Vem meu filho vem pro mundo
Vem viver cada segundo ô Lara
Vem trazer a luz da vida, para curar toda ferida ô Lara
Vem criança vem com tudo
Pra mostrar o que é bonito ô Lara
Vem sem medo para essa vida
Pra querer mudar o mundo ô Lara
Esses belos versos estão em Luz da Vida, de Paulo Novaes, uma das canções que entoam lindamente a gravidez de Jeniffer Nascimento. Mais do que isso, é música que representa a fase tão especial na vida da atriz, cantora e apresentadora de 30 anos. Ela e o marido, o também artista Jean Amorim, aguardam a chegada da primeira filha, Lara, cujo parto deve acontecer na segunda quinzena de dezembro, de acordo com os médicos.
“De acordo com os médicos”, pois a intuição da família diz outra coisa. “Tem um bolão sobre quando ela vai nascer! A data prevista é 21, mas ninguém acredita nisso. Meu palpite é 4 de dezembro. O do Jean é 7. Para minha avó, não passa de novembro”, brinca.
Enquanto aproveita esse momento cheio de expectativas, Jeniffer bateu um papo com BEBÊ e fez uma série de reflexões importantes sobre os últimos meses e sobre como a gestação trouxe para ela uma oportunidade de se olhar como há tempos não fazia. “Trabalho desde os 5 anos e costumo falar que, se as pessoas pedem para eu contar a história da minha vida, faço isso pelo currículo, porque, por diversos momentos, abdiquei da minha vida pessoal para viver a vida profissional. Então, em algum lugar dentro de mim, eu sentia que a maternidade seria o momento de viver minha vida pessoal. E tem sido assim”, explica.
Isso não quer dizer que a carreira ficou de lado para ela, uma workaholic declarada. A verdade, no entanto, é que obstáculos inesperados surgiram. Nada que tivesse a ver com o bem-estar da mãe ou da bebê, mas surpresas relacionadas ao próprio mercado. Uma delas foi a dispensa do musical O Rei Leão, às vésperas da estreia, ainda no início da gravidez – o que a impactou profundamente.
Na entrevista a seguir, a artista relembra os desafios profissionais, fala sobre a relação com o corpo em transformação e traz ainda conversas essenciais sobre racismo. É lógico que as delícias da gestação e a ansiedade boa em torno do nascimento da filha não poderiam faltar. Vem, Lara, vem com tudo!
BEBÊ: Você já disse que sempre quis ser mãe. Houve um momento em que a ideia se tornou verdadeiramente real?
JENIFFER NASCIMENTO: Para mim, sempre foi assim. Desde criança, sou uma pessoa maternal, cuidadosa, mesmo com os amiguinhos de escola. Brinco que não estou sofrendo na gravidez, porque fui feita para isso. Essa coisa de “ok, vou ser mãe agora” era algo que estávamos amadurecendo, até porque não sabemos o que o universo reserva. E aconteceu. A atmosfera maternal já estava aí, eu estava sentindo esse chamado há um tempo.
E qual foi sua reação ao ver o teste de gravidez positivo?
Um misto de alegria e medo! Para uma workaholic, não tem como não dizer que o calo não aperta. Quando a gente teve o resultado, eu já estava em O Rei Leão. Então, bateu o medo por essa responsabilidade, por saber que as coisas não estavam mais no nosso controle e que, fatalmente, a gente não conseguiria dar conta de tudo. Mas também converso com muita gente que fala: “Jeni, se você ficasse esperando o dia certo para ser mãe, não seria, porque toda hora aparece uma coisa.”
Você escreveu nas redes sociais que acreditava que a relação com seu próprio corpo poderia ser um desafio na gravidez. Em que sentido?
Tive muitas questões com meu corpo quando entrei na televisão. Hoje, estamos desconstruindo isso, mas, há nove ou dez anos, era cultuado aquele padrão de beleza perfeito. Eu pesava 53 quilos e recebi a notícia de que precisava emagrecer, porque estava fotografando gordinha no vídeo. Com 53 quilos! E a minha cabeça… Depois, fui estudando, me consultando com profissionais e entendendo que tive síndrome de distorção da imagem.
