Varíola dos macacos na gravidez: sintomas, transmissão e tratamento
O que se sabe até agora sobre a doença causada pelo vírus Monkeypox, que já chegou ao Brasil.
Nem bem saímos da pandemia de Covid-19 e uma nova doença já chama a atenção. Trata-se da varíola causada pelo Monkeypox, chamada de varíola dos macacos, zoonose silvestre mais recorrente em áreas florestais do continente africano, que vem sendo observada nos Estados Unidos, Europa, Canadá e outras regiões. No Brasil, atualmente, há seis casos confirmados, quatro em São Paulo, um no Rio Grande do Sul e um no Rio de Janeiro, além de suspeitas ainda sob observação em outros estados.
Embora esteja ganhando o noticiário recentemente, a doença fora da África não chega a ser uma novidade para a comunidade científica. Entre 2018 e 2021, 7 casos foram relatados no Reino Unido, indicando uma relação com pessoas que tinham histórico de viagens para países endêmicos. O que liga o alerta agora é o aumento de casos em outros países e entre pessoas que não viajaram.
De acordo com Viviane Botosso, virologista e diretora do Laboratório de Virologia do Instituto Butantan, ainda não está estabelecido qual é o reservatório do vírus – a relação com roedores está sendo investigada – , mas já se sabe que não é o macaco. Ou seja, a denominação “varíola dos macacos” é incorreta.
Formas de contágio da varíola
“O contágio da varíola por Monkeypox se dá pelo contato direto com fluidos corporais e com as lesões de pele de pessoas infectadas”, explica Viviane. Ela destaca ainda a possibilidade de disseminação por secreções respiratórias face a face, além do contato com objetos que tenham sido contaminados pelas lesões, como lençóis e toalhas.
Há também a transmissão entre animais e humanos, “através de mordeduras ou arranhaduras, pelo contato com fluidos corporais e lesões do animal infectado ou até pela utilização de produtos feitos a partir de animais com a doença”, diz a virologista. Segundo ela, outras formas de transmissão ainda estão sendo estudadas.
Como se transmite a varíola por fluidos corporais, o recomendado é que gestantes infectadas ou com suspeita de infecção sejam orientadas a dar à luz por cesárea e não por parto normal. É isso que indicam as diretrizes do Royal College of Obstetricians and Gynecologists e o Royal College of Pediatrics and Child Health, no Reino Unido, onde já foi confirmada a transmissão local da doença.
Os dados sobre a varíola dos macacos na gravidez ainda são incipientes, mas as recomendações são baseadas nas informações que já se tem sobre o vírus. Em um estudo publicado na Ultrasound in Obstetrics & Gynaecology, de quatro gestantes infectadas, três sofreram aborto e uma deu à luz um bebê a termo e saudável. Dois dos três casos de perda gestacional aconteceram no primeiro trimestre e não passaram por teste; o outro aconteceu na 18ª semana e o feto tinha sinais de infecção, com lesões evidentes na pele. Isso aponta a possibilidade de transmissão vertical, ou seja, é possível que o feto seja infectado ainda no útero. Ainda assim, a cesárea é vista como uma opção mais segura para mulheres com a doença. Depois do nascimento, a indicação é que o bebê seja testado. Se ele não tiver o vírus, deve ser isolado e não ter contato com a mãe – nem mesmo com o leite dela – para evitar a contaminação.
Sintomas da “varíola dos macacos”
Os sintomas da varíola causada pelo Monkeypox são parecidos com os da varíola humana, mas tendem a ser mais brandos. “O período de incubação, ou seja, o período entre a infecção e o início dos sintomas é de 7 a 14 dias, mas pode variar entre 5 e 21 dias. A doença se inicia geralmente com febre, dores de cabeça, nas costas e musculares, exaustão, calafrios e aparecimento de linfadenopatia [inchaço dos linfonodos, não verificado na varíola humana]”, explica a diretora do Laboratório de Virologia do Butantan.
De 1 a 3 dias após o início dos sintomas, se dá o desenvolvimento das erupções cutâneas que, segundo a especialista, começam na face e se espalham por todo o corpo. Ela explica que as lesões evoluem progressivamente de máculas (lesões com base plana), para pápulas (lesões firmes levemente elevadas), vesículas (lesões cheias de líquido claro), pústulas (lesões cheias de líquido amarelado) e crostas que secam e caem.
Tratamento da varíola causada pelo Monkeypox
Como a maioria dos pacientes observados desenvolve sintomas leves ou moderados, com bom prognóstico, o tratamento é paliativo. Isso significa o uso de analgésicos e antitérmicos apenas para tratar as dores e a febre. Ainda é preciso manter as feridas limpas e cobertas para diminuir o risco de transmissão, além de garantir que o paciente se mantenha hidratado e bem nutrido. De acordo com Viviane, essa é uma doença autolimitada (ou seja, que se resolve espontaneamente com o tempo) que dura de duas a quatro semanas.
“Em alguns casos, podem ocorrer complicações ocasionadas, por exemplo, por infecções bacterianas secundárias nas lesões, que requerem tratamento com antibióticos. Outras complicações estão relacionadas a desidratação, conjuntivite, pneumonia, sepse e, em raros casos, encefalite e morte. A letalidade gira em torno de 1 a 3% para infecções com o vírus pertencente ao lado da África Ocidental”, detalha.
Entre os grupos de risco estão pessoas imunossuprimidas e crianças, que ainda não têm o sistema imunológico formado. Até agora, casos infantis não foram relatados, mas sabe-se que a doença pode ser grave em recém-nascidos. Por isso, gestantes com suspeita de infecção devem ter acompanhamento médico intenso e o bebê precisa ser testado logo após o parto; caso tenha a doença, deve ser monitorado de perto para avaliar possíveis comprometimentos de saúde.
Vale explicar que existem duas linhagens do Monkeypox: a da África Ocidental e da Bacia do Congo (África Central). Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as infecções humanas com a linhagem da região Ocidental – que são as identificadas atualmente – são menos graves.
Prevenção e vacina
A vacina contra a varíola – registrada como uma vacina contra a varíola humana e a por Monkeypox – já existe. A má notícia é que, por enquanto, não há capacidade de produção em larga escala para distribuição mundial.
Porém, como os casos são facilmente identificáveis, já que os sintomas são extremamente característicos da doença, é possível isolar as pessoas infectadas de forma rápida e evitar o contato direto com elas. Para profissionais da saúde ou pessoas que precisam cuidar do doente em casa, o uso de equipamento de proteção pessoal (EPI) é primordial para evitar o contágio.