Roblox vira mania entre crianças pequenas: será que é seguro?
Se seu filho já joga ou tem pedido para entrar na plataforma, veja aqui os pontos de atenção para que a experiência seja positiva e segura
Quando o pequeno Hiromasa Tamai completou 6 anos, os amiguinhos todos se reuniram em volta da mesa, que tinha vários bonecos e um painel atrás, que explicava o tema: Roblox. Se você tem filhos pequenos, esse nome provavelmente não é estranho. A plataforma de jogos virou mania entre as crianças e tem conquistado um público cada vez mais jovem. Hiro, como é apelidado, conheceu esse universo aos 3 anos, segundo sua mãe, Mie. “Ele baixava uns joguinhos no celular desde os 2. Com 3, instalou sozinho o Roblox e começou a brincar”, conta ela. “Ficamos surpresos porque ele sabia jogar bem, sem a necessidade de ler. Só agora ele está sendo alfabetizado”, afirma.
Mas, afinal, o que é esse tal de Roblox? Por que as crianças gostam tanto assim? O Roblox não é um jogo, em si, mas uma plataforma aberta em que os internautas podem criar seus próprios games. Além de inventar mundos virtuais, os jogadores podem interagir em experiências criadas por outras pessoas. Ao entrar, o usuário cria um avatar e participa desses ambientes.
Por um lado, o aplicativo estimula a criatividade e a interação. “Os jogadores constroem suas próprias experiências, objetos, desenham roupas e suas casas virtuais”, explica Laura Higgins, diretora de Segurança da Comunidade e Civilidade do Roblox. Segundo ela, há muitas histórias de crianças e adolescentes que se inspiraram em suas atividades na plataforma para escolher a profissão que querem seguir e até empreender.
Eles perceberam, inclusive, um crescimento do uso do Roblox por meninas. “Em 2021, vimos um aumento de 353% de meninas na nossa comunidade, em comparação a 323% de meninos, pela primeira vez”. Para Laura, o estímulo às interações e criações ajudam as crianças e jovens a se interessarem e aprenderem habilidades em áreas como programação, design digital, ciência, tecnologia, engenharia e matemática, por exemplo. Uma sementinha importante para profissões com grande potencial não só para a atualidade, como para o futuro. Parece promissor!
Mas… Será que o Roblox é seguro para as crianças?
Apesar de ser uma plataforma que pode ajudar a dar um empurrãozinho no desenvolvimento de várias características positivas para o seu filho agora (e no amanhã), o Roblox, como outras plataformas do tipo, é um ambiente virtual e, como tal, também exige atenção dos pais.
Afinal, não é uma atividade passiva, como um filme ou desenho que está ali e ela simplesmente assiste ou ainda um game comum, apenas para jogar, ganhar e perder. Os ambientes virtuais são vivos, criados por outras pessoas e, neles, a criança interage com vários jogadores, muitos deles desconhecidos. Você não deixaria seu filho sozinho, em um lugar que nunca viu, com estranhos, certo? A máxima vale também para a internet.
A partir de que idade jogar?
Apesar de muitas crianças começarem a jogar ainda bem pequenas, como é o caso de Hiromasa, entre vários outros pelo mundo, a plataforma é oficialmente recomendada para maiores de 10 anos, pela classificação indicativa. Na Apple Store, ele é indicado para crianças de 12 anos ou mais.
“Mais do que a idade, o critério aqui é a maturidade da criança e as habilidades dela para lidar com riscos online”
Juliana Cunha, psicóloga e diretora de projetos especiais da Safernet
Mas o que conta mesmo na hora de decidir se você deixa ou não seu filho brincar vai muito além da idade, segundo a psicóloga Juliana Cunha, diretora de projetos especiais da Safernet, organização não governamental focada no enfrentamento a crimes e violações aos Direitos Humanos na Internet. “O importante é que os pais conheçam o jogo e as ferramentas de controle parental e que tenham conversas regulares sobre segurança na Internet, o que fazer em situações de contato com desconhecidos, como reportar conteúdo, o que é inadequado para idade do seu filho, como lidar com conteúdos de violências e situações de bullying ou outros conflitos que podem acontecer nestes ambientes”, diz ela.
