Parto e pós-parto

Como acontece a dilatação do colo do útero no trabalho de parto

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por Alice Arnoldi Atualizado em 21 ago 2020, 17h47 - Publicado em
21 ago 2020
17h26

Para te ajudar a visualizar o que significa dilatar dez centímetros para a passagem do bebê, montamos um infográfico comparativo usando fatias de frutas. 

A jornada dos nove meses de gestação é regada pela ansiedade de como será o nascimento do bebê. O planejamento tende para que a via seja vaginal pelos benefícios ao recém-nascido, só que isso depende de um processo chamado dilatação do colo do útero. A ideia pode deixar algumas mães aflitas e também temerosas sobre como é possível chegar aos dez centímetros necessários para o pequeno vir ao mundo no parto normal.

Como explica o obstetra Guilherme Loureiro Fernandes, co-responsável pelo setor de medicina fetal da Maternidade Pro Matre Paulista, o colo do útero é a região que faz fronteira entre o órgão feminino e a vagina. “Ele funciona como uma válvula, que protege o bebê de nascimentos prematuros e que funciona como uma barreira de proteção, pois dentro dele existem células que impedem que germes subam da vagina para dentro do útero, infectando a gravidez”, detalha o especialista.

Com a chegada do trabalho de parto, caracterizado principalmente pelas contrações ritmadas no fim da gestação, o colo do útero torna-se a fenda que possibilita que o bebê venha ao mundo. Só que diferente do que pode existir no imaginário popular, a primeira transformação desta musculatura não é a dilatação, mas um afinamento.

“No início das contrações de trabalho de parto, o colo não inicia dilatando de imediato. Primeiro, ele afina, tornando-se menos espesso. Para, na sequência, começar a dilatar e ampliar sua abertura para permitir a passagem do bebê na hora do parto”, explica Naira Scartezzini, obstetra e ginecologista.

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A especialista reforça que o tempo para chegar aos dez centímetros varia de acordo com cada organismo feminino. Mas a média é de um centímetro por hora, resultando em um trabalho de parto que demora, no mínimo, dez horas para acontecer.

E para ficar mais fácil de entender o que significa cada centímetro da dilatação, fizemos uma comparação com os diâmetros de frutas popularmente conhecidas. O objetivo é conseguir tirar do abstrato o quanto o colo do útero realmente distenderá para que o bebê consiga nascer. Se sobrar dúvidas, use uma régua também, ok?

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(Juliana Pereira/Bebê.com.br)
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Quais são os sinais da dilatação?

Naira explica que só é possível ter certeza que o colo do útero está dilatando com um exame de toque vaginal. “Ele deve ser feito de forma delicada, mas é necessário para que possamos apalpar o colo e, por meio dos dedos indicador e médio, checar qual é a distância entre as bordas dele”, esclarece a médica.

Entretanto, existem três sinais pontuados pela obstetra que podem indicar o início do trabalho de parto e, consequentemente, a dilatação do colo do útero. O primeiro é a contração característica do momento, que precisa vir sequenciada e ritmada (em média, três contrações de 30 a 40 segundos cada, em um intervalo de dez minutos). Para saber mais sobre elas, clique aqui!

O segundo é a movimentação do feto. Naira explica que é importante a gestante sinalizar para o obstetra que a acompanha caso ela perceba que o bebê não está se mexendo como de costume, chamando atenção da mãe pela mudança de comportamento. Mas fique tranquila, porque isso não significa que há algo de errado com ele, apenas que está se posicionando para nascer.

E o terceiro e último fator é a perda de sangue ou líquido. É importante avisar ao médico, porque é normal que a dilatação do colo do útero leve a liberação de uma pequena quantidade de sangue. Mas caso a perda seja excessiva, como se fosse uma menstruação, pode indicar descolamento precoce da placenta.

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Com a sinalização do que está acontecendo para o obstetra e o exame de toque vaginal, é possível entender se já é o momento da gestante ficar na maternidade ou se, mesmo estando em trabalho de parto, ainda é melhor que ela espere a evolução em casa.

“Muitas vezes, a paciente tem contrações por conta da fase latente do trabalho de parto. Mas elas não são efetivas, o que significa que não estão dilatando o colo do útero. Neste caso, não há necessidade de ficar em um ambiente hospitalar”, exemplifica Fernanda Pepicelli, ginecologista e obstetra pela Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). 

Já situações como o rompimento da bolsa e a grávida relatar que sente cada vez mais peso na pelve costumam ser analisados como casos em que a mulher permanece na maternidade para ser monitorada de perto, junto com o bebê.

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O começo pode demorar mais

Como acontece no mundo materno em diversas situações, a dilatação do colo do útero varia de mulher para mulher e, mais do que isso, ela pode não ser linear. Na prática, isso é visto no começo do trabalho de parto, quando os primeiros centímetros podem parecer mais lentos do que os últimos.

“Fazemos uma média de um centímetro por hora ao falarmos de dilatação. Mas, em geral, os primeiros tendem a demorar mais para acontecer. Isso porque muitas vezes é quando as contrações não estão tão sincronizadas”, explica Fernanda.

Além do físico, o emocional também conta nessa hora. Como lembra Naira, a ansiedade para o bebê nascer e a intolerância com a dor tão nova da contração podem mudar as noções de “lento” e “rápido” para a gestante, parecendo que os primeiros centímetros foram mais difíceis de serem alcançados.

Outro fator que também influencia (e muito) a evolução da dilatação é o histórico de gestações anteriores. Caso a mulher já tenha passado por um parto vaginal, essa abertura pode acontecer com mais facilidade. Inclusive, essa memória registrada do útero de saber como se preparar para a chegada do bebê leva algumas gestantes a terem uma leve dilatação antes mesmo de entrarem em trabalho de parto.

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“Isso pode acontecer por um processo natural, em que as enzimas, os hormônios e a resposta imunológica que vão preparando o colo do útero para um parto vaginal começam a trabalhar antes das contrações”, esclarece Guilherme.

Só que Fernanda pontua que esta dilatação antes do trabalho de parte pede atenção dos médicos. Ela pode levar a um parto prematuro, mas não é regra. Algumas gestações desenrolam normalmente.

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A cicatrização do útero

Após o período de expulsão, em que o bebê nasce, Naira explica que o útero se prepara para a última fase do parto que é chamada de dequitação. Nela, a placenta é expelida com as demais membranas que foram descolando no processo.

No pós-parto, Guilherme detalha que o útero retorna ao tamanho de antes da mulher engravidar em 12 dias. Entretanto, a sua recuperação completa e do restante do organismo leva de 40 a 45 dias, período intitulado como quarentena. É neste intervalo que médicos também orientam casais a não terem nenhum tipo de relação sexual.

Esta retomada ao tamanho inicial pode ser marcada por cólicas, já que o encolhimento do útero depende de leves contrações incentivadas pela liberação da ocitocina. Durante o aleitamento materno, esta cólica pode ser intensificada pela liberação deste hormônio durante as mamadas.

“O útero vai diminuindo de volume através das contrações, o colo vai se fechando conforme isso vai acontecendo e a amamentação, nesse quesito, é um ponto muito importante. Porque ela auxilia na liberação da ocitocina natural, o que contribui para que o útero volte para a cavidade”, reforça Fernanda.

Só tenha em mente que, mesmo se a amamentação não acontecer, isso não significa que o útero deixará de seguir o processo natural dele de cicatrização. Pelo contrário, com o passar dos dias, ele vai contraindo e reduzindo conforme o esperado.

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