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Afinal, grávidas fazem parte do grupo de risco do coronavírus?

Especialista explica que gestantes não são mais propensas à doença, mas têm mais chances de complicações para outras doenças respiratórias

Por Alice Arnoldi
14 abr 2020, 18h18

Em uma nota à imprensa, o Ministério da Saúde afirmou que grávidas e mulheres puerpérias fazem parte do grupo de risco do coronavírus. O órgão federal explicou que essa consideração partiu da análise de como essas mulheres reagiram à doenças respiratórias parecidas com o Covid-19, como H1N1.

“As gestantes e puérperas são mais vulneráveis a infecções e, por isso, estão nos grupos de risco do vírus da gripe. Estudos científicos apontam que a fisiopatologia do vírus H1N1 pode apresentar letalidade nesses grupos associados à história clínica de comorbidades dessas mulheres. Sendo assim, para a infecção pelo Covid-19, o risco é semelhante pelos mesmos motivos fisiológicos, embora ainda não tenha estudo específico conclusivo. Portanto, os cuidados com gestantes e puérperas devem ser rigorosos e contínuos, independente do histórico clínico das pacientes. Ressaltamos que as gestantes e puérperas estão no grupo de risco desde o início, pois são consideradas imunossuprimidas.”

Ainda de acordo com o Ministério, no documento “Protocolo de Manejo Clínico do Coronavírus (Covid-19) na Atenção Primária à Saúde” – que já foi atualizado sete vezes – existem cuidados necessários para cada grupo de risco. Entre as diretrizes, explica-se o porquê de gestantes precisarem de atenção redobrada nesse momento.

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“Até onde as evidências atuais indicam, gestantes e puérperas não possuem risco individual aumentado. Contudo medidas devem ser adotadas para proteção da criança. Além disso, gestantes e puérperas tem maior potencial de risco para desenvolvimento de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) por Síndrome Gripal decorrente do vírus da Influenza.”

É o que também ressalta Beatrice Nuto Nóbrega, ginecologista e obstetra membro da Associação de Ginecologia e Obstetrícia do Estado do Rio de Janeiro (SGORJ). A especialista enfatiza que a mudança do reconhecimento das gestantes como grupo de risco começou a partir de abril. “As grávidas não têm mais chances de se infectarem pelo coronavírus. Mas, considerando o risco de complicação para outras doenças respiratórias, precisamos tratar todas as gestantes como grupo de risco”.

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A obstetra ainda cita um exemplo que auxilia a entender a inserção das grávidas nesta categoria. “Quando chega uma paciente gestante no hospital, com febre alta e falta de ar, você não sabe se é Covid ou se é Influenza. Como não se sabe, é preciso tratar todas como alto risco. Normalmente, grávidas com coronavírus evoluem bem, têm quadros mais leves. Mas na hora, como não sabemos e o teste demora um tempo para sair, precisarmos tratar todas elas como grupo de risco.”

Como está sendo a medida na prática?

A Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro informou através de sua assessoria ao Bebê.com.br que o estado está em concordância com a medida instituída pelo governo federal.

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“Estamos seguindo as orientações do Ministério da Saúde. Quando eles colocaram as grávidas e as mulheres que acabaram de ter bebê em um grupo de risco, nós também mantivemos esses dois grupos em uma classificação mais arriscada para Covid-19.”

Na prática, isso significa principalmente o remanejamento das funções dos atendimentos. “As consultas ambulatoriais foram suspensas. Mas as pré-natais foram mantidas. Há também a preocupação de, se a grávida chega no local e tem algum suspeito de coronavírus, ela é afastada. Ou se a grávida está com sintomas suspeitos, é ela quem é afastada dos demais. Todos os cuidados já vinham sendo tomados.”

Já a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, indicou, através de sua assessoria, que um documento sobre o assunto ainda está em produção. E, até o momento, a principal informação divulgada nas redes sociais da instituição é um vídeo com a Dra. Helena Sato, diretora do Centro de Vigilância Epidêmica.

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Nele, a especialista responde que ainda não se sabe se as grávidas têm uma possibilidade maior de ser infectada pelo coronavírus e reforça que a importância de ficar em casa – já que o isolamento social é a medida mais efetiva para a prevenção da doença.

As orientações sobre parto e amamentação mudam?

Até o momento, grávidas serem tratadas como integrantes do grupo de risco não alteram as orientações sobre o aleitamento materno e a forma de nascimento do bebê.

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Como lembra Fernanda Pepicelli, ginecologista e obstetra pela Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), ainda não há comprovações científicas que evidenciem a transmissão vertical. “Isto é, a mãe infectada parece não passar para o bebê ainda durante a gestação”.

Isso significa que o recém-nascido não testará positivo para o Covid-19 só porque a mãe está contaminada. Entretanto, nesse caso, os cuidados precisam ser redobrados.

Por exemplo, ainda que o aleitamento materno possa seguir normalmente mesmo com a mãe infectada, é necessário que a mulher use uma máscara e faça a higienização adequada das mãos para que não haja a contaminação do filho. Segundo a Organização Mundial de Saúde, em documentos de orientação às gestantes, caso ela não se sinta confortável para dar de mamar naturalmente, também é possível fazer a extração do leite com atenção para a limpeza dos itens usados no processo.

 

A análise de quadro a quadro também é levada em consideração para a via do parto, já que ainda não se sabe se há uma forma mais indicada para o nascimento do bebê em casos de mulheres que testam positivo para o coronavírus.

“O parto normal é sempre preferível, mas a indicação da via de parto deve seguir as características de cada caso. O médico deve definir o que for mais seguro para a parturiente e seu filho naquele momento. A escolha dependerá das condições clínicas da mãe e do feto. Parturientes sem dificuldades respiratórias importantes podem se beneficiar com o parto normal. Por outro lado, nos casos em que a mãe está grave, a cesariana pode estar indicada. Pelo risco de piora súbita do quadro clínico, a monitorização do bem-estar materno e da vitalidade fetal deve ser intensificada.”

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