Como a criação de conteúdo é livre, dentro da plataforma, há vários jogos para todas as idades por ali – até mesmo aqueles voltados para crianças bem mais novas do que sugere a classificação indicativa do produto. Por isso, segundo a empresa, há ferramentas como alguns tipos de controle parental e restrições, que permitem, por exemplo, que os pais limitem o acesso dos filhos apenas às experiências que foram verificadas como apropriadas para crianças pela curadoria digital e humana do Roblox.
Fora isso, é preciso lembrar – de novo – que o mundo virtual inspira tantos cuidados quanto o real. Para Juliana Cunha, mais do que simplesmente permitir, proibir ou controlar, os adultos precisam compreender os filhos. “É importante, primeiro, dar espaço e escutar o que as crianças falam. Às vezes, os adultos querem logo dizer o que é certo ou não, ou emitem juízos sobre esses jogos antes de ouvir o que os filhos pensam e, com isso, podem prejudicar essa abertura para o diálogo. É fundamental que, nessas conversas, os filhos percebam que não precisam ter medo de contar se algo der errado ou se houver algo mais preocupante”, reforça Juliana.
“O fundamental é que a segurança na internet seja uma conversa em família, algo rotineiro, que aconteça de forma aberta e sem necessariamente precisar ocorrer algo preocupante para dar início”, complementa.
Seria um “Metaverso infantil”?
Na plataforma do Roblox, a ideia geral é ter um avatar e interagir com as experiências criadas por outros usuários, além de inventar as suas próprias. É como uma vida paralela, com um personagem, controlado pelo jogador. É uma realidade virtual, mesmo, como outros tantos jogos do tipo, como The Sims e PK XD. Mas, em uma idade em que as crianças ainda não têm ainda tão separadas racionalmente a fantasia e a realidade, será que isso não pode confundir e causar prejuízos ao desenvolvimento e às experiências infantis?
“A criança vai, aos poucos, construindo um senso de realidade”, explica a psicóloga Juliana Cunha. “É claro que jogos de simulação, realidade virtual e realidade aumentada podem confundir, mas isso tem a ver também com diferenças individuais ou momentos de maior vulnerabilidade que alguns jovens podem estar atravessando. Isso pode fazer com que eles só queiram viver a ‘realidade’ daquele game. O importante é observar os sinais de que aquela atividade pode estar prejudicando outras áreas da vida dessa criança”, orienta.
Por isso, fique de olho no comportamento do seu filho e em possíveis alterações, para tentar entender se elas podem estar relacionadas a algum desequilíbrio no uso dos jogos. “Se a criança deixa de fazer outras coisas, que antes eram prazerosas para ela ou se há, por trás deste uso problemático, alguma questão de saúde mental, como uma depressão, fobia ou inibição, por exemplo, isso tudo pode interferir na experiência que esses jovens terão nestes ambientes”, aponta a especialista da Safernet.
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“Mas todo mundo na escola joga!”
“Os pais, muitas vezes, se sentem pressionados a deixar seus filhos jogarem só porque ‘todos os amigos estão jogando’. A primeira coisa que eu recomendo, se você não tiver certeza, é passar algum tempo brincando com seus filhos”, sugere Laura, diretora do Roblox. “Isso dá a você a chance de ver por si mesmo como é, de verdade. E se você decidir que ainda não está na hora, estará em uma boa posição para explicar por que tomou essa decisão”, diz ela.
Jogar junto é a principal recomendação para os pais entenderem em que universo o filho está navegando, as possibilidades que a plataforma oferece e também os potenciais riscos. Além de poder ser um momento divertido para a família. Mie, a mãe de Hiromasa, conta que agora não é só a criança que gosta de jogar no Roblox, não. “Ele mesmo insistiu para jogarmos com ele. Hoje, somos fãs aqui em casa e é ele quem nos ensina a jogar. Até a avó começou a jogar!”, relata.
