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Os olhos da criança podem ser afetados pelas telas de celulares e tablets?

As telinhas de aparelhos eletrônicos estão tão presentes para os pequenos quanto para nós. Ainda assim, é preciso tomar cuidado com o seu uso excessivo!

Por Isabelle Aradzenka
4 Maio 2022, 17h17

É fato que o ambiente digital não se desvincula mais da rotina das famílias, marcando presença constante também, em maior ou menor escala, na vida das crianças. Mas normalizar as telinhas no dia a dia, não é o mesmo que dizer que elas são inofensivas, sobretudo quando falamos da saúde dos olhos, a nossa ponte de interação com o virtual.

“Quando estão na posição de descanso, os olhos estão focados para longe. Para conseguirmos trazer o foco próximo a nós, a musculatura dos olhos precisa ser contraída. Então, à medida que a criança olha para um celular, um computador ou qualquer item que esteja perto, o trabalho e o esforço dos olhos são muito maiores do que algo à distância”, explica Hallim Feres Neto, oftalmologista membro do Conselho Brasileiro de Oftalmologia e diretor da Prisma Visão.

Então, isto quer dizer que olhar para um livro e um tablet vai afetar os olhos do pequeno da mesma forma? Na prática, não é bem assim que funciona…” Além do esforço ser excessivo ao utilizar os eletrônicos – devido à distância e à luz dos aparelhos, que forçam a musculatura -, o que acaba acontecendo também é que é um esforço ininterrupto. As crianças geralmente não têm paradinhas de descanso para fazer outra coisa quando estão jogando. Por isso, as telas acabam sendo muito mais prejudiciais do que uma atividade de desenho ou pintura, que também é uma ação de perto, por exemplo.

Como as telinhas afetam os olhos

Não há dúvida que os cenários virtuais são construídos para serem imersivos. Basta deixar um aparelhinho eletrônico com a criança e você perceberá como ela ficará mais paradinha e quieta. É graças a essa atenção constante que as telinhas exigem, que a lubrificação dos olhos fica prejudicada. “Estudos indicam que piscamos cerca de 40% menos quando estamos concentrados em uma tela”, completa Hallim.

Em consequência, o olho poderá ficar mais seco. Além disso, o próprio esforço excessivo da musculatura contraída por muito tempo vai levar a reclamações de:

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  • Olhos vermelhos;
  • Dores de cabeça;
  • Cansaço;
  • A criança começa a apertar os olhinhos para olhar de longe (início do sinal de uma miopia).
Menina segurando a cabeça
(IAN BODDY/SPL/Getty Images)

Pois é, não poderíamos deixar de mencionar a relação das telas com a miopia – doença considerada uma epidemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2021. O oftalmologista explica que já existem estudos que associam o uso dos aparelhos ao aumento do distúrbio.

Em janeiro de 2021, uma pesquisa conduzida na China e publicada na revista científica JAMA Ophthalmology acompanhou cerca 123 mil crianças entre 2019 e 2020. No primeiro ano, 5% das participantes de 6 a 8 anos apresentavam o distúrbio. Já no ano seguinte, a taxa no mesmo grupo cresceu para 21%, um acréscimo de quase quatro vezes no índice.

“Tudo isso, é sinal de que o olho está cansado, começando a prejudicar a visão por conta do tempo excessivo de tela. Tem muitas crianças inclusive que chegam com queixa de dor de cabeça, mas essa sensação não aparece na escola e sim depois de usar o celular ou o videogame”, completa o especialista.

Qual é o tempo máximo de exposição?

Para desconfiarmos se o pequeno está exagerando no uso das telinhas, basta os responsáveis prestarem atenção no comportamento do filho. “Além dos sintomas de relação direta, a criança com muito tempo de tela vai acabar brincando menos e passar pouco tempo praticando esportes e outras atividades”, completa Hallim.

Pelas recomendações da Academia Americana de Pediatria, há um limite máximo de interação com as telas, mas o oftalmologista orienta que o tempo de exposição não seja contínuo. “O tolerável é que a exposição seja aos poucos. Quando falamos de uma hora de uso dos eletrônicos ao dia, seriam três momentos de 20 minutos para a vista poder ter um descanso”, completa. Veja o que recomenda a Academia:

  • Crianças até 2 anos não devem ter acesso a tela (apenas para se comunicar com conhecidos através de chamada de vídeo e acompanhadas por um adulto).
  • Até os 5, a exposição deve ser de até uma hora por dia (com três intervalos de 20 minutos)
  • A partir dos 6 anos, deve-se limitar o uso a duas horas (quatro período de, no máximo, 30 minutos)

Além disso, é indicado que todas as telas sejam desligadas durante refeições, passeios e 30 minutos antes de dormir. Sem falar que o ideal é que os pais não utilizem os aparelhos eletrônicos como “pacificadores” para o pequeno, ou seja, apenas para mantê-los entretidos.

“Temos que lembrar que as crianças imitam a gente. Se queremos que eles tenham relação saudável com os eletrônicos, nós temos que ter antes. Qualquer tratamento começa dentro de casa tentando regular o tempo de tela”, finaliza o especialista.

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