O que fazer quando as crises de pânico acontecem na gravidez?
Medicamentos e tratamentos possíveis para lidar com o transtorno durante a gestação
Recentemente, em entrevista, Claudia Raia contou que teve crises de pânico durante a gestação do pequeno Luca, seu terceiro filho, hoje com três meses de vida. A atriz, que deu à luz aos 56 anos, descreveu a sensação como “uma pata de elefante no peito” e compartilhou que precisou tomar remédio para dormir. “Depois dos seis meses [de gravidez] foi complicado”, disse ao Fantástico.
De fato, por pior que seja a sensação de vivenciar uma crise de pânico, a gestação não afasta a possibilidade de que ela aconteça; pelo contrário, como explica Juliana Cavalsan, psiquiatra com enfoque na saúde mental da mulher e co-fundadora do blog Sentir Materno. “O período da perinatalidade não é protetor, ele é um período de vulnerabilidade para qualquer doença mental. Então, mulheres que já tiveram o transtorno têm mais chances de desenvolvê-lo novamente na gestação do que aquelas que nunca tiveram”.
A médica ressalta ainda que os sintomas tendem a ser mais intensos na gravidez e que o pós-parto favorece a piora, sobretudo entre a segunda e a oitava semana depois do nascimento do bebê. Apesar disso, o histórico não é determinante – cada caso é individual.
O que define o transtorno de pânico?
Segundo Juliana, considera-se um transtorno quando o intervalo entre as crises é menor que um mês e a pessoa passa a ter um comportamento de esquiva (no limite, sem conseguir sair mais de casa).
Ela ainda descreve como se dá um ataque de pânico: “É um surto abrupto. De repente, do nada, a pessoa estava calma (ou já vinha num estado mais ansioso ou de medo intenso), vem um desconforto muito grande e com um pico que dura por volta de cinco minutos. Os sintomas físicos associados são taquicardia, sudorese, tremor, falta de ar, formigamento pelo corpo, sensação de que vai morrer, perder ou controle ou enlouquecer”.
Fatores de risco e tratamento para o pânico na gravidez
Entre os fatores que tornam a mulher mais suscetível estão o histórico de crises de pânico no passado, quadros de ansiedade generalizada e de depressão. Há, ainda, questões situacionais, como problemas conjugais, baixo suporte social, problemas financeiros, privação intensa de sono, alta demanda de trabalho, gravidez não desejada, entre outros.
Já em relação ao tratamento, a psiquiatra alerta que a conduta depende da intensidade dos sintomas, podendo ir de psicoterapia aliada à atividade física até o caminho medicamentoso. “Uma das escolhas é com o uso de antidepressivos, e é importante ter em mente que a gente precisa avaliar o risco da doença e o risco da medicação. Não tem uma decisão que seja isenta de riscos – nós vamos minimizá-los”, explica.
Vale ressaltar que o transtorno de pânico traz riscos consideráveis para a gestação quando não está sob controle: uma chance maior de aborto, de parto prematuro, pré-eclâmpsia e bebê pequeno para a idade gestacional. “São medicações consideradas seguras e, tendo indicação médica, não tem porque não serem usadas. É mais importante que a mãe esteja com um bom controle da doença mental, do que deixá-la sintomática durante todo esse período”, pondera a médica.
Marília Scabora, psicóloga obstétrica e fundadora da Comunidade Tribo Mãe, destaca também a importância de uma abordagem multidisciplinar. “Além da psicoterapia, da nutricionista e dos medicamentos que podem ser considerados durante a gravidez (decisão que deve ser tomada em conjunto entre obstetra e psiquiatra), alternativas como yoga, meditação e grupo de apoio psicológico a gestantes influenciam positivamente nesse processo”, diz.
Como agir durante um ataque de pânico na gravidez?
“Quando uma mulher percebe que está tendo uma crise de pânico, é importante que ela tente manter a calma e se lembrar de que a crise geralmente atinge o pico em alguns minutos e diminui gradualmente”, orienta a psicóloga.
Algumas estratégias úteis que ela elenca são respirar profunda e lentamente para acalmar o corpo, focalizar a atenção em algo reconfortante ou tranquilizante, como uma imagem mental positiva, e tentar se lembrar de experiências anteriores de superação de crise.
“Na terapia com um profissional especializado, serão traçadas estratégias que façam mais sentido para aquela paciente em específico, levando em consideração os gatilhos dela, os pontos fracos, onde e como ocorrem os ataques. Além disso, se a mulher se sentir insegura ou preocupada com a segurança dela ou do bebê, é aconselhável procurar ajuda médica imediatamente”, alerta Marília.
Por fim, a psicóloga obstétrica recomenda: “Caso você esteja enfrentando crises de pânico ou qualquer outra dificuldade emocional durante a gestação, busque apoio. Os profissionais de saúde, como psicólogos, psiquiatras e obstetras, podem fornecer orientações adequadas e personalizadas para o seu caso específico, considerando sua saúde e a saúde do seu bebê“, conclui.