O que é o terror noturno infantil? Veja como identificar no seu filho!
O despertar súbito durante a noite, junto com choro ou ansiedade, é mais comum na infância. Entenda a diferença do pesadelo e o que fazer durante a crise!
Os pais estão dormindo quando, no meio da noite, escutam gritos ou choros e se deparam com a criança assustada em sua cama. Apesar do choque, o pensamento mais óbvio é que o pequeno teve um pesadelo e o primeiro instinto pode ser acolhê-lo, com abraços e assegurando que nada daquilo é real. Mas nem sempre se trata apenas de um sonho ruim.
A verdade é que o acontecimento, que às vezes assusta os adultos, pode ser um episódio de terror noturno, manifestação comum na infância. “Ele faz parte de uma classe de alterações do sono que chamamos de parassonias e costuma ocorrer a partir dos quatro anos“, explica a neurologista e médica do sono Rosana Cardoso Alves.
A especialista diz que se trata de um distúrbio do despertar, do mesmo grupo do sonambulismo e do chamado despertar confusional.
Terror noturno ou pesadelo?
Embora a reação do pequeno possa ser parecida nos dois casos, as manifestações têm características distintas. “O pesadelo ocorre durante o sono REM, fase em que predominam os sonhos, e a pessoa consegue contar o conteúdo do que sonhou depois de acordar. Já no terror noturno, ela tem amnésia, então não lembra do que aconteceu”, conta Rosana.
Além disso, o terror noturno geralmente ocorre nas primeiras horas da noite e é caracterizado por um despertar súbito da criança, podendo durar poucos minutos ou até segundos. “Em geral, ela grita ou chora e pode sentar na cama e demonstrar pavor”, conta.
Depois desse curto período de tempo, pode ser que o filho volte a dormir ou então apresente taquicardia, respiração acelerada, pele ruborizada, sudorese e até alteração na pupila.
O que pode causar o terror noturno
Como os outros transtornos do sono, o fator genético está presente. Assim, se os pais forem investigar a fundo, talvez se lembrem de algum familiar que já teve episódios na infância ou quando adultos.
Mas não só isso influencia – e é aí que entram os chamados “gatilhos ambientais”. “Vários acontecimentos externos podem desencadear o terror noturno. Por exemplo, se a criança estiver com privação de sono, dormindo pouco ou acordando muito nos últimos dias”, comenta a neurologista.
Problemas respiratórios, infecções e sintomas como tosse, febre e dor também são capazes de influenciar no aparecimento do distúrbio. Muitas vezes, aliás, ele tem relação com a própria evolução do sistema nervoso da criança, cessando com o tempo.
O que fazer quando o episódio acontece
Como dissemos, muitas vezes a criança volta a dormir rapidamente. Em outros casos, como orienta a psicóloga infantil Valeska Chester, vale a pena que os pais tenham a iniciativa de acolher o filho e, se necessário, fazer companhia até que ele adormeça novamente.
Porém é importante tomar cuidado para não fortalecer comportamentos que, quando repetidos várias vezes, podem perdurar, como o de levar o pequeno para a cama dos responsáveis – caso a transição para dormir sozinho já tenha sido feita.
“Marcar presença com a criança pode fazer diferença para acalmá-la. Por vezes, nesses instantes de inquietação, algumas palavras podem causar mais ansiedade. Então cabe tomar cuidado e se dispor a escutar. Saber o que costuma tranquilizar o filho e eventualmente procurar entretê-lo com algo que o apazigue também são boas alternativas”, complementa Daniela.
Agora, se a família já estiver tendo o acompanhamento de profissionais da área, a orientação deve ser individualizada, seguindo-se a abordagem que for recomendada.
Como prevenir o terror noturno
Da herança genética não há como fugir, mas o que os pais podem fazer é tentar proteger os pequenos dos gatilhos ambientais, por exemplo, através de ações que a neurologista Rosana Cardoso Alves chama de “higiene do sono”.
“Isso se faz pela criação de uma rotina de sono regular, com um tempo adequado de descanso”, orienta. Vale procurar um ambiente tranquilo, já que o ruído excessivo pode levar a criança a acordar mais durante a noite, além de evitar agitação horas antes do momento de ir para cama – inclusive deixando de lado as telas.
Aproximar-se do dia a dia da criança e observar como ela vem lidando com suas questões também é uma boa forma de entender os motivos do problema para achar formas de contorná-lo. “Participar mais da rotina do filho e escutá-lo com mais frequência pode fazer aparecer algum assunto diferente, que de repente mostrará de onde vem o desconforto”, indica a psicanalista.
Quando a questão merece uma atenção especial
Por ser mais comum na infância, pode ser que o terror noturno não volte a aparecer durante o crescimento da criança. Mas isso não é regra: se os episódios se tornarem repetitivos, mais intensos ou começarem a atrapalhar a rotina, é importante tomar um cuidado a mais.
“Se tiver esporadicamente, como uma vez por mês, vale explicar para a família que é algo que não vai trazer prejuízo para a criança, que pode ter relação com seu sistema nervoso central, e acompanhar a evolução. Já se começa a ter com mais frequência, é interessante conversar com o pediatra ou partir para um acompanhamento mais especializado”, afirma a neurologista.
Valeska lembra que, além do incômodo durante a noite, essas manifestações – quando frequentes – acabam interferindo no dia a dia do pequeno. “Precisamos estar atentos, porque a má qualidade de sono pode prejudicar o funcionamento diurno da criança, além de trazer muitas vezes irritabilidade, impulsividade, desatenção, ansiedade e até instabilidade emocional“, lista ela.
Neste sentido, a indicação é investigar – não só para melhorar a qualidade de vida do filho, como para prevenir outros problemas comportamentais e cognitivos que podem vir a aparecer. “O tratamento pode ser feito com o pediatra, psicólogo ou psicanalista infantil, neurologista, ou até um médico especialista em sono”, orienta Valeska.