Recém-nascidos têm mais chances de serem contaminados pela covid-19?
Especialistas explicam que eles não são mais suscetíveis à doença, mas acabam internados quando há qualquer suspeita para acompanhamento de perto do quadro.
Com os altos índices da covid-19 ao redor do país e variantes da doença afligindo diferentes estados, como aconteceu no Amazonas e agora no Rio de Janeiro, dúvidas sobre a doença voltam a surgir. Entre elas, questiona-se sobre a gravidade do vírus respiratório em recém-nascidos, já que gestantes foram classificadas como grupo de risco durante a pandemia e internações de bebês que acabaram de chegar ao mundo começaram a ser relatadas com mais frequência.
Só que a notícia positiva é que os pequenos entre 28 e 30 dias seguem a mesma linha de crianças maiores, sendo menos suscetíveis à covid-19. Entre as diferentes razões estudadas ao longo do primeiro ano de pandemia sobre o assunto, a pediatra Lilian Moreira, membro da Sociedade Brasileira de Pediatria, explica que a mais evidente está relacionada aos receptores celulares.
Isso significa que recém-nascidos e crianças pequenas tendem a ter menos receptores, isto é, proteína ao redor de célula que permite com que o vírus se encaixe, entre para dentro dela e comece a sua reprodução no organismo. Conforme a pessoa vai crescendo tornando-se adolescente e adulto, esse número de receptores fica cada vez maior e, por isso, tornam-se alvos mais voláteis da contaminação.
Então por que eles são internados?
Só que ao mesmo tempo que recém-nascidos são menos tendenciosos a desenvolverem quadros mais graves da doença, Lilian pontua que até o 30º dia de vida do bebê, ele vive uma fase delicada em que seu sistema imunológico é frágil.
Daniel Jarovsky, infectologista pediátrico do Sabará Hospital Infantil, explica que a internação dos bebês tão novos por covid-19 acontece por precaução. “Eles não são internados pela gravidade do caso, mas pela preocupação de uma infecção em uma idade tão tenra e isso se estende para outras infecções”, detalha o especialista.
Portanto, quando o bebê apresenta um pico de febre ainda nos primeiros dias de vida, junto com sintomas respiratórios e prostração, ele tende a ser internado com um quadro chamado de inespecífico. Isso leva a um acompanhamento médico de perto, em que é possível realizar uma série de exames – incluindo o do Sars-Cov-2 já que estamos dentro de um cenário pandêmico – para fechar o diagnóstico.
Os sintomas observados em recém-nascidos
A seguir, enumeramos junto ao pediatra neonatologista Jamil de Siqueira Caldas, membro do Departamento de Neonatologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP), e do infectologista pediátrico do Sabará alguns sinais da doença que levantam a suspeita da doença em bebês que acabaram de chegar ao mundo. São eles:
- Alteração da temperatura
- Prostração (percebida principalmente através da diminuição da mamada)
- Palidez
- Dificuldade para respirar
- Espirros
- Coriza
- Irritabilidade
- Problemas gastrointestinais, como diarréia
O que favorece a contaminação do bebê
Os três especialistas entrevistados concordam que o cenário mais comum que tende a levar o recém-nascido a testar positivo para covid-19 é quando a mãe está com a doença e acaba transmitindo-a ao filho por meio do contato físico. Um exemplo citado é durante a amamentação, quando o aleitamento materno ocorre sem o uso de máscara e higienização correta das mãos antes de segurar o bebê.
O mesmo se aplica para o pai ou outro familiar que tenha convivência direta com o pequeno nos primeiros dias de vida e testou positivo para a doença. Sendo assim, caso estas pessoas cuidem do bebê em momentos como troca de fralda, banho e colo, é fundamental que se faça uso de máscara e higiene correta das mãos com água e sabão.
Outra circunstância também levantada por Daniel é a transmissão vertical (da mãe para o bebê ainda na barriga) quando a gestante é contaminada no final dos nove meses. Entretanto, como aponta estudos recentes da covid-19 em grávidas, casos deste tipo estão sendo classificados como raros.
O recém-nascido será testado?
Mesmo sendo um bebê tão novinho, o exame para fechar o diagnóstico de covid-19 será indicado em circunstâncias necessárias. As três principais são: quando os pais testam positivo para a doença; quando há histórico de contato do pequeno com alguém contaminado; e se o recém-nascido apresenta possíveis sinais do coronavírus e a análise precisa ser feita para descartar ou confirmar a infecção.
Entre os testes disponíveis, o infectologista pediátrico explica que o mais usado é RT-PCR, colhido por meio de um cotonete inserido na nasofaringe e que é capaz de detectar a doença na fase mais aguda. “É o que chamamos de padrão ouro, ou seja, o melhor exame para identificar uma doença. E, por enquanto, o RT-PCR ainda é o mais disponível, principalmente em hospitais”, reforça o especialista.
Cuidados para evitar a transmissão
Para evitar tais desdobramentos que causam angústia à família, Claudia Maekawa Maruyama, infectologista do Hospital San Gennaro, chama atenção dos pais para diferentes cuidados que já começam dentro da própria maternidade. “Verifique se há fluxo para o atendimento e de rotina conforme as orientações sanitárias frente a pandemia, e o uso adequado das máscaras pelos profissionais que terão contato com a mãe e o recém-nascido”, exemplifica.
A especialista ainda recomenda que o acompanhante fique o máximo de tempo possível dentro do quarto em que a mãe e o filho estão, evitando transitar pelo hospital e também sair para rua. Assim, há menos chances de trazer a doença de fora para dentro do hospital.
Já em casa, é fundamental que os responsáveis pelo bebê conversem com os familiares próximos sobre visitar o recém-nascido. Pessoas que não estiverem em isolamento social completo há pelo menos 15 dias ou apresentarem algum tipo de sintoma de quadro gripal não devem visitar o pequeno para preservar tanto a saúde dele quanto da puérpera.
Para pais contaminados pela covid-19, o uso de máscara e a limpeza das mãos com frequência continuam sendo regras dentro de casa para tentar ao máximo que o filho não seja contaminado. Preste atenção também na ventilação do ambiente em que o bebê está, mantendo-o sempre arejado.