Com o skate participando pela primeira vez das Olimpíadas de Tóquio, o mundo conheceu a carismática Rayssa Leal, a mais nova representante do Brasil a levar a medalha de prata para a casa. Mas a jornada da menina começou ainda antes, quando com apenas seis anos já dava show nas manobras fantasiada de fada – o que fez com que ganhasse o apelido de “Fadinha”.
Os vídeos da menina praticando o esporte tão nova viralizaram pela fofura e talento, mas também trouxeram dúvidas a respeito de qual idade é considerada segura para as modalidades mais radicais – ou seja, que possuem maior grau de risco físico.
Esportes radicais e crianças pequenas: uma combinação que funciona?
A pediatra e médica do exercício e do esporte, Ana Lucia de Sá Pinto, responde que a partir dos seis anos a criança já possui um controle motor bem parecido com o do adulto, o que permite que tenha mais ferramentas para iniciar a prática.
Mas apesar das limitações da parte motora antes dessa idade, a especialista explica que os pais podem introduzir o skate, a escalada interna, o surf ou outra modalidade mais extrema desde que considerem algumas adaptações.
“Ao falarmos de esportes nesta faixa etária, devemos lembrar que são muito mais uma representação do movimento daquele esporte do que necessariamente um gesto esportivo correto. Se a criança for fazer um parkour, por exemplo, serão colocados no chão alguns obstáculos para reproduzir o que seria de fato a prática”, diz Ana Lucia.
Claro que existem crianças mais novas com habilidades específicas, como é o caso da nossa mini atleta do skate, mas são casos de exceção. A dica geral é avaliar individualmente se o seu filho possui as aptidões básicas para determinada prática – para o surfe, por exemplo, é essencial que o pequeno saiba nadar -, sempre lembrando que aos poucos ele irá desenvolver as demais competências.
Esporte na infância é perigoso para o desenvolvimento?
Outra polêmica envolvendo a prática de esportes nas faixas etárias menores é que ela possa prejudicar o desenvolvimento do pequeno – o que, segundo a pediatra, não passa de mito.
“Nenhum esporte por si só atrapalha o desenvolvimento. Naturalmente, uma criança preferirá um esporte ou outro. Se for muito alta, por exemplo, dificilmente terá muita habilidade para ginástica artística”, justifica ela.
Ana Lucia ainda complementa dizendo que o que realmente atrapalha o crescimento da criança é a falta de sono, de exercício e a alimentação inadequada. “O exercício como prática esportiva de treinamento trará malefícios apenas se a criança não tiver um aporte calórico adequado e prejuízos no sono – por estar gastando mais energia do que repõe”, esclarece.
Seja quando praticados de maneira competitiva ou recreativa, a conclusão da especialista é que os esportes são muito mais benéficos do que o sedentarismo, desde que praticados em segurança e cuidando para que o pequeno tenha suas necessidades básicas atendidas. Veja como escolher uma modalidade para o seu filho.
Cuidados durante a prática
O primeiro ponto de atenção, como já adiantou a pediatra, é respeitar o tempo de aprendizado da criança. “Ela pode fazer o esporte, mas reproduzindo um gesto não idêntico. A ginástica artística, por exemplo, requer muito controle motor e em cada momento do desenvolvimento a criança conseguirá adiantar um novo movimento”, pontua.
Para as práticas que oferecem riscos relacionados ao ambiente externo, como o rafting, a dica é priorizar trajetos mais tranquilos e sem muita intensidade, para evitar colocar o pequeno em perigo.
Independentemente do nível de dificuldade, o mais importante é não abrir mão do uso de equipamentos de proteção, sejam eles capacete, protetor de cotovelo e joelho, óculos de natação ou outro item específico para a modalidade.
Benefícios dos esportes radicais
Os riscos existem mas, como comenta Ana Lúcia, a lista de ganhos para a criança é muito mais extensa. “Os esportes radicais desenvolvem habilidades neuromotoras, já que vários gestos e movimentos exigem equilíbrio, força e capacidade aeróbica, além da necessidade de estar atento ao que está fazendo”, diz.
As práticas externas também permitem que o pequeno tenha mais contato com a natureza e com superfícies e materiais diferentes – como a terra e a água – e fortalece as relações afetivas entre a famíla, já que o responsável geralmente tem que estar junto durante o exercício.
E embora qualquer esporte consiga testar os limites do pequeno, a médica reforça que os radicais impõem uma dose extra de desafios. “Há os graus de dificuldade e movimentos que de início a criança não consegue executar, o que é estimulante para ela. Isso também faz com lide com o medo e a frustração“, acrescenta.
A capacidade de superar obstáculos e progredir gradualmente é interessante para várias esferas da vida do pequeno, mas Ana Lucia alerta para que os cuidadores e profissionais da educação física respeitem sempre os limites de cada criança, evitando colocá-la em situações de estresse, já que isto – além dos prejuízos para a saúde mental a longo prazo – pode inclusive levá-la a criar um desgosto pela modalidade.