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Confessionário: “Benício nasceu de parto normal, com 510g e 30cm”

Conheça a história do bebê prematuro extremo que chegou ao mundo com 23 semanas de gestação e enfrentou muitos desafios desde o início da vida

Por Carla Leonardi
5 jan 2023, 12h06

Uma gestação é sempre desafiadora, mas saber que o bebê pode vir ao mundo a qualquer momento – bem antes do que seria o ideal – é muito mais preocupante e difícil. Foi o que aconteceu com Flávia, que descobriu na 23ª semana de gravidez que seu colo do útero estava aberto. Desde então, ela e o marido, Fernando, enfrentam uma série de desafios com Benício que, apesar da prematuridade extrema, hoje está saudável e feliz. Veja, a seguir, o depoimento completo da mãe:

“Me chamo Flávia Saragiotto, tenho 39 anos e sou fisioterapeuta. Sou casada com o Fernando Montezuma, 40 anos e veterinário. Estamos juntos há três anos e sempre sonhamos em construir uma família e ter filhos. Em 3 de janeiro de 2021, fizemos um teste de farmácia e recebemos a notícia que tanto esperávamos: estávamos grávidos do nosso primeiro filho.

Realizamos o primeiro ultrassom morfológico aos três meses de gestação e estava tudo perfeito. Nosso bebê crescia saudável. Eu ainda não sabia o sexo e pedi para o médico não me contar, pois queria descobrir somente no chá revelação, que fizemos em março de 2021, quando descobrimos que teríamos um menino. Sempre tive a certeza de que teria um menino e, inclusive, já havíamos escolhido o nome: Benício!

Minha gravidez seguia tranquilamente até que, com 23 semanas de gestação, comecei a ter corrimento e cólica. Fui me consultar com o médico que me acompanhava. Ao me examinar, o especialista identificou que o colo do meu útero estava aberto. Por esse motivo, fui encaminhada com urgência para o Pronto Atendimento do Hospital e Maternidade Pro Matre Paulista, onde realizaram uma ultrassonografia e fui internada na Unidade de Terapia Semi-Intensiva para que pudesse ser monitorada de perto, já que a qualquer momento a bolsa poderia romper e corríamos o risco de o Benício nascer antes do tempo.

Nesse momento, confesso que perdi um pouco as esperanças, pois sabíamos que não daria para prosseguir com a gestação até as últimas semanas. Com isso, meu médico não tinha um prognóstico favorável e, por falta de conhecimento da minha parte e do meu marido sobre prematuridade e histórias de bebês prematuros extremos, receber a notícia de que provavelmente viveríamos essa experiência foi ainda mais difícil. Tínhamos muito medo de como o Benício nasceria e das sequelas que poderia ter, mas decidimos que não pensaríamos nisso o tempo todo e meu marido foi sempre muito otimista.

Benicio, bebê, prematuro-extremo, no deitado no peito da mãe. Está com um gorrinho na cabeça e com fios e tubos no nariz/boca, presos por esparadrapo; Coberto com um cobertor branco.
Benício, prematuro-extremo, intubado na UTI Neonatal (Flávia Saragiotto/Arquivo Pessoal)

As dificuldades da prematuridade extrema

Após dois dias na semi UTI da Pro Matre, em 8 de maio de 2021, minha bolsa rompeu e Benício nasceu de parto normal, pesando 510 gramas e medindo 30 centímetros. No momento em que ele nasceu, a médica o colocou em minha barriga para que pudesse vê-lo e tocá-lo, mas tudo foi muito rápido, pois ele precisava ser intubado imediatamente e levado para a UTI neonatal pela equipe que já estava prontamente preparada para o processo.

Nos primeiros dias, tive muito medo de perdê-lo e nem mesmo conseguia conversar com a equipe que estava cuidando do Benício. Meu marido é quem toda manhã recebia o boletim diário e conversava com os médicos para depois me contar. Tentei extrair leite no lactário para estimular a amamentação quando o Benício tivesse condições de receber meu leite materno, mas sem sucesso, e isso também mexia comigo.

Passado tudo isso, já com 21 dias de vida, peguei o Benício no colo pela primeira vez, ainda na UTI neonatal e, por ele ser muito pequeno, estava tensa e ansiosa. A emoção de segurar um filho no colo pela primeira vez é indescritível!

No início, estávamos muito assustados com a fragilidade do Benício e com todos os aparelhos que ficavam conectados nele o dia todo. Durante toda essa jornada, que foi de altos e baixos, percebemos que todos os cuidados, intervenções, medicações e tratamentos eram fundamentais para que ele ficasse bem.

A felicidade da alta e os novos desafios

A primeira tentativa de extubá-lo não deu certo. Ao todo, foram 102 dias que Benício ficou intubado. Depois, passou para o cateter nasal e, aos poucos, a pressão do oxigênio foi sendo reduzida. E foi justamente esse o maior desafio, pois ele dependida do oxigênio e isso foi por muito tempo, o que atrasou a alta. Durante os meses de internação, Benício precisou passar por um procedimento cirúrgico de hérnia inguinal. Foram meses de muita ansiedade e tivemos que aprender a ter paciência.

O dia da alta era o mais esperado. Foram quase três meses intubado e nove meses de UTI neonatal. Em 21 de janeiro de 2022, pudemos, enfim, levar nosso filho para casa. Foi maravilhoso, acho que esse foi o melhor dia das nossas vidas. Foi uma mistura de gratidão e alívio.

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Benício, já com um ano e sete meses, sorrindo. Está com um moletom de capuz, tem a pele branca e os olhos castanhos.
Benício teve alta nove meses depois de nascer. Precisou de acompanhamento, mas segue saudável (Flávia Saragiotto/Arquivo Pessoal)

Por causa da baixa saturação, Benício precisou de apoio de oxigênio para ir para casa, mas aos poucos a necessidade foi reduzindo. Em 8 de maio de 2022, quando completou 1 ano, nosso pequeno venceu mais uma batalha e passou a respirar completamente sozinho. Ele também precisou de alguns acompanhamentos com cardiologista, fisioterapeuta, fonoaudióloga, oftalmologista, além do pediatra de rotina. Mas não teve nenhuma sequela. Apenas alguns atrasos naturais no desenvolvimento motor devido à prematuridade extrema. A introdução alimentar e ganho de peso também foram bastante desafiadores e a questão se acentua quando se trata de um bebê que nasceu prematuro.

Atualmente, com um ano e sete meses, Benício se alimenta bem e está quase andando. Por isso, somos muito gratos à equipe da Pro Matre, com a qual criamos um vínculo de muito carinho, e também todos os dias agradecemos a Deus pela oportunidade de ter nosso filho crescendo saudável ao nosso lado.

Fernando, Benício e Flávia, Benício no meio dos dois, sorrindo.
(Flávia Saragiotto/Arquivo Pessoal)
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