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Cultivo Materno

Jornalista fundadora do Co.madre, Juliana Mariz acredita que mães não têm superpoderes, são mulheres de carne e osso sobrecarregadas e que merecem um lugar de destaque na sociedade
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Coloque a culpa materna em seu devido lugar!

Anote aí para não esquecer nos momentos pesados da maternidade: culpa é consequência de uma sobrecarga absurda.

Por Juliana Mariz
12 jun 2021, 16h00

Tenho raiva de uma palavra: culpa. Ela me irrita, me incomoda, me causa desconforto. Principalmente quando cola em um termo que adoro: materna. Culpa materna me dá calafrios. Não apenas porque o sentimento é, obviamente, desagradável, mas também porque ele é injusto.

Alguém inventou a ideia de que quando nasce uma mãe, nasce a culpa. E fez um desserviço porque as palavras têm um poder inimaginável. Algo dito por gerações e gerações vira verdades cristalinas. Colocamos o broche mãe culpada na maternidade sem nem mesmo entender se é isso mesmo que estamos sentindo.

A culpa está a serviço de uma narrativa sobre parentalidade que determinou o que é ser boa mãe: sentir culpa, não sofrer para amamentar, não reclamar, gostar de todos os aspectos da maternidade… A maternidade em um lugar sagrado. Mães são santas e culpa é o castigo.

Para elaborar esse texto, conversei com amigas sobre o assunto e elas me contaram sobre momentos que sentiram culpa. As histórias vão desde “me senti culpada por esquecer de levar minha filha no aniversário da melhor amiga” até “perdi a apresentação do final do ano porque viajava a trabalho.” No primeiro caso, foi um equívoco. Mães erram e pedem desculpas. O segundo é consequência de uma escolha. E que bom podermos fazer escolhas.

A culpa é consequência da sobrecarga

Não quero, de forma alguma, minimizar o seu sentimento. Eu também sinto culpa, claro. A pior delas foi quando minha filha de três meses caiu do trocador quando eu estava com ela. Fomos para o hospital imediatamente e não aconteceu absolutamente nada, felizmente. Fiquei arrasada. Foi um descuido terrível, mas me perdoei.

Culpa significa se sentir responsável por um dano. Como as mulheres carregam uma mochila pesada e estrumbada de responsabilidades, ficam mais suscetíveis ao equívoco, ao esquecimento, ao famoso “não consigo dar conta” e, consequentemente, à tal palavra que desgosto. Anote: culpa é consequência de uma sobrecarga absurda.

Reforço que não estou sugerindo que a gente rejeite sentimentos negativos. Mas proponho que a gente coloque a culpa no lugar certo, que dê contornos mais precisos, que avalie sua proporção quando ela bater na nossa porta.

E, se por acaso isso acontecer, desejo fortemente que você não deixe a culpa ser uma régua para medir o seu valor como mãe.

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