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“Sou obstetra, me preparei para amamentar e tive dificuldades mesmo assim”

Apesar de saber que o aleitamento materno poderia ser difícil, Rahyssa Rodrigues enfrentou um desafio e tanto para estabelecer a amamentação do filho

Por Da Redação
Atualizado em 26 ago 2022, 17h03 - Publicado em 17 ago 2022, 11h15
bebê mamando no seio da mãe
 (Foto/Arquivo Pessoal)
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Amamentar é um dos maiores presentes que uma mãe pode dar a um filho – e os efeitos duram a vida toda. Porém, esqueça as fotos lindas das redes sociais. A amamentação nem sempre é fácil. Aliás, na grande maioria das vezes, é uma tarefa desafiadora. Por isso, ao longo deste Agosto Dourado, como é conhecido o mês dedicado à conscientização sobre o aleitamento materno, traremos relatos de mulheres que passaram por dificuldades, mas, com informação e apoio, conseguiram chegar lá!

A história de Rahyssa Rodrigues é a prova de que, mesmo quem se prepara – e muito! – pode ter dificuldades quando a hora chega. O bebê dela, Lucas, nasceu em um parto natural, em uma casa de parto de São Paulo. Como é ginecologista e obstetra, ela já sabia que o aleitamento materno poderia não ser nada simples. Por isso, preparou-se, contratou uma consultora, conversou, leu e… Mesmo assim, teve de superar obstáculos até que o filho conseguisse mamar de maneira eficiente e ganhar peso. Veja os detalhes da história a seguir.

Desde a gravidez, tinha medo da amamentação. Via muitas das minhas pacientes com dificuldades e já imaginava que seria um perrengue. A gente estuda sobre o assunto na faculdade de medicina e, depois que me especializei em ginecologia e obstetrícia, estudei um pouco mais, mas, ainda assim, estava aflita. Escolhi uma doula que também é consultora de amamentação e nosso primeiro encontro já foi para falar disso. Ficamos duas horas e meia conversando sobre amamentação.

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Então, quando o Lucas nasceu, na Casa Cria, na primeira hora de vida, ele não chegou a mamar. Ficou mais lambendo, cheirando… E tudo bem! Fomos para casa e também não conseguia manter a pega. Meu mamilo parecia grande demais para a boca dele. Meio que não entrava.

Com três dias de vida, meu bebê tinha perdido 12% do peso, mais do que é aceitável como normal, e eu tive a apojadura – ou seja, o leite desceu. Tive muita ajuda da minha doula e da minha parteira. Achei que tudo ia se resolver com a descida do leite e que ele ganharia peso.

No entanto, com quatro dias, Lucas continuava sem conseguir mamar por mais do que trinta segundos. Chorava tanto, mas tanto, que chegou a ficar rouco. Foi de partir o coração. Fui fazendo ordenha manual e oferecendo a ele de colherzinha, gotinha por gotinha, em uma colher de café.

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Naquela noite, depois de todo o choro, claramente de fome, finalmente ele dormiu, umas 23h15. E, com todo o estresse, eu não consegui tirar mais nenhuma gota de leite. Nem com a melhor bomba elétrica, nem manualmente, nada!

Olhei para o meu marido e falei: ‘Se ele acordar, não tem mais leite. Vamos comprar uma fórmula’. Abri o Whatsapp e mandei mensagem para a Silvia, que é minha parteira. Ela me indicou o produto e quanto fazer. Pedimos no aplicativo de compras, demoraria trinta minutos para o entregador chegar. De 23h30 à meia-noite. Nem respirávamos. Estávamos desesperados.

Até que a encomenda chegou e Lucas acordou praticamente junto com ela. Fizemos a fórmula vendo um tutorial no Youtube e demos. Ele tomou, desesperado. Relaxou e dormiu. Lembro da sensação de falha, mas junto de um sentimento de esperança. Era como se eu tivesse ganhado uma vida extra para poder aprender a amamentar e ele aprender a mamar, agora sem perder peso.

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Fomos dando a fórmula na colher dosadora e, no dia seguinte, tivemos consulta com a pediatra. Lucas ainda tinha perdido peso, apesar da fórmula na madrugada. A médica foi muito querida e ficou feliz, porque a perda aconteceu numa velocidade menor do que antes e nos parabenizou por termos tomado a decisão de dar o leite artificial naquele momento, afinal, era o que ele estava precisando. Foi um alívio ouvir aquilo!

