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Uso de telas para acalmar a criança pode levar à desregulação emocional

Segundo estudo, o efeito imediato pode parecer positivo, mas a longo prazo as consequências interferem na forma de lidar com os sentimentos

Por Carla Leonardi
Atualizado em 4 jan 2023, 17h01 - Publicado em 4 jan 2023, 16h40

Quando a criança está chorando ou passando por uma crise de birra, é natural que os adultos por perto procurem uma forma de acalmá-la, sobretudo quando ela ainda é pequena e precisa de ajuda para lidar com as emoções. Nessa busca por uma distração, às vezes as telas surgem como aliadas da família e, realmente, podem ter o efeito esperado. O problema é que, além dele, outras consequências vêm, como o aumento da desregulação emocional – foi o que apontou um estudo desenvolvido por pesquisadores da Michigan Medicine, nos Estados Unidos, e publicado no JAMA Pediatrics.

O trabalho observou 422 pais e o mesmo número de crianças de 3 a 5 anos entre agosto de 2018 e janeiro de 2020 (ou seja, antes da pandemia de Covid-19, que acentuou ainda mais o uso de telas). Os estudiosos levantaram informações sobre a frequência com que dispositivos eletrônicos eram utilizados para acalmar os pequenos e analisaram sintomas de reatividade ou desregulação emocional.

Os resultados apontaram que a mudança repentina de humor acaba não dando à criança a chance de desenvolver formas de lidar com as fortes emoções, mostrando-se mais prejudicial em meninos e, principalmente, naqueles que já têm hiperatividade ou são caracterizados com “personalidade forte”.

“O uso frequente de dispositivos móveis para acalmar crianças pequenas pode prejudicar suas oportunidades de aprender estratégias de regulação emocional ao longo do tempo”, diz a conclusão do estudo. Com isso em vista, os pesquisadores encorajam a busca por outras abordagens que ajudem os pequenos a atingir a calma sozinhos, para que desenvolvam essa habilidade aos poucos.

Criança-chorando
(salim hanzaz/Getty Images)

Ajudar a criança a lidar com as emoções

A publicação destaca que a primeira infância é um período crítico para o desenvolvimento de processos emocionais e cognitivos, como a regulação emocional, que chegam a ser mais importantes até para o sucesso escolar do que a “inteligência cristalizada”, por exemplo, já que permitem que as crianças permaneçam calmas, focadas e sejam flexíveis diante de novos desafios.

“Especialmente na primeira infância, o uso frequente de dispositivos para acalmar o nervosismo pode tirar a oportunidade de desenvolver estratégias independentes e alternativas de autorregulação”, afirma o artigo.

A líder do estudo, Jenny Radesky, pediatra e especialista em desenvolvimento comportamental do Hospital Infantil C.S. Mott, da Universidade de Saúde de Michigan, disse em matéria publicada no site da instituição que, embora o resultado inicial possa parecer positivo, a longo prazo ele não será. “É possível que os cuidadores sintam um alívio imediato no uso de dispositivos se eles reduzirem de forma rápida e eficaz os comportamentos negativos e desafiadores das crianças. Isso é recompensador para pais e filhos e pode motivar a continuação desse ciclo, já que o hábito de usar essas ferramentas para gerenciar situações complicadas se fortalece com o tempo, à medida que a demanda das crianças por essa estratégia também aumenta. Assim, quanto mais os dispositivos são usados, menos prática as crianças – e seus pais – têm na busca por outras estratégias de enfrentamento“, afirma.

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A especialista ainda aponta algumas formas alternativas de lidar com os comportamentos desafiadores dos pequenos, como técnicas sensoriais (abraçando alguém, amassando algo, manuseando uma massinha…), o ato de nomear as emoções (ensinando-os a dizer o que e como estão sentindo) e a mudança de foco (ao dizer, por exemplo: “Você não pode bater em ninguém, mas pode nesta almofada”). Além dessas possibilidades, é possível que cada família encontre o que funciona melhor com cada criança. A ideia principal é dar ferramentas para que ela aprenda a lidar com os sentimentos e não apenas fazê-la se acalmar rapidamente sem processar as emoções.

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