O que é a frenectomia lingual e por que ela influencia na amamentação?

Má formação no freio da língua pode trazer prejuízos ao aleitamento - para a mãe e para o bebê - e precisar de intervenção cirúrgica.

Por Isabelle Aradzenka
Atualizado em 29 set 2021, 11h12 - Publicado em 26 set 2021, 14h00
bebê chorando
 (vichie81/Getty Images)
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Dor, empedramento e lesões no mamilo podem acontecer durante o processo de amamentação, mas não podem ficar sem investigação. Com a ajuda de um especialista em aleitamento e o pediatra, é preciso descobrir as causas destes desconfortos, que podem ser bem variados.

“Temos uma sensação dolorosa de assadura na primeira semana de vida do bebê, não mais do que isso. Então, se houver muita dor na amamentação, é necessário checar o que está acontecendo e uma das causas pode ser o freio da língua da criança”, afirma Adriana Cátia Mazzoni, odontopediatra e membro do Grupo de Saúde Oral da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP).

A má formação do freio da língua do bebê, chamada de anquiloglossia, resulta na limitação dos movimentos que o órgão é capaz de fazer. A curto prazo, a condição pode afetar o processo de aleitamento do recém-nascido, mas no futuro a fala também poderá ser prejudicada.

“É quando o paciente possui um freio que segura a região anterior da língua, mas que deveria ser livre. Nesse caso, é realizada a cirurgia da frenectomia lingual, a fim de remover esse freio que nasceu de uma forma anormal, curto ou encurtado”, explica a odontopediatra.

Entenda o que gera a má formação

O que acontece é que durante o processo de formação do bebê, ainda dentro do ventre da mãe, a língua se desenvolve grudada à mandíbula. À medida que a gravidez avança, o órgão passa se descolar desta região maxilar até que a sua movimentação fique totalmente livre. Em alguns bebês, no entanto, esse processo de separação da língua é incompleto e sobram algumas fibras que irão limitar a mobilidade da região: o famoso “freio curto”.

A língua é, curiosamente, um dos órgãos mais fortes do nosso corpo, e se a sua formação estiver fora do padrão, a criança poderá sofrer com uma hipotrofia muscular e desbalancear o seu processo de alimentação. “Quando você tem uma limitação dessa movimentação por causa de uma fibra como o freio lingual, a musculatura acaba não se desenvolvendo de forma equilibrada. Não há desconforto ou dor para o bebê, mas ele pode, por exemplo, ter dificuldade de fazer uma amamentação adequada”, completa Adriana.

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Amamentação pode estar em risco! 

Por ter o freio da língua encurtado, o bebê não conseguirá fazer o movimento de retirada do leite de maneira correta. Em crianças com a formação dentro dos padrões, a língua terá a liberdade para pressionar a aréola da mãe contra o palato e, assim, permitir que o leite saia através do mamilo. Já em bebês que apresentam o freio curto, o movimento de ondulação executado pela linguinha vai apertar apenas o bico do mamilo e prejudicar todo o processo de amamentação.

“O leite se localiza na aréola da mãe, então, à medida que o bebê fica fazendo o movimento de extração na região do mamilo, ele pode machucar o local, além de tirar menos líquido. Quando isso acontece, o mamilo sai da boca do bebê de uma forma achatada ou com o formato de batom e a mãe acaba desenvolvendo fissuras ou mesmo traumas por conta desta inadequação”, afirma a odontopediatra.

Agora você já sabe o motivo por trás daquelas mamadas que deixam o seu bebê irritado! Depois de tanto esforço para tirar o leite e não conseguir, a criança pode se cansar e entrar em um estado de ansiedade e até ter problemas de ganho de peso.

Se não bastasse tudo isso, a incapacidade da língua do bebê de promover um movimento de sucção adequado permite que bolhas de ar sejam ingeridas em conjunto com o leite. Tudo que entra precisa sair, não é mesmo? Sendo assim, a criança que não consegue fazer o aleitamento correto também sofrerá mais com gases, arrotos e até regurgito.

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“Durante a mamada com a posição inadequada, a língua, muitas vezes, faz estalinhos quando escapa ou descola do peito: é nesse momento que tem muita entrada de ar. Um bebê que mama adequadamente fecha a boca de modo hermético no peito, então, não tem esse problema”, explica Adriana.

Ok, mas será que o bebê precisa passar pela cirurgia?

Os sinais são variados, mamãe! Veja alguns sinais que podem aparecer durante a amamentação e que, combinados, indicam que o bebê possui o freio curto:

  • a mãe sente dores fortes na amamentação;
  • mamas com fissuras e inflamadas;
  • empedramento do leite;
  • excesso de gases do bebê;
  • regurgito;
  • arrotos excessivos;
  • bebê com dificuldade em ganhar peso.

Por isso também, a importância do teste da linguinha, avaliação da funcionalidade da língua do bebê. Se não examinada, a má formação, com certeza, trará consequências em períodos importantes do desenvolvimento da criança.

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“Uma língua mal desenvolvida não permite que as arcadas dentárias se formem adequadamente, limita o crescimento da mandíbula e durante a introdução alimentar o bebe poderá engasgar bastante. E, no futuro, poderá prejudicar a fala, que precisa desta parte anterior livre”, relata Adriana. Portanto, diante deste cenário e com a orientação e indicação do pediatra, é hora de considerar a realização da cirurgia da frenectomia.

Calma, a cirurgia é simples!

O procedimento da frenectomia é simples: “É feita a remoção do freio que está segurando a língua. Na verdade, é retirado apenas a fibra do freio que está impedindo que ela fique livre na movimentação”, explica a especialista.

A cirurgia é geralmente realizada em consultório odontológico e a recuperação do bebê é rápida. Logo após a finalização do procedimento ele já poderá iniciar a adaptação para o aleitamento com acompanhamento do médico. Na maioria dos casos, o pediatra é o profissional ideal para avaliar a mamada ou se há alguma limitação nos movimentos, mas a observação também pode ser feita através de um fonoaudiólogo.

É indicado que a cirurgia seja realizada logo nos primeiros meses de vida da criança, já que em idades maiores o procedimento poderá exigir a aplicação de anestesia e uma recuperação com o período mais longo.

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Já o corte pode ser feito de formas variadas e isso vai depender do cirurgião que for realizar o procedimento: laser, tesoura ou bisturi. Os métodos tendem a ser o menos invasivo possível para que o bebê se adapte à nova condição de forma rápida e segura.

“A técnica cirúrgica depende da habilidade do profissional que vai atender o bebê em remover todas as fibras do freio para que a língua realmente fique livre e que a gente possa depois fazer uma nova adequação da pega”, finaliza a odontopediatra.

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