E aí, com o bebê mais tranquilo, sem estar desesperado de fome, conseguimos fazer a pega por mais de um minuto pela primeira vez, com seis dias de vida. E, desde então, só foi melhorando. Tiramos a fórmula gradualmente depois de três semanas e ele segue em amamentação exclusiva até agora, com 3 meses. Precisávamos mesmo de tempo para nos conhecermos e aprendermos juntos.

Rhayssa Rodrigues-amamenta-lucas
(Foto/Arquivo Pessoal)

Amamentar não é instintivo e é muito mais do que técnicas gerais. Lembro de repassar em voz alta: barriga com barriga, cabeça alinhada, pega em ‘C’. E não ia. Com muito apoio profissional e familiar, encontramos o nosso jeitinho e deu certo”.

O “encaixe” da amamentação

Rahyssa tem razão quando diz que amamentar não é instintivo e é muito mais do que aprender técnicas gerais. Existem várias questões, inclusive de anatomia do bebê ou da pessoa que está amamentando, que podem, sim, atrapalhar. “Escutamos o tempo inteiro que toda pessoa sabe amamentar e todo bebê sabe mamar, mas não é bem assim”, explica a fonoaudióloga Kely Carvalho, que é consultora internacional de amamentação pelo International Board of Lactation Consultant Examiners (IBLCE) e responsável pelo departamento de amamentação da Lumos Cultural (SP).

É como uma chavinha que precisa encaixar na fechadura e nem sempre isso acontece tão depressa. Às vezes, precisamos de um tempo para a amamentação ser estabelecida”, explica.

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Segundo a especialista, pessoas com mamilos planos ou invertidos, por exemplo, tendem a ter mais dificuldade no processo e é importante acompanhá-las mais de perto – e não é simplesmente orientar o beabá da pega correta, como barriga com barriga, boca de peixinho, lábios para fora. “A pessoa pode precisar de um auxílio que chamo de hands on, ou seja, colocando a mão mesmo, ajudando o bebê a mamar”, afirma Kely.

Algumas dicas que ajudam na amamentação, segundo ela: 

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  • Durante a gravidez, não fazer nada para “preparar o seio” para a amamentação. Nada de bucha, exercícios, sol, massagem. “Não há evidências”, diz.
  • Estimular o contato pele a pele na primeira hora de vida.
  • Se possível, ter um parto fisiológico. “Quando o parto é cheio de intervenções, há mais fluidos no corpo da pessoa, mais soro, mais edemas (inchaços)… Isso também pode prejudicar a pega adequada”, explica.
  • Tentar posicionar o bebê para mamar de diferentes maneiras. “Eu brinco que é o ‘mama sutra’. Coloque de forma invertida, deitado, cavaleiro… E vá verificando qual é a melhor posição para o bebê e para quem está amamentando”, recomenda.
  • Se a mama estiver muito cheia e muito dura, fazer uma pequena massagem na região do complexo aréolo-mamilar antes de oferecê-la ao bebê. Você também pode ordenhar um pouco e só então colocar a criança para mamar.
  • “Alimentar o bebê não é opcional, é obrigatório”, pontua Kely. Você pode oferecer leite ordenhado em colheres dosadoras ou copinhos. Só evite os bicos flexíveis, como a mamadeira, que podem causar confusão de bico e atrapalhar ainda mais o estabelecimento da amamentação.
  • Não é todo mundo, mas, em alguns casos, é necessário o uso de acessórios, como o bico de silicone. “Uma boa consultora de amamentação vai saber identificar quando o bebê realmente precisa deles”, afirma. “O bico de silicone pode atrapalhar muito a amamentação, pode diminuir o ganho de peso do bebê, reduzir a ordenha de leite do peito, causar mais feridas. Então, não pode ser indicado de maneira indiscriminada. Se o profissional de saúde recomendar o uso, ele precisa acompanhar esse processo até a total retirada”.
  • Fazer a extração do leite com frequência para estimular a produção, enquanto o bebê não consegue mamar diretamente no peito.
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