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Escarlatina: o que é, quais são os sintomas e as formas de tratamento

Saiba mais sobre a doença da "língua em framboesa" e veja como proteger as crianças!

Por Ligia Moraes
Atualizado em 28 nov 2023, 14h50 - Publicado em 27 nov 2023, 15h55
Médico examinando língua de criança
 (Sunlight7/Getty Images)
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O estado de São Paulo vem passando por um aumento significativo de casos de escarlatina. De acordo com estatísticas divulgadas pela Secretaria de Saúde na última quinta-feira (23), foram registrados 31 surtos entre janeiro e outubro – para fins de comparação, apenas quatro surtos foram notificados em 2022.

Autoridades internacionais também se preocupam com o aumento de casos. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a incidência da doença começou a subir no ano passado em alguns países europeus, como França, Irlanda, Suécia e Reino Unido, e permanece em alta.

Veja, a seguir, tudo que você precisa saber sobre o assunto!

O que é escarlatina e como ela é transmitida?

A escarlatina é uma doença infectocontagiosa causada pela bactéria Streptococcus pyogenesa mesma da faringite, amigdalite, febre reumática e síndrome do choque tóxico. 

A transmissão ocorre pelo contato direto com a saliva ou secreção nasal de pessoas doentes (mesmo aquelas que têm a bactéria, mas não apresentam sintomas da doença). Dessa forma, o contágio pode acontecer por meio de espirros, tosse, beijo e compartilhamento de objetos atingidos por gotículas contaminadas.

Vale ressaltar que a escarlatina acomete principalmente crianças em idade escolar, pois elas apresentam um sistema imunológico mais imaturo em relação a adultos e têm contato com outras crianças (geralmente, com o compartilhamento de objetos), o que facilita a transmissão da bactéria. 

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Além disso, a incidência da escarlatina costuma ser mais frequente durante épocas quentes, por isso, os números começam a aumentar com a chegada a primavera.

Sintomas da escarlatina

O quadro, geralmente, começa com uma dor de garganta – mas é importante destacar que a maioria das pessoas com infecção provocada por Streptococcus não desenvolve escarlatina.

Para a minoria que acaba desenvolvendo a doença, os sintomas evoluem para febre alta, náusea, mal-estar, dores musculares, cefaleia (dor de cabeça) e sintomas na pele – que fica com manchas vermelhas e parece mais áspera. O nome da enfermidade, inclusive, deriva de “escarlate” (vermelho).

Além disso, a escarlatina deixa a língua bem vermelha e com as papilas (aquelas pequenas saliências) inchadas e com manchas mais escuras, sendo popularmente chamada de “língua em framboesa”.

Rosana Richtmann, infectologista do Hospital e Maternidade Santa Joana, enfatiza que a aspereza das manchas vermelhas na pele é um forte indicativo da escarlatina: “as erupções cutâneas começam no tronco da criança e depois vão para o pescoço e para os membros, mas poupam tanto a planta do pé e a palma das mãos, quanto a região em volta da boca – região periroal – que fica esbranquiçada“.

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Victor Horácio de Souza, infectologista e vice-diretor de Assistência e Ensino do Hospital Pequeno Príncipe, também descreve algumas características comuns da escarlatina. Segundo o médico, essa palidez perioral é chamada de Sinal de Filatov, que pode vir acompanhada ainda por “hiperemia [aumento do fluxo sanguíneo] nas dobras – ou seja, axilas, cotovelo, joelho – fenômeno conhecido como Sinal de Pastia”.

Menino com língua em framboesa, acometido pela escarlatina.

Diagnóstico da escarlatina

O diagnóstico pode ser clínico, ou seja, por meio da avaliação dos sintomas e de exames físicos, mas pode ser confirmado com um exame laboratorial. “A comprovação da hipótese diagnóstica se da através de um exame de cotonete: um swab de orofaringe para procurar a presença da toxina da bactéria”, explica Rosana.

