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Entenda como funciona a gravidez independente por reprodução assistida

Seja por inseminação intrauterina ou fertilização in vitro, gerar um bebê a partir do banco de sêmen é possível. Saiba como se dá esse processo.

Por Carla Leonardi
Atualizado em 26 out 2023, 09h29 - Publicado em 5 out 2022, 16h50

Você estuda, começa a trabalhar, inicia uma pós-graduação, termina um relacionamento longo e, de repente, percebe que está passando dos 35 anos e aquela vontade antiga – ou nova – de ser mãe te lembra que seus óvulos estão envelhecendo, embora você se sinta no auge da vida. Nesse sentido, o tempo é mesmo cruel com as mulheres.

Não ter um parceiro quando o relógio começa a apertar gera muitos questionamentos. E se não der tempo? E se eu continuar esperando ou procurando e perder a chance de gerar um bebê? Atualmente, com a presença feminina cada vez mais forte no mercado de trabalho, essa situação tem se tornado mais comum. Mulheres que, assim como os homens sempre tiveram a possibilidade de fazer, querem focar na carreira e se estabilizar antes de ter um filho. E é aí que a ciência entra: hoje, a reprodução independente é uma possibilidade real, embora ainda restrita a um grupo bem específico.

Maternidade e carreira

“Existe um perfil bastante típico para as mulheres que desejam realizar a chamada ‘gravidez independente’. Normalmente, são aquelas na faixa acima dos 35 ou 40 anos, solteiras ou que já foram casadas anteriormente, com alto nível educacional e que ocupam posições de chefia nas suas áreas profissionais”, explica Fernando Prado, ginecologista, obstetra e especialista em Reprodução Humana, diretor clínico da Neo Vita e coordenador médico da Embriológica

A publicitária Flávia Janini, de 42 anos, é uma dessas mulheres que procurou pela reprodução independente para realizar o sonho da maternidade. Pensando no futuro, ela já tinha congelado os óvulos por volta dos 36 anos e, quando a pandemia de Covid-19 começou, sentiu que era o momento de ir atrás daquele desejo.

“Eu pensei na minha idade e no tempo que levaria até conhecer alguém, além de essa pessoa também ter que querer constituir família. Até para não apressar isso, eu busquei fazer de forma independente. Não precisei ficar com essa cobrança na minha cabeça e ‘troquei a ordem’”, conta Flávia, que hoje é mãe de Bruna, de quatro meses, fruto desse processo.

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(Artem Podrez/Pexels)

Os requisitos para a gravidez independente

Num cenário ideal, a mulher que deseja engravidar, seja sozinha ou não, precisa ter sua saúde bem avaliada. Por isso, quando ela procura por esse tipo de tratamento, é submetida a uma série de questionários e exames. “Não pode ter doença crônica descompensada, como diabetes, hipertensão ou distúrbios da tireoide. Além disso, ela deve iniciar o uso de vitaminas de preparação à gestação e também é recomendável uma consulta com nutricionista ou nutrólogo”, alerta Fernando Prado.

Ainda segundo o especialista, idealmente, a mulher deve ter menos de 50 anos. Acima dessa idade, os riscos para a gestação devem ser analisados em pormenores com o médico obstetra.

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“Também é válido lembrar que ter uma rede de apoio para ajudar nos cuidados com a criança depois do nascimento é fundamental. Essa mulher vai retornar às suas atividades e irá precisar de ajuda nos cuidados, seja de babá, amigos, familiares, ou mesmo de algum novo companheiro ou companheira de relacionamento”, o médico chama a atenção.

Flávia conta que teve muito apoio dos amigos e dos irmãos, que a incentivaram durante todo o processo. “Claro que a gente nunca sabe o que vem pela frente, a gente tenta se planejar o máximo possível, mas era importante saber que eu podia contar com eles”, ressalta. “Minha mãe e minha avó, que tem 98 anos (e que foi homenageada na escolha do nome da bebê), foram sabendo aos poucos. Para elas foi um pouco preocupante a questão de criar um filho sozinha, mas depois me deram muito apoio”, relembra