Tudo que você precisa saber sobre a vacina do sarampo para bebês
Menores de um ano estão sujeitos a versões mais graves da doença. Saiba onde a vacina está sendo aplicada e como proteger a família.
O Ministério da Saúde anunciou que todos os bebês com idade entre seis meses e um ano devem ser imunizados contra o sarampo. A doença, transmitida por um vírus, estava erradicada no Brasil desde 2016, mas voltou a circular.
A regra vale para todo o país, mesmo em cidades que não tem casos registrados. A dose é considerada extra. Ou seja, não substitui as duas que devem ser aplicadas depois do primeiro aniversário.
Por que a recomendação foi feita?
Antigamente, a vacina era oferecida em dose única aos seis meses e, depois, passou a ser oferecida aos nove meses para, enfim, chegar à recomendação atual: duas doses, aos 12 e 15 meses. “No primeiro ano de vida, as mães vacinadas ou que tiveram a doença na infância passam para as crianças os anticorpos, através da placenta e do leite”, comenta Celso Granato, infectologista do Fleury Medicina & Saúde.
Assim, se a criança tomasse a vacina durante o aleitamento, a dose poderia ser perdida pois os anticorpos maternos eliminariam o vírus contido nela, antes que o sistema de defesa da criança fosse sequer ativado. “Ela era aplicada nos bebês mesmo com o possível desperdício, pois a incidência da doença era alta no passado. Como agora, em época de surto: mesmo que algumas doses sejam de fato perdidas, o risco de não vacinar é maior”, completa o médico.
Quem deve tomar?
A prioridade é para os bebês dos seis meses aos onze meses e 29 dias (que recebem a chamada “dose zero”), mas pessoas com idade entre 1 e 29 anos que ainda não tomaram as duas doses previstas no calendário de imunização também devem se vacinar. Caso precise, quem estiver fora desta faixa etária prioritária pode procurar os postos para se informar sobre a necessidade da vacinação.
Já as crianças que receberam as duas doses depois do primeiro ano de vida estão protegidas – a eficácia da vacina é de 98%. É importante que os bebês sejam imunizados mesmo que não haja casos no seu município (veja a lista de cidade em surto aqui), pois o vírus se espalha facilmente por meio de viajantes – e São Paulo, que recebe gente de todo o Brasil, é a cidade com mais casos.
Gestantes não podem tomar a vacina, por isso é ideal que as pessoas ao seu redor estejam devidamente imunizadas. Caso ela tenha contato com alguém que pegou a doença, pode recorrer ao hospital para receber uma dose do anticorpo pronto para combater o sarampo.
Se o bebê toma leite materno depois dos seis meses, também precisa vacinar?
Sim. Neste caso, ele tem proteção em dobro. “O sarampo pode ser muito grave e não é possível saber se o bebê está ou não protegido pelos anticorpos da mãe, então é melhor garantir”, resume Granato.
Onde tomar?
Em unidades básicas de saúde (UBS) do país e durante mutirões em escolas e outros espaços públicos. Em São Paulo, a vacinação nas escolas, creches e universidades municipais e estaduais ocorre até dia 31 de agosto de 2020.
O sarampo pode matar?
Pode sim, especialmente os mais novos, cujas defesas ainda estão em desenvolvimento. Para se ter ideia, em 2017, a doença causou quase 110.000 mortes no mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde. Crianças pequenas desnutridas, em especial com deficiência de vitamina A, estão em maior risco.
Mesmo que a situação não evolua desta maneira, há complicações, como dano cerebral, cegueira e perda de audição. “Podem ainda ocorrer infecções secundárias, como sinusites, otites e pneumonias”, alerta Granato.
Como se pega sarampo?
O vírus se transmite muito facilmente pelo ar, por meio de partículas virais liberadas por secreções como um espirro, coriza ou saliva. Os primeiros sintomas são febre alta, dor no corpo, tosse persistente, mal estar, irritação ocular e corrimento no nariz. Eles surgem até duas semanas depois do contato com o vírus. Em seguida, aparecem as manchinhas vermelhas características. A pessoa infectada começa a transmiti-lo cerca de cinco dias antes e até cinco dias depois das manchas aparecerem.
A vacina é segura para bebês?
Sim. Infelizmente, o sarampo voltou a assustar pois os índices de cobertura vacinal caíram não só no Brasil, mas no mundo. E as fake news sobre o assunto não ajudam. “A segurança da vacina é atestada em diversos estudos, e a história que a relaciona ao autismo era comprovadamente mentira”, destaca o médico.
O risco de reações adversas é pequeno. Em 5% dos casos, pode haver pequenas irritações locais, como dor, vermelhidão e inchaço, pois a injeção é subcutânea. Além disso, entre 5 e 15% das pessoas podem ter sintomas leves de alguns dos componentes da vacina, como um mini sarampo, mas eles passam em pouco tempo.
O que mais posso fazer para proteger meus filhos?
A vacina é a maneira mais eficaz de impedir que a doença apareça. “Fora isso, talvez evitar expor as crianças não vacinadas a locais fechados com muita aglomeração de pessoas, pois esse ambiente favorece a transmissão do vírus”, ensina Granato. Os médicos também recomendam deixar o pronto-socorro só mesmo para situações de urgência e emergência.
O vírus que circula por aqui é diferente?
O sarampo tem oito subtipos e mais de vinte genótipos. O que está circulando aqui é o D-8, em alguns casos com pequenas mutações genéticas. A vacina é feita com o subtipo A, mas na práticas os vírus se comportam de maneiras muito parecidas, então a vacina protege contra todos.
Sarampo não é a única preocupação
Com os baixos índices vacinais, há um risco real de doenças já erradicadas do país voltarem, como a rubéola e até mesmo a poliomielite, que causa paralisia infantil e morte. O Ministério da Saúde anunciou que fará uma campanha multivacinação em outubro para atualizar a carteirinha de crianças e adultos, mas ainda não deu detalhes de como ela será feita.