Victor Horácio pontua ainda que a confirmação do diagnóstico também pode ser realizada por exames de sangue. Nesse caso, o laboratório investiga a presença da proteína Antiestreptolisina O (ASLO) no sangue, pois uma concentração elevada desse anticorpo indica infecção por Streptococcus recente.

Outra possibilidade é fazer o teste anti-DNase B, a fim de detectar a presença dos anticorpos. Entretanto, o médico ressalta que, na grande maioria das vezes, esses exames não não necessários, pois o diagnóstico é clínico.

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Tratamento da escarlatina e período de transmissão

Um dos tratamentos da doença é sintomático, ou seja, administra-se medicamentos para conter e mitigar os sintomas. Por exemplo, diminuir a dor no corpo, a dor de garganta e baixar a febre. Também existe um tratamento específico para a escarlatina que visa combater a infecção com o uso de antibióticos, que devem ser prescritos por um profissional da saúde.

“A transmissibilidade acontece enquanto a criança não faz a medicação para escarlatina, que, nesse caso, é a penicilina benzatina. Após 24 horas da administração desse medicamento, ela não transmite mais”, pontua Victor Horácio.

Paola Cappellano Daher, consultora médica em infectologia e microbiologia do Grupo Fleury explica que uma pessoa sem tratamento pode transmitir a escarlatina por semanas, daí a importância do uso da penicilina. Ela também ressalta que o período de incubação da doença – ou seja, o intervalo entre a data do primeiro contato com a bactéria até o início dos sintomas – tende a durar de 2 a 5 dias. 

Os sinais de alerta para complicações da escarlatina 

Rosana chama atenção para as principais complicações da doença: “pode haver acometimento tanto cardíaco-articular (como uma febre reumática) quanto renal, levando a uma glomerulonefrite [inflamação de uma região do rim, o glomérulo]“. A médica ainda alerta que, “apesar de a Streptococcus pyogenes ser muito sensível a antibióticos comuns, como a penicilina, ela pode ter uma toxicidade grande, levando, inclusive, à sepse e à morte”. 

bactéria Streptococcus A

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Prevenção da escarlatina

É importante ressaltar que, para minimizar a transmissão e a infecção da bactéria, é de suma importância não enviar os filhos doentes à escola e comunicar se houver uma suspeita de escarlatina, para que outros pais mantenham atenção aos possíveis sintomas. “Aprendemos, durante a pandemia, a responsabilidade de não colocar outras pessoas em risco”, ressalta Richtmann. 

Além disso, manter uma boa higiene é imprescindível para conter a disseminação da doença. “Lavar as mãos é fundamental para que, mesmo que haja contato físico com um ambiente contaminado, você não se infecte com a bactéria”, a médica explica. Victor também faz algumas recomendações como “tomar bastante líquido e evitar alimentos gelados”.

“Como a criança pode estar infectada com a bactéria e não apresentar nenhum sintoma – se estiver havendo um surto na sua escola ou na sua região – o melhor é investigar se ela pode ser uma portadora assintomática da bactéria”, diz a médica. Se esse for o caso, é preciso tratá-la com antibiótico para evitar a disseminação.

Vale lembrar que não existe vacina contra a escarlatina.

A pandemia e o “apagão imunológico”

Segundo Victor Horácio, nós vivemos, atualmente, um quadro que não existia antes da pandemia, com doenças invasivas mais graves causadas pelo Streptococcus.

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“Muito provavelmente devido ao nosso isolamento – que fez com que ficássemos praticamente dois anos sem pegar doença nenhuma – podemos dizer que houve um ‘apagão imunológico’ e, agora, quando entramos em contato com o Streptococcus, ele acaba causando uma doença mais invasiva não porque ele está mais agressivo, mas porque as nossas defesas estão mais baixas”, explica.

Rosana compartilha da mesma visão. “O aumento de casos em crianças e em alguns adultos deve estar relacionado ao pós-pandemia. Em razão do uso de máscaras e do isolamento social, nós deixamos de nos expor à bactéria causadora da escarlatina e, com isso, a população está um pouco mais suscetível à doença“, finaliza.

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