, seja perdido”, encerra o especialista.

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