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Como o homem pode se preparar para ser pai?

Cuidar de corpo e mente é importante para aproveitar a paternidade em sua plenitude. Veja as dicas dos especialistas da concepção ao puerpério.

Por Chloé Pinheiro
Atualizado em 28 out 2019, 10h46 - Publicado em 9 out 2019, 22h12

A mulher ganha uma boneca para “cuidar” ainda criança, começa a ir no ginecologista na adolescência, é questionada constantemente se terá ou não filhos quando adulta e, assim que engravida, passa por mudanças bruscas que apresentam fisicamente a maternidade. Para o homem, a saúde sexual quase nem é tópico de discussão e a construção da paternidade geralmente fica no imaginário, só se concretiza quando filho já está nos braços.

Este cenário tem mudado nos últimos anos, mas estereótipos ainda atrapalham o cuidado com a saúde física e emocional do homem. “Durante muitos anos houve a visão de que a mãe era a responsável pela criação dos filhos e rotinas domésticas, então o homem se afastou desse universo, e as orientações ainda são muito voltadas para a mulher”,  destaca Mariana Bonsaver, psicóloga da Maternidade Pro Matre Paulista. 

Como para eles ter um filho também traz novas emoções e responsabilidades, o ideal seria se preparar psicológica e fisicamente para esse momento.

Antes de engravidar

A responsabilidade do sucesso da gestação fica muito em cima da mãe, mas não deveria mais ser assim. A saúde do homem influencia na concepção e deve ser tratada com atenção pelo casal tentante.

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De fato, algumas medidas aumentam as chances de engravidar. A primeira delas é controlar fatores de risco para infertilidade, como obesidade, doenças e estresse crônico. A mulher precisa tomar ácido fólico antes de engravidar para o desenvolvimento adequado do feto, mas os especialistas não recomendam nenhuma vitamina ou nutriente extra para os homens em geral.

“O uso de suplementos para fertilidade é muito controverso, eles devem ser restritos a casos específicos”, aponta o urologista Marcelo Vieira, coordenador da Área de Reprodução da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU). Além da concepção em si, a saúde dos espermatozoides pode interferir no sucesso da gestação. “Gestações de homens que fumam, por exemplo, têm maior risco de complicações”, pontua Guilherme Wood, urologista e especialista em reprodução assistida da Huntington Medicina Reprodutiva.

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Outro ponto a ser considerado é a idade de ter filhos. “O homem produz gametas, que são células reprodutivas, a vida inteira, mas se sabe que, por volta dos 45, aumenta o risco de haver danos no material genético dos espermatozoides, o que por sua vez eleva a incidência de certas doenças, especialmente neurológicas, no bebê”, destaca Wood.

Não dá para fazer nada específico para diminuir a ação do tempo, mas o fato de ser mais velho também não é nenhuma sentença de eventos negativos na gravidez e saúde do bebê. Vale lembrar que fatores ambientais, como poluição, má alimentação e sedentarismo também podem interferir na saúde dos espermatozoides – o que reforça a importância do estilo de vida saudável.

Para os homens acima dos 40, um alerta. “Tratamentos de reposição de testosterona, que são ofertados por volta dessa faixa etária para melhorar a fertilidade e outras promessas, estão sendo feitos em homens que não precisam e não são recomendados, pois o hormônio na verdade tem efeito contrário, atua como um anticoncepcional”, avisa Vieira.

Durante a gestação

Hora de trabalhar o psicológico. “O homem já sente que será pai, mas tende a só concretizar esse papel com o contato físico com o bebê, enquanto a mulher já sente as alterações fisiológicas da gravidez”, destaca Mariana. Alguns fatores, como ter um histórico pessoal ruim neste aspecto – um pai ausente, por exemplo – podem afetar o contato do homem com a própria paternidade. 

“Nesse caso, a influência pode tanto ser negativa, pela falta de referência de como agir como pai, mas também positiva, pois pode ser que ele queira fazer as coisas de outra forma e ser mais presente”, comenta a psicóloga. Se o problema for falta de exemplo, hoje existem cursos voltados para o homem, seu papel no parto e cuidados com o bebê.

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Meio excluído dos debates sobre criação dos filhos, o homem tende a não perguntar muita coisa. A troca de figurinhas com outros homens que são pais pode ajudar. Se envolver nas consultas pré-natais, exames, compra de enxovais e outros detalhes da chegada do bebê ajudam a concretizar a noção de paternidade. Tarefas não faltam. 

Depois do parto

Quando o filho nasce, começa o puerpério, período intenso para a mulher, que pode ter sua saúde mental abalada pelas mudanças tão radicais na rotina e as demandas do recém-nascido. “O pai fica de fora de cuidados como a amamentação, mas pode contribuir nos arredores, nos afazeres domésticos, oferecer suporte emocional para a mãe e se organizar para estar mais presente nesta fase”, ensina Mariana.

A chegada do bebê, especialmente se ele for o primeiro, é um período conturbado para a casa toda, cheio de novidades e emoções, por isso hoje já se fala até em depressão pós-parto paterna. “Infelizmente, ainda há muita pressão para que o homem dê conta de tudo, não fale sobre sentimentos e não sofra, o que pode favorecer o aparecimento de um quadro depressivo”, comenta Mariana.

Não há estimativas ainda sobre a prevalência do problema no Brasil, mas o Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos estima que até 10% dos pais pode ser atingido pelo problema. Um estudo norte-americano deste ano, feito pela Universidade de Nevada, vasculhou a internet à procura dos temas que afligem os novos pais e impactam a busca por ajuda.

Entre eles, o desconhecimento sobre o assunto, o mesmo estereótipo citado por Mariana de que é preciso ser “durão” e a dificuldade de expressar tantas emoções que surgem no pós-parto: exaustão, incapacidade, solidão, se sentir preso e a falta de sono, que pode exacerbar sintomas depressivos. Justamente por conta de tantos tabus envolvendo a masculinidade, pode ser difícil flagrar a depressão masculina.

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Nos homens, ela costuma se manifestar com mudanças abruptas de comportamento, alterações de sono, de apetite, diminuição da vontade de fazer atividades que antes eram prazerosas, distanciamento das pessoas próximas e do próprio filho. Se esses sinais forem intensos e persistentes, o ideal é procurar ajuda.

Depressão e ansiedade são questões tratáveis, e toda família ganha quando o sofrimento não fica escondido embaixo do tapete. 

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