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Vacinação registra queda histórica e médicos alertam para volta de doenças

Números repercutiram na imprensa nacional e são reflexo de um descaso que alcança diferentes esferas da sociedade. Entenda a situação!

Por Chloé Pinheiro
25 jun 2018, 12h21

O índice de cobertura vacinal de crianças em bebês em 2017 é o menor desde 2002, como indicam dados do Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde. Para se ter ideia, a proteção contra a poliomielite, doença que causa paralisia, caiu de 98% em 2015 para 77% no ano passado, bem longe da meta, que é vacinar 95% das crianças  no primeiro ano de vida.

O fenômeno não é novo, uma vez que 2016 já havia registrado o pior índice da década e as quedas estão sendo observadas desde 2015.  A primeira justificativa para ele é o distanciamento atual de males que já assolaram o país, mas hoje estão erradicados ou ao menos bem controlados.

“As pessoas não se sentem tão em risco contra essas doenças e o profissional de saúde da nova geração, por sua vez, também não fica preocupado nem cobra como antes”, comenta Renato Kfouri, Presidente do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

O problema é que basta um descuido para que esse cenário deixe de ser tão estável como parece. Veja o sarampo. Em 2016, ele foi erradicado das Américas, pois não houve registro de infecção pelo vírus durante 12 meses. Um ano depois, entretanto, em 2017, sua cobertura vacinal ficou abaixo dos 85% no Brasil.

Ao mesmo tempo, na Europa, onde o movimento antivacina é mais presente que no Brasil, 19 mil casos de sarampo foram registrados em 2016, com 44 mortes. E o Rio Grande do Sul já registrou em 2018 seis casos da doença, que parece leve mas pode ter complicações graves, sendo que a primeira notificação veio justamente do caso de um menino de um ano que havia voltado da Europa.

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Hoje o Brasil possui 293 casos confirmados de sarampo, todos relacionados à “importação” do vírus, segundo a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). Mas, sem vacinação, não dá para impedir que esse e muitos outro microrganismos nocivos que circulam pelo mundo provoquem uma epidemia “fabricada nacionalmente”. E isso assusta a todos. Na semana passada, o Ministério da Saúde emitiu um alerta sobre um surto de poliomielite na Venezuela, país vizinho ao Brasil.

O que atrapalha

Além da questão da percepção sobre a importância da vacina, a situação nacional certamente não ajuda. No ano passado, vacinas importantes faltaram em todo o país, o que fez as entidades emitirem um alerta e o governo zerar impostos para importar as doses necessárias.

“Se os pais vão ao posto de saúde para vacinar os filhos e não encontrarem a vacina, poderão ter dificuldades de voltar depois, especialmente porque esses locais funcionam de segunda à sexta em horário comercial, então a pessoa perde o dia de trabalho”, aponta Kfouri, que destaca ainda a quantidade de vacinas como um fator que diminui o engajamento da população.

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“São várias doses de várias vacinas diferentes, então o calendário fica cheio e complicado para alguns pais”, expõe. Já os movimentos antivacina, que crescem fora do país, aparentemente tem pouca responsabilidade aqui. “A contribuição das fake news e boatos sobre as vacinas serem perigosas ocorre principalmente nas classes socieconômicas mais elevadas, que são uma parcela menor da população”, opina Kfouri.

Desafios e soluções

O fato do déficit ser observado nos menores de um ano é ainda mais preocupante. “Nessa idade, o sistema imunológico ainda está imaturo, então a criança não vacinada pode não só ficar doente mais vezes como a doença pode se manifestar de maneira pior”, alerta o médico.

Seja perda de importância ou vilanização, ambos precisam ser contornados para que as vacinas voltem a reinar entre as crianças brasileiras. Afinal, o país era até poucos anos referência em programas nacionais de imunização. E a saída para reverter este cenário é falar sobre o assunto e reforçar sua importância, além de facilitar o acesso às doses.

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“A cultura de se vacinar só sob risco iminente, como no caso da febre amarela, é muito forte, então precisamos entender que a vacina é uma ação preventiva, antes que os casos ocorram”, lembra Kfouri. Caso esse resgate não aconteça, as consequências podem ser sérias.

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