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Desenvolvimento do bebê pode ser afetado pela quarentena?

Falta de interação social, menos contato com a natureza e estresse familiar até podem ter impactos negativos na primeira infância, mas dá para prevenir

Por Chloé Pinheiro
Atualizado em 29 Maio 2020, 14h32 - Publicado em 29 Maio 2020, 14h30

A primeira infância é um período único, em que a criança depende de estímulos sociais, movimentação, ar livre, rotina, ambiente familiar tranquilo e afeto para se desenvolver física e cognitivamente. E o que fazer, então, quando tudo isso fica prejudicado, como na pandemia de Covid-19

“Elas perderam o contato com outras crianças, o espaço para brincar e ainda existe o estresse ambiental, pais mais preocupados, irritados, e provavelmente mais conflitos em casa”, explica a pediatra Arianne Angelelli, do Departamento de Saúde Mental da Sociedade de Pediatria de São Paulo.

Não é que as mudanças na rotina sejam uma sentença de futuro ruim, até porque as crianças são seres adaptáveis. Para as menores, contudo, sessenta dias é bastante coisa. “Se não houver o mínimo de estrutura para elas, podemos ter um estresse tóxico, isto é, constante e elevado, que tem consequências imediatas, como alterações de comportamento, e a longo prazo, maior risco de ansiedade e depressão”, explica a pediatra Adriana Loureiro, do Departamento Científico de Desenvolvimento e Comportamento da Sociedade Brasileira de Pediatria. 

Conviver com a pandemia é uma situação tão tensa quanto inevitável, e é difícil colocar mais uma “tarefa” na conta dos pais, mas a saúde mental dos filhos deve ser prioridade, tal qual os afazeres domésticos, profissionais, escolares…

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Carinho, atenção e rotina importam mais 

Os bebês ainda não têm capacidade de compreender que a rotina está diferente. Para eles, o principal problema da quarentena é o estresse dos pais. “O que eles precisam mais é da interação com essa figura do cuidador, então se a pessoa está deprimida ou sob muita tensão, esse vínculo pode ser prejudicado e, por consequência, o desenvolvimento também”, pontua Deborah Moss, neuropsicóloga mestre pela Universidade de São Paulo (USP).

É a inteligência emocional e o carinho dos adultos que ditarão o impacto real da pandemia no desenvolvimento dos filhos. “Os pais têm que tornar o ambiente mais saudável e equilibrado possível, para que a criança se sinta segura, acolhida à vontade para expressar suas emoções”, comenta Adriana. 

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Além da questão psicológica, a criança precisa de necessidades físicas básicas atendidas para seguir se desenvolvendo bem nesse período, como a alimentação equilibrada, rotina de sono e exposição à luz solar. “Cerca de 15 minutos, fora dos horários de maior incidência dos raios solares, de manhãzinha ou no fim de tarde, são o suficiente para que ela absorva vitamina D”, orienta Kelly. 

Desenvolvimento motor 

Desde o início da vida, o bebê se beneficia de períodos no dia para se movimentar livremente, no chão. Começa com o tummy time, ou “tempo de barriguinha”, que pode ser feito já nas primeiras semanas. Depois, quando ela engatinha, deve ficar livre para ser “tão ativa quanto possível”, recomenda a Sociedade Brasileira de Pediatria. 

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Crianças que conseguem andar sozinhas precisam de pelo menos 180 minutos, que podem ser divididos, em atividades como ficar de pé, correr, rolar, pular e brincar livremente. “Ela necessita de espaço para explorar e trabalhar sua coordenação motora e consciência corporal”, explica Deborah. 

Mesmo se a casa for pequena, tente reservar um cantinho para que a criança consiga se movimentar, como o espaço entre o sofá e televisão. Se tiver um espaço ao ar livre, então, melhor ainda! Assim é possível consegue suprir um pouco a falta do contato com a natureza – outro ponto que pode impactar no desenvolvimento. 

Interação social 

Até o segundo aniversário, o filho vive a chamada fase egocêntrica, onde a interação maior ocorre com os cuidadores. A partir daí, a socialização é mais importante e pode fazer falta para a criança. “Cabe aos pais estimular o diálogo durante o dia, brincar com ela e mostrar o mundo externo, nem que seja pela janela do apartamento”, aponta Deborah.

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A pediatra Kelly Oliveira, criadora do site Pediatria Descomplicada, explica que a falta de contato social pode levar os pequenos a ficarem desconfortáveis em novos ambientes depois. “Tenho visto no consultório, a criança chora e estranha muito, por isso precisamos promover encontros, mesmo que virtuais”, ensina. 

Videoconferência com os avós e amiguinhos, mesmo que por um período curto, já ajudam. Aqui, vale fazer o parêntese de que celulares e computadores podem (e devem) ser usadas para manter a vida social, mas o excesso de tempo de tela como entretenimento (jogos online, desenhos etc) pode ser prejudicial por substituir a interação necessária com o ambiente e os cuidadores.

Será que há algum atraso no desenvolvimento? 

Primeiro, vale dizer que em uma situação completamente atípica como essa, é normal que a criança tenha alterações de comportamento e até demonstre um pouco de regressão. Isso não quer dizer que há um problema definitivo em seu crescimento, mas é um sinal de alerta para repensar a rotina e o suporte oferecido a ela. 

Por fim, o isolamento social não deve extinguir a figura do pediatra da vida da criança. “As avaliações não podem deixar de acontecer, porque dois meses é um tempo enorme da vida do bebê, e pode ser difícil recuperá-lo depois”, destaca Kelly. Para evitar a saída de casa, aposte na telemedicina se possível. 

(Juliana Pereira/Bebê.com.br)
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