Uso de telas nas férias escolares: é possível flexibilizar com equilíbrio?
Sim, mas mostrando à criança que aquele é um recurso para momentos específicos e não está disponível sempre que ela tiver vontade
Para muitas famílias, sobretudo aquelas que não contam com nenhum tipo de ajuda em relação aos filhos, as férias trazem o desafio de lidar com as crianças 100% do tempo em casa e sem as atividades habituais da rotina escolar e extracurricular. O resultado é até esperado: pequenos entediados e entregues às telas – sejam de videogame, tablet, celular, computador ou até mesmo a televisão. Mas não precisa ser assim. O melhor, aliás, é que não seja, principalmente nos primeiros anos de vida.
“Na primeira infância, não existe qualquer razão para que a criança precise ter acesso a telas e para que isso ajude no desenvolvimento dela”, afirma Camila Menon, professora diretriz Montessori da Educar é Preciso. Mas nós sabemos que, na vida real, a prática às vezes fica longe do ideal. Nas férias, então, a vontade dos pequenos de passar mais tempo com seus gadgets costuma ficar ainda maior, o que tende a aumentar se eles não tiverem outras atividades disponíveis ou se não forem estimulados a fazer outras coisas.
“Da mesma forma como quando a criança está na escola, a rotina deve ser estruturada de acordo com as necessidades de estímulos que ela tem”, observa a especialista em primeira infância. Isso significa que não é porque há mais tempo disponível, que é interessante flexibilizar o uso das telas, afinal, o processo de desenvolvimento não fica suspenso nesse período. “As necessidades para o desenvolvimento cognitivo, emocional e físico da criança não se alteram por períodos do ano ou necessidades dos adultos”, alerta Camila. Por outro lado, a rotina familiar pode ficar bem complicada enquanto as aulas não voltam – o que, durante a pandemia, ficou ainda mais evidente – e a tecnologia acaba funcionando como aliada dos pais ou cuidadores em algum momento.
A questão, aqui, não é o ideal, mas o possível. Com isso em mente, a especialista orienta que a família dê prioridade a passatempos fora das telas, deixando o tablet apenas para momentos mais específicos. “Foque em atividades que criem conexões, em atividades ao ar livre e que ensinem/treinem habilidades durante o dia, e deixem as telas apenas como distração para quando os pais não estiverem disponíveis”, diz a professora (por exemplo, o intervalo da hora em que a criança terminou uma atividade e o cuidador está preparando o jantar).
Como, durante as férias, esses momentos acabam ficando mais frequentes, já que os pequenos estão muito tempo em casa, o período de tela também tende a aumentar. O importante é que a tecnologia seja vista, ao longo da primeira infância, como um recurso para esses intervalos, não como uma atividade que vai colaborar para o desenvolvimento infantil.
Uso de telas em viagens longas
Se você já enfrentou uma descida para o litoral paulista em fim de ano ou um longo voo, sabe o quanto os pequenos podem ficar irritados e cansados por não poder gastar toda a energia que têm. “Crianças precisam de movimento, e é importante que o adulto acolha essa necessidade”, comenta Camila. Pensando nisso, ela orienta que, em viagens curtas, a família faça paradas, aproveite as sonecas para pegar a estrada e proponha atividades que possam gerar conexão durante o trajeto (cantar, contar histórias, colar adesivos e fazer brincadeiras faladas são algumas opções).
Já para viagens mais longas, é possível estabelecer um combinado em relação às telas, afinal, até nós apostamos nesse recurso para aguentar tanto tempo de viagem. “Deixando claro que o uso se dá por conta da distância, mas mesmo assim com limites. Tenha outras opções de entretenimento e permita que a criança se mova no trajeto. Além disso, é importante ensinar que, ao usar telas em locais fechados com outras pessoas, o uso de fone de ouvido se faz necessário. Então, se for usar telas no avião, tenha um fone de ouvido apropriado para ela”, finaliza Camila.