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É verdade que criança não pode comer adoçante?

Os adoçantes artificiais são bastante comuns entre os brasileiros, mas não devem fazer parte da rotina alimentar dos pequenos.

Por Isabelle Aradzenka
20 mar 2022, 14h00

Não é nenhuma novidade que o açúcar é um item muito presente na dieta dos brasileiros. De acordo com o Ministério da Saúde, nós consumimos quase 60% a mais da quantidade anual do produto recomendada pelo Organização Mundial da Saúde (OMS). E entre os tantos lares que utilizam o açúcar, existem aqueles que escolheram trocar os grãozinhos por adoçantes, seja por diabetes, outras questões de saúde ou porque eles prometem ser menos calóricos e muito mais potentes quando o assunto é adoçar a comida.

Mas é justamente pelos motivos que levam os adultos a consumir os adoçantes que, quando falamos das crianças, o seu uso é um tanto controverso. Segundo o posicionamento de agências regulatórias internacionais e a própria Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), o consumo destas substâncias é liberado entre a idade pediátrica, apenas para casos em que seja necessária a troca.

Antes dos dois anos, por exemplo, não é indicado que o pequeno consuma qualquer tipo de açúcar, inclusive os adoçantes. Já para crianças maiores, acrescentar os compostos industrializados na dieta só faz sentido em quadros de diabetes, onde é preciso controlar a quantidade do açúcar no sangue.

Por que os adoçantes exigem cuidados?

Os compostos adoçantes aprovados pela agência regulatória americana Food and Drug Administration (FDA) podem ser classificados em artificiais (ou não nutritivos) e naturais. No primeiro grupo encontramos a sacarina, o aspartame, a sucralose, o acessulfame de potássio e o ciclamato de sódio, que são até 20.000 vezes mais doces que o açúcar refinado comum. Já entre os naturais, estão a estevia, o xilitol, o eritritol e até a própria frutose, obtidos através de frutas ou vegetais e que passam por menos processos químicos.

“Os adoçantes artificiais foram desenvolvidos com o objetivo de reduzir a ingestão de calorias e são agentes com maior poder de adoçar do que os adoçantes nutritivos, que são calóricos. Todos eles têm o sabor doce, porém têm estruturas químicas diferentes, portanto, os efeitos no trato gastrointestinal, a absorção, metabolização e excreção variam de acordo com essa estrutura e são bem diferentes do açúcar tradicional”, explica Cristiane Kochi, endocrinologista da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo.

A especialista também pontua que, apesar de haver liberação das agências regulatórias para o consumo das substâncias artificiais, principalmente porque a maioria desses compostos teoricamente não seriam metabolizados e absorvidos pelo intestino, não é indicado que crianças pequenas consumam adoçantes em sua rotina.

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“Já há estudos que sugerem que alguns adoçantes são metabolizados no intestino e provavelmente sofrem ação de bactérias intestinais. Isso poderia modificar a flora intestinal e causar maior risco de inflamação. Esse risco estaria associado ao tipo de adoçante, frequência de uso, dose utilizada, além de fatores genéticos do indivíduo”, completa.

Além disso, a possibilidade de alteração no apetite e na preferência gustativa dos pequenos pela ingestão destes compostos também não fica de fora dos riscos investigados. O estudo “O uso de adoçantes não nutritivos em crianças”, publicado em 2019 pela Academia Americana de Pediatria (AAP), identifica que, ao contrário do que se imaginava, os adoçantes não nutritivos também podem ativar os receptores de sabor nas crianças e modificar a sensação obtida pelos compostos.

“Nas crianças, os receptores gustativos estão localizados nas papilas linguais e ao longo da mucosa intestinal. A ativação dos receptores de sabor doce resulta em estímulos geradores de prazer do cérebro, desencadeando a captação de glicose e a regulação do apetite. Ou seja, o uso dos adoçantes não nutritivos em crianças poderia estar associado a uma maior preferência por alimentos doces”, analisa o estudo publicado na Pediatrics.

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Apenas com orientação médica, ok?

Já para as crianças que, por recomendação médica, precisam trocar o açúcar por adoçante, o quadro tem pontos positivos, como a prevenção de cáries, além da regulação do nível de açúcar no sangue de crianças que apresentam quadros de diabetes mellitus tipo 1 ou 2. “As crianças com diabetes são uma exceção, pois como não devem ingerir açúcar refinado, a orientação para troca de adoçantes pode ser realizada”, reforça a endocrinologista.

Além disso, a AAP também investiga que os produtos artificiais, por não serem digeridos e não adicionarem calorias nas refeições, também podem ter a capacidade atuar de forma vantajosa para prevenir e controlar a obesidade infantil, se for associada com o consumo excessivo de açúcar.

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Entretanto, a agência regulatória americana FDA estabelece um limite diário de consumo de cada tipo de adoçante artificial baseado no Índice de Massa Corporal do indivíduo (IMC). E, levando isto em consideração, Cristiane ressalta que os pais, antes de introduzir o produto na dieta da criança, devem se orientar com o pediatra da família a respeito da quantidade e o tipo de adoçante que será ingerido.

Muito cuidado com os produtos do mercado!

Menina tomando suco de caixinha
(Catherine Falls Commercial/Getty Images)

O estudo da APP também constata um dado preocupante de que, hoje, o índice de consumo dos adoçantes artificiais pelas crianças tende a exceder ao dos adultos, se avaliado em miligramas por IMC – e o pior de tudo é que os pais podem nem estar percebendo isso.

De acordo com a pesquisa, a maior parte da ingestão dos compostos vem de bebidas adoçadas artificialmente, seguidas de comidas processadas e, por último, de embalagens individuais de adoçantes. Além de que, 80% das crianças que consomem a substância o fazem diariamente, em contraste com 56% dos adultos.

“As pessoas nem sempre estão cientes de sua ingestão de adoçantes não nutritivos. A prevalência do seu uso está aumentando e a inclusão deles em produtos alimentares é mais difundida. Os primeiros estudos descobriram que aproximadamente 15% da população com mais de 2 anos consome algum tipo de adoçante artificial por ano (2003–2004)”, reforça a pesquisa.

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A endocrinologista complementa que geralmente alimentos adoçados artificialmente têm a mistura de dois tipos diferentes de adoçantes, o que dificulta a escolha de consumo. O ideal para as crianças pequenas nesta faixa etária é ter hábitos saudáveis de alimentação e atividade física e não optar por estes produtos, salvo as populações pediátricas citadas como exceção.

“Antes de abastecer sua geladeira com alimentos e bebidas adoçados artificialmente, lembre-se de que eles não são as opções mais nutritivas e ainda podem encher as crianças com calorias vazias. Certifique-se de oferecer uma grande variedade de frutas para elas satisfazerem os seus desejos por doces. Por exemplo, você pode adoçar o iogurte natural com frutas e picá-las no cereal”, orienta a Academia de Nutrição e Dietética.

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