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Acabei de descobrir que estou grávida. E agora?

Conversamos com especialistas e preparamos um guia para que você saiba exatamente o que fazer para cuidar do corpo e da mente ao saber que vai ter um bebê

Por Ketlyn Araujo
2 jan 2021, 10h00

Existem dois principais cenários quando a mulher descobre uma gravidez: para quem estava tentando engravidar há um tempo, a notícia é responsável por euforia e alegria, além de alívio por saber que o desejo de ser mãe será realizado. Para quem não tinha planejado ter um bebê, mas passa a querer essa mudança na vida, a novidade pode assustar um pouco e gerar algumas dúvidas, que tendem a diminuir ao longo dos meses mediante acompanhamento. Em ambos os casos, porém, surgem questões – vamos combinar que, na prática, até a mais planejada e informada das gestantes pode se sentir um pouco perdida assim que entende, de fato, que será mãe.

Antes de mais nada, respire (e não deixe de celebrar a novidade com as pessoas mais próximas). Com auxílio dos experts Evelyn Prete, ginecologista e obstetra, Fernando Boldrin, ginecologista e obstetra do Grupo Sabin de Medicina Diagnóstica e especialista em reprodução humana, e Leopoldo Cruz Vieira, ginecologista, obstetra e mastologista do Hospital HSANP, preparamos um guia completo para que você saiba exatamente quais os próximos passos em relação aos cuidados com a saúde física, mental e emocional se você acaba de descobrir que está grávida.

Vá ao seu médico de confiança ou procure por um profissional especializado

Dr. Leopoldo explica que, por pura falta de conhecimento ou informação, muitas mulheres acabam procurando um pronto-socorro quando descobrem que estão grávidas, pensando que a primeira consulta como gestante será feita já naquele momento. O melhor a fazer, na verdade, é procurar um ginecologista e obstetra de sua confiança, que seja capacitado para realizar o pré-natal e tirar todas as dúvidas nesta etapa. Se possível, escolha um especialista que atenda em um consultório próximo à sua residência, para facilitar o acesso.

“Costumo dizer para as futuras mamães manterem a calma. Controlar a ansiedade, diminuir a euforia e, mesmo no caso de uma gravidez não planejada, procurar estar tranquila é importante para o bem do bebê. É importante que a paciente entenda que o pré-natal representa uma série de etapas a serem cumpridas, com prazos que precisam ser corretamente executados, pois tudo tem o período correto a ser realizado”, diz o médico, que enxerga o pré-natal como um trabalho em conjunto entre médico e paciente, para evitar e tratar problemas que possam surgir durante os próximos meses. Caso a gestante não esteja se sentindo bem sobre a ideia da gravidez, deve procurar ajuda profissional, e um pré-natalista é o médico indicado para isso.

Para o Dr. Fernando, uma dúvida bastante comum em mulheres que acabaram de engravidar é sobre como saber se o bebê tem alguma má formação genética, o que é diagnosticado por meio do ultrassom morfológico, feito durante o primeiro trimestre (entre 11 e 14 semanas de gestação) e indispensável – nele, são procurados sinais indicativos de problemas genéticos. Segundo o especialista, nesta primeira fase, a partir das dez semanas de gravidez, a mulher também deve fazer o chamado NIP test, um exame de sangue feito na mãe para procurar células do feto, realizando assim o exame genético do bebê.

Na mesma linha, Dra. Evelyn reforça que muitas mães, logo no início, se preocupam com a saúde do bebê, querendo saber mais sobre hábitos permitidos e proibidos durante a gestação, o que envolve desde alimentação até uso de medicamentos. Para ela, os melhores hábitos para manter uma gestação saudável, quando planejada, começam ainda antes da mulher engravidar, já que problemas como hipertensão e diabetes podem atrapalhar bastante o desenvolvimento saudável do bebê.

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A partir de agora, preste mais atenção na alimentação

É importante que gestantes realizem todas as principais refeições do dia, de forma equilibrada e fracionada, para que isso vire hábito e elas possam seguir com a gravidez até o fim de maneira saudável, sem maiores problemas. Se possível, é recomendado que a grávida também procure por um nutricionista, para que a alimentação seja sempre diversificada e que a gravidez seja monitorada por diferentes especialistas.

Por recomendação médica, o prato da nova mamãe deve ser colorido e poderá conter: folhas verdes escuras diariamente, frutas, leguminosas de todas as cores, feijões diversos – como branco, fradinho e carioca -, oleaginosas como a castanha-do-pará (fonte de selênio) e alimentos integrais, que são fonte de fibras. Caso a mulher consuma carne, vale investir em carnes magras, vísceras e em peixes não criados em cativeiro (que têm menores concentrações de metais pesados e mais ômega-3). Para completar, é importante que a grávida passe a ingerir de dois a três litros de água por dia, e não deixar de urinar sempre que tiver vontade, para evitar infecções.

Se necessário, gestantes podem complementar a dieta com o uso de suplementos vitamínicos, como vitamina D, Ômega-3, ferro e ácido fólico.

“Minha recomendação é a utilização do ácido fólico, pois ele previne as doenças do tubo neural, ou seja, as doenças do sistema nervoso central do bebê, que está em formação nesse período. Há também o metilfolato, que é um outro formato do ácido fólico, podendo chegar a 100% de absorção pelo corpo. Atualmente, temos prescrito o metilfolato como vitamina inicial, e as demais são descritas após a realização de exames, de acordo com a necessidade de cada pessoa”, sugere Leopoldo.

Por conta da gestação ser um processo complexo, que envolve também o sistema imunológico, deve-se evitar o consumo de açúcar durante todo o período, já que ele é capaz de prejudicar bastante o sistema imune materno, tornando a grávida mais propensa a ter infecções.

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Chás pretos e verdes também não são indicados, pois prejudicam a absorção de ferro e podem ser maléficos para o desenvolvimento do bebê. Alimentos industrializados e embutidos, que possuem altas concentrações de conservantes, sódio e gordura trans, bem como gorduras e frituras, que aumentam o colesterol ruim (LDL) e podem levar ao desenvolvimento de hipertensão, diabetes e outros distúrbios cardiovasculares, também devem passar bem longe do cardápio da nova gestante. Por fim, consumir refrigerantes é igualmente prejudicial, assim como hábitos como tabagismo e ingestão de bebidas alcoólicas.

Movimente o corpo com responsabilidade e cuidado

Evelyn ressalta que, apesar de não existir um consenso sobre a proibição total ou não de exercícios físicos durante a gravidez, a orientação médica é de que gestantes sigam com o ritmo de atividade física que costumavam ter na rotina antes de ficarem grávidas. Por exemplo, se a gestante era uma atleta de alto rendimento antes de descobrir que estava grávida, ela pode continuar praticando as mesmas séries de exercícios, desde que respeitando os limites de acordo com o avanço da gestação.

“Se a paciente está habituada à prática de atividades físicas, eu não proíbo, mas friso que esse não é o momento de exagerar – pelo contrário, é o período de fazer atividades de manutenção, exercícios aeróbicos sem exceder a frequência cardíaca, não realizando treinos para uma grande queima calórica”, corrobora Leopoldo.

Já se a mulher era sedentária antes de engravidar, o recomendado é que ela adote exercícios aeróbicos de intensidade leve a moderada. A mesma regra vale para praticantes de musculação: evite altas cargas e exercícios extenuantes. Em caso de desconforto, seja qual for, sensação de contração ou, então, episódios de sangramentos, os exercícios devem ser suspensos, e retomados apenas sob aval do médico.

Cuide da saúde física…

Converse com seu médico para saber mais sobre quais exames você deve fazer e por quê. Entre os principais, estão os de análises clínicas e os de doenças infectocontagiosas. Os mais comuns, que devem ser realizados nos três trimestres da gravidez, são: investigação de diabetes, pesquisa de bactérias na vagina, anemia, função renal e do fígado, sorologias de hepatites (B e C), sífilis, HIV, rubéola, toxoplasmose, Zika e citomegalovírus. Devem ser feitos, ainda, exames de urina e de fezes, ultrassom transvaginal para verificar como está o saquinho gestacional e o crescimento do embrião e, por último, o ecocardiograma da mãe (já que o coração é muito exigido durante a gestação e também no dia do parto).

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Ao longo da gravidez, é necessário que o médico confira a carteira de vacinação da gestante, que deve atualizar as vacinas faltantes. Se a mulher ainda não tiver sido imunizada contra a Hepatite B, e não tiver recebido a vacina contra a Influenza A no último ano, deve receber ambas as vacinas após o primeiro trimestre de gravidez. Além disso, todas as gestantes, incluindo as que já foram vacinadas em gestações prévias, devem tomar a tríplice bacteriana, que protege contra difteria, tétano e coqueluche, a partir da vigésima semana de gestação. Dependendo da época do ano, a vacina contra o vírus da H1N1 também pode ser administrada.

Não se esqueça de que existem outras doenças em circulação, como a Covid-19, dengue e zika. Ou seja, a gestante deve tomar o cuidado de usar repelentes, evitar aglomerações e aderir à máscara facial e ao distanciamento social sempre que possível.

… sem se esquecer da saúde mental

Grávidas, por fim, devem também cuidar da saúde mental, ainda mais após um ano atípico como o de 2020. Evelyn sugere que, caso essa seja uma gestação saudável no aspecto mental, com um ambiente familiar equilibrado e boa rede de apoio, a mulher pode usar a psicoterapia como prevenção e cuidado, já que ela não serve apenas para tratar questões pontuais – isso independentemente de uma gravidez.

“Agora, se a mulher sofre ou já sofreu por conta de distúrbios psicológicos ou psiquiátricos, como depressão, ansiedade e tentativas de suicídio, ou se ela está inserida em um ambiente familiar desequilibrado ou enfrentando problemas conjugais, essa gestante deve ser acompanhada por um profissional durante todo o período gestacional”, reforça a médica.

O mesmo vale para o pós-parto e puerpério: a psicoterapia também é essencial para que a mulher possa lidar tanto com as alterações de humor ocasionadas pela regressão hormonal e pelos níveis pré-concepcionais, quanto com toda a adaptação à nova rotina com o bebê e questões relacionadas à autoestima.

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