Para ajudar você a cuidar da segurança e da saúde física e emocional do seu filho, ao interagir com plataformas virtuais como essa, separamos aqui pontos importantes aos quais os pais devem estar atentos, com orientação de Juliana Cunha, da Safernet, e de Laura Higgins, do Roblox. Confira:
– Conheça os controles parentais da plataforma e certifique-se de usá-los:
A maioria das plataformas de jogos oferece controles parentais. No Roblox, por exemplo, você pode restringir a conta do seu filho, limitando os contatos, os gastos (porque, sim, há compras dentro da plataforma) e bloquear as configurações, para que elas não possam ser alteradas sem o seu conhecimento.
– Oriente as crianças para que não enviem informações pessoais, fotos ou vídeos:
Um dos perigos da internet, sobretudo para crianças menores, que, às vezes, não têm muita noção dos riscos, é o compartilhamento de informações e dados, além de fotos ou vídeos, que podem ser usados por pessoas mal intencionadas. Converse com seu filho, explicando por que ele não deve mandar nada disso para ninguém e bloqueie o que for possível.
– Observe o linguajar usado nos jogos, para evitar palavrões ou outros conteúdos inadequados para a idade:
Aqui, vale a regra de jogar junto ou estar perto do seu filho, sempre que possível, enquanto ele estiver jogando para entender que tipo de conteúdo ele acessa. O Roblox possui um filtro humano e automático para palavrões e outros conteúdos inapropriados, mas nada melhor que uma curadoria dos pais mesmo. Se encontrar algo que viole a privacidade ou a segurança do seu filho, use as ferramentas de denúncia na plataforma.
– Veja com quem seu filho interage e observe o que é possível controlar:
Confira sempre os contatos e os perfis das pessoas com quem seu filho interage enquanto joga, para ter certeza de que não há nada suspeito. Ao se deparar com algo que gere desconfiança, bloqueie.
– Controle o tempo que seu filho passa no jogo e a influência na qualidade de vida:
Jogar online, por um período limitado, pode ser positivo e ajudar a desenvolver habilidades e a criatividade, mas todo o excesso faz mal. Estabeleça um tempo de tela com seu filho e observe se ele tem mudanças de comportamento que possam estar relacionadas com o período que passa jogando, como deixar de estudar, de estar com a família e com os amigos na vida real.
– Converse sobre e estimule a gentileza e a civilidade online:
Aqui é mais um ponto em que o mundo real não é assim tão diferente do virtual e seu filho precisa ser lembrado disso, durante as conversas de vocês. Ensine, o quanto antes, que não é porque ele está interagindo apenas virtualmente, por trás de uma máquina, que ele deixa de ser humano. Gentileza e civilidade online são importantes, sempre.
– Cuidado com o bullying:
Quando as crianças passam a interagir em jogos online, geralmente, a preocupação número um dos pais é com possíveis pedófilos ou adultos mal intencionados. No entanto, de acordo com a Safernet, a maior parte das queixas que eles recebem no canal de orientação deles, de crianças e adolescentes, são relatos de situações de violência praticada por alguém da mesma idade. É o cyberbullying, junto com outras formas de agressão e discriminação. Observe não só possíveis contatos de adultos, mas também a relação do seu filho com outras crianças – tanto para saber se ele pode estar sendo uma vítima de ocorrências assim ou até mesmo praticando isso contra outras crianças.
– Qualidade dos jogos:
Controle também o tipo de jogo e o conteúdo que seu filho costuma acessar. Cuidado com jogos que incentivam a violência e tiros, por exemplo. Converse bastante sobre o tema e os efeitos, de uma maneira que a criança possa entender, de acordo com a idade, e, mais uma vez: jogue junto, para sentir na pele como é estar nesse ambiente virtual. Só assim você vai poder ajudar e orientar melhor seu filho, nesse mundo que é novo para ele – e pode ser mais novo ainda para você.