Cultivo Materno

Jornalista fundadora do Co.madre, Juliana Mariz acredita que mães não têm superpoderes, são mulheres de carne e osso sobrecarregadas e que merecem um lugar de destaque na sociedade
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Sejamos todas (mães) imperfeitas!

Uma lista de materiais escolares incompleta fez tocar aquele sinal: não sou a mãe perfeita. E quer saber? Melhor assim!

Por Juliana Mariz
1 mar 2022, 14h00

Quem tem filho na escola deve saber bem como é o começo do ano. Organiza material, coloca nome, doa, aproveita o que tem no ano passado, surta com os preços praticados, faz conta… Pois bem, esse ano não foi diferente por aqui, mas com um complicador: enfrentei a cara emburrada da minha filha menor porque o material não estava completo no primeiro dia de aula.

Comprei alguns livros pela internet e dois deles não chegaram a tempo. Minha caçula ficou extremamente chateada comigo. Eu sabia que a escola não era rígida sobre ter tudo prontinho logo no início, justamente porque entende que alguns imprevistos acontecem. Mesmo assim minha filha ficou muito incomodada com a situação, reclamou, chorou, preocupou-se. E ainda, exageradamente, disse: “todo mundo está com o material completo.” ​​​​​​​​

​​​​​Na mesma hora me senti mal, como se tivesse cometido um grande erro. A campainha da mãe perfeita tocou jogando na minha cara que eu tinha falhado. Por mais que eu dissesse para mim mesma que não havia problema, passei o dia inteiro com esse incômodo.

E incômodo nos convoca à reflexão. Como a maternidade é uma sequência deles, há 12 anos, idade da minha filha mais velha, esse convite bate à minha porta. E cada mergulho é uma descoberta.

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Não convide a culpa para a festa!

A história do material incompleto me deixou culpada num primeiro momento. Mas culpa materna é aquele convidado bagunceiro que chega de bicão. Se você não dá um breque, ele se expande e toma conta de todo espaço. Aqui, não. Se eu não estivesse tão sobrecarregada, não teria sentido tanta culpa. A divisão de tarefas e responsabilidades é uma forma de manter a culpa afastada.

Outro jeito de expulsar esse arroz de festa indesejado é praticar a autogentileza. Por que somos tão duras com a gente mesma? Faz o seguinte exercício: suponha que uma amiga te conte que estava mal porque a filha ficou chateada por não ter o material completo. O que você falaria para ela? Aposto que palavras acolhedoras. Pois é esse tratamento que temos de dirigir a nós mesmas.

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Outro dia assisti nas redes sociais a um vídeo da psicanalista Vera Iaconelli sobre menopausa. Logo no início da gravação, ela contou algo que me chamou atenção. Vera disse que se esforça para nunca ir dormir brigada com ela mesma. Achei um belo conselho que sugiro pra você também.

Voltando ao caso do material escolar, aos poucos minhas emoções foram se assentando. E, por fim, me lembrei da importância dos filhos perceberem nossas falhas (por menores que sejam). O ideal da mãe perfeita não é ruim apenas para nós, mas também para as crianças. Filhos precisam ver que mães (e pais) erram, esquecem coisas, se atrapalham, perdem prazos… Sabe por quê? Por que dessa forma eles se autorizam a falhar também. Faz sentido por aí?

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