Sempre convivi com o famoso pneuzinho e falava que o único momento em que iria amar minha barriga seria quando virasse mãe. Ao mesmo tempo, eu tinha receio, porque não é só a barriga. Havia aquela esperança e também o medo de não saber o que ia acontecer comigo. E tem a minha profissão. Dependendo de como você fica na gravidez, as pessoas já olham e falam: “Nossa, se ela está assim, vai ser difícil voltar para o meio!”. Mas estou me amando muito! Recentemente, apareceu uma microestria na minha barriga e entendi que deveria manter a calma. Estou com quase 9 meses, está tudo certo. É a marca de um momento incrível.
Eu focava tanto na parte estética que não pensava na profissional. O que a gente ouve dizer sobre maternidade é que o mercado evoluiu, que as pessoas acolhem muito mais esse período. Mas, infelizmente, descobri na prática que isso não é uma realidade sempre.
Pode falar um pouco mais sobre o assunto?
Passei por isso em alguns momentos da gestação. Descobri a gravidez um dia antes de começarem os ensaios de O Rei Leão, por exemplo. Mesmo não tendo completado três meses, que é o período que os médicos indicam que a gente espere para compartilhar, porque há grandes chances de não vingar, como sempre tive essa coisa muito profissional, resolvi contar. É teatro musical, exige do corpo… Se fosse uma questão, eu já nem começaria.
Num primeiro momento, fui muito acolhida. Falaram que iriam fazer todas as alterações possíveis para que eu conseguisse seguir no espetáculo – apesar de ser um musical grande, eu só estava em seis cenas. Tínhamos mudado dois movimentos em uma sequência de luta, porque eu era empurrada pelo abdome e não ia ter como. De resto, eu fazia tudo. Estava muito feliz até que, 15 dias antes da estreia, fui dispensada. E o que foi alegado é que, em uma das fotos da prova de figurino, eu já não estava mais no físico da personagem.
Foi uma coisa que acabou comigo. Era um sonho. Eu havia feito esse teste 10 anos atrás e não tinha passado. Fiquei pensando: “Eu sou uma mulher grávida, avisei isso antes, era óbvio que meu corpo mudaria”. Por que não economizaram meu tempo? Ensaiei um mês e meio, fui para o palco de figurino, com maquiagem, com tudo. Demorei a processar. Estamos falando de teatro e de um personagem que é um animal [ela interpretaria a leoa Nala]. Qual é o padrão estético disso? Foi difícil de absorver.
Olhando pelo ponto de vista corporativo, consigo compreender várias questões. Eram muitos cenários, tinha a demanda física… Entendo o medo da empresa de assumir tal responsabilidade, mas, se existia esse medo, por que não falaram desde o início? Estávamos a uma semana da pré-estreia, poderiam ter deixado eu fazer pelo menos uma apresentação, sabe?
Sempre diziam que, por mais que eu estivesse ensaiando, não podiam garantir que eu iria estrear. Só que era assim: “Não podemos garantir, porque não sabemos se você vai estar bem”. E eu também assumi a responsabilidade, né? Diante desse cenário, eu já poderia ter decidido não participar. Porém fui confiando, pois, segundo o que falavam, eu estrear ou não só dependia de mim – e eu estava bem.
Achei injusto, mas respirei e pensei: “O que é mais importante agora? Eu me estressar, querer justiça, expor minhas feridas ou preservar minha filha e minha energia?”. Depois, refleti e acho que o universo sabe o que faz. Foi o melhor para mim. Estar vivendo essa fase tão linda da minha vida olhando no espelho preocupada se minha barriga iria crescer? Foi ótimo ter uma gestação com menos cobrança. Se surgiram todas essas questões e aconteceu dessa forma, vai saber como seria se eu tivesse estreado? Se eu não iria ficar me pressionando, se não iria além dos meus limites para provar que dou conta.
Assistir a vídeos sobre gravidez e maternidade nas redes sociais não faz parte da sua rotina, você já comentou. Por que? Como busca informações?
Sou curiosa e estudiosa, mas tenho ressalvas com vídeos da internet. A rede social é um veículo legal para entregar informação a todos, mas não há nada que filtre isso. Se tenho uma dúvida, mando para as profissionais que me acompanham, porque sei que elas estudaram para isso.
Outro ponto é a experiência individual. A tendência do momento é usar o termo “maternidade real”. Óbvio que muita gente passa por desafios, mas várias pessoas, para engajar, começaram a mostrar só o negativo. Isso, em algum momento, me inibiu de querer compartilhar a alegria que estava sentindo por estar grávida e por estar 100% saudável. Eu achava que seria julgada, porque, dentro do contexto da maternidade real das redes sociais, a minha é um conto de fadas.
A gestação trouxe mudanças para sua relação com o Jean?
A gente conversa bastante, esse é um dos pontos altos do nosso relacionamento. Durante a gravidez, tivemos um diálogo muito grande. Foi bem legal viver esse momento intensamente com ele. Todo mundo fala sobre o quanto a gestação é difícil para a mãe – porque, de fato, ela está ali “fabricando” -, mas também é muito desafiador para o pai. Ele fica meio invisível, tem que lidar com as oscilações hormonais da mulher sem estar vivendo aquilo… Apesar das demandas diferentes, os dois lados precisam ser compreensivos. Vamos ter uma filha, vai ser um amor incondicional, mas não podemos nos esquecer do casal. Porque, um dia, a Lara vai construir a família dela e, no fim das contas, de alguma forma vai voltar a ser só a gente.
Você é uma pessoa conhecida há muito tempo. A gravidez ensinou algo novo sobre a fama?
Minha relação com a fama é complexa. Eu quis ser artista, pois sempre gostei de fazer arte, acho que ela tem o poder de transformar os outros, é algo mágico. Já fiz peça para duas pessoas e show para 45 mil. Se não fosse para contar ao público por que eu não estava mais em O Rei Leão, teria segurado para revelar a gravidez. Vivo um paradoxo. Ao mesmo tempo em que estou feliz e quero dividir todas as coisas, também fiquei mais prudente em relação ao que postar. Tanto é que não sei como vai ser na hora em que a Lara nascer, se já vou querer tirar uma foto e compartilhar.
Estar grávida blindou você de comentários maldosos na internet?
De forma alguma! Óbvio que vem uma onda de amor maior das pessoas que nos seguem, porque bastante gente acompanha nossa relação desde o início. E eu descobri que a gravidez engaja muito. Não lembro qual foi a última vez em que estive tão nos holofotes como agora. Tive isso na época de Malhação e PopStar [Jeniffer participou da novela adolescente em 2014 e venceu a segunda temporada do reality show da TV Globo em 2018], mas não era algo tão duradouro como está sendo na gestação.
Parei de ver coisas em portais de notícias, pois a regra do engajamento é você falar mal nos comentários. Uma vez, fui fotografada por um paparazzo numa praia do Rio de Janeiro. Só que ele pegou uns ângulos! Uma coisa é você tirar uma foto sua, outra coisa é você estar comendo um milho, sentada na cadeira, sendo fotografada. Li comentários como: “Nossa, a gravidez destrói a pessoa mesmo”. Como alguém tem coragem de criticar um corpo que está gerando uma vida?
Na jornada da sua gravidez, como o racismo apareceu?
Profissionalmente não tenho como garantir nada, porque é algo muito intrínseco em mim. Sempre tive que lidar com o racismo. Então é difícil eu me deparar com situações desafiadoras e, por algum momento, isso não me atravessar.
Algo sobre o qual até falei nas redes sociais é a fila preferencial. Todas as vezes em que eu e o Jean estávamos na fila preferencial, vinham pessoas e simplesmente entravam na nossa frente, sem perguntar nada. Teve uma situação em que eu estava esperando para fazer um raio-x, um senhor chegou, olhou para mim de cima a baixo e falou para o acompanhante: “A gente entra aqui na frente dela”. Aí eu disse: “Não, porque eu sou preferencial também.”
Como minha profissão sempre permitiu que eu viajasse muito, acabei me tornando diamante ou alguma categoria alta [nas companhias aéreas], o que dá preferência no embarque. E são raras as vezes em que eu estou esperando que alguém não vem dizer que estou na fila errada, mesmo antes da gestação. Aí não tem como dizer que não é racismo. A pessoa simplesmente olha para mim e acha que minha imagem não é compatível com uma posição igual ou acima da dela ali.
Quais os desafios de criar uma menina? Ainda mais considerando tudo o que você viveu em relação ao racismo?
São muitos. Ao mesmo tempo em que os pais têm grande responsabilidade na criação dos filhos, também acredito que os filhos já vêm com alguns traços de personalidade. O diálogo vai ser sempre primordial. Acreditamos no exemplo também. Uma criança não nasce racista. Ela vê pessoas falando sobre isso e começa a reproduzir esse comportamento.
Uma vez, num condomínio em que morávamos, aconteceu algo que diz muito sobre isso. O síndico me ligou falando que a filha do zelador, que é pretinha, tinha sofrido uma situação de racismo por parte de outra criança. E perguntou se eu não poderia conversar com ela. Eu respondi: “Acho que a pessoa que tem que ser chamada para conversar não é ela nem sou eu. Eu não tenho que virar para ela e falar que o racismo existe, que ela precisa aceitar e é isso. Você, como síndico, tem que chamar os pais dessa outra criança para conversar, porque ela não veio com essa ideia sozinha, ela ouviu alguma coisa e está reproduzindo”. Eu e Jean nos colocamos muito no lugar do outro e vamos ter isso com a Lara.
Em relação ao parto? Como está se preparando?
Sempre falei que, quando engravidasse, ia querer cesárea. Mas a maternidade mostra que não estamos no controle de nada, afinal, aquele serzinho que mal se formou na sua barriga já tem o poder de fazer você rever todos os seus conceitos! Desde a primeira consulta, decidi que seria parto normal. O que aconteceu comigo? Cinco minutos de conversa mudaram tudo! Foi até um exercício legal, porque sou muito controladora.
Vou tentar, porque acredito que é uma experiência que eu, como mulher, gostaria de passar. Só não estou com a cabeça de parto normal a todo custo. A partir do momento que houver algum tipo de risco, vamos fazer cesárea sem problema algum.
Montar o quarto da Lara é a realização de um sonho, né? Como foi sua infância?
Sou uma pessoa muito família, isso é algo que a gente quer que ela tenha. Mas minha infância foi bem mais simples. Eu morava na Cohab 1 [zona Leste de São Paulo] e minha casa só tinha dois quartos. Então, tudo isso acabou sendo uma realização, pois meu sonho era ter um quarto de princesa, o que não era possível. Eu ainda dividia o cômodo com meu irmão! Eu e o Jean falamos que a nossa filha vai nascer herdeira, olha que bom! Já vai ter casa própria, carro, uma empresa… Imagina como nossos ancestrais não estão felizes! Minha avó comenta: “Quando vejo você construindo suas coisas, dá uma sensação de que vencemos!”
PENSA RÁPIDO, JENI!
Um desejo de grávida
Eu quis comer jaca durante o inverno de São Paulo e foi uma saga. Ficamos duas semanas para conseguir encontrar uma!
Um momento marcante da gestação
O resultado do teste de farmácia.
Um ultrassom inesquecível
O primeiro em que deu para ver a Lara formadinha, mais ou menos com 12 semanas. Até então, a gente via um pontinho.
Um grande desafio da gestação
Lidar com a ansiedade. Já sou ansiosa e, na gestação, parece que você fica três vezes mais. Não só com a gravidez, com tudo.
Complete a frase: Eu espero que a Jeniffer mãe…
…não seja controladora (risos)!
Fotos: Renato Nascimento
Styling: Juliano e Zuel
Beleza: Camila Anac
Direção de arte: Kareen Sayuri
Assistente de styling: Matheus Spindola
Assistente de beleza: Shirley Afrozionhair
REVISTA DIGITAL BEBÊ
A terceira edição da revista digital BEBÊ acaba de ser lançada! Nossa publicação é trimestral e sempre chega repleta de conteúdos especiais sobre gravidez, parentalidade, educação dos filhos, saúde e muito mais.
Além desta linda entrevista com a Jeniffer, a publicação traz outras matérias imperdíveis:
– 10 dúvidas respondidas sobre obesidade infantil (uma emergência em saúde pública, de acordo com especialistas).
– Como todos nós podemos fazer da internet um espaço mais seguro para as crianças.
– O desenvolvimento motor do bebê no primeiro ano de vida (uma coluna escrita pelo pedagogo, psicopedagogo e Mestre em Educação Junior Cadima).
– Tocofobia: o medo irracional de engravidar é um transtorno psiquiátrico que afeta a vida de muitas mulheres.
– Os cuidados essenciais com as crianças na praia e na piscina (afinal, a ideia é curtir o calor com tranquilidade).
A edição número 3 da revista digital de Bebê está disponível no GoRead. ACESSE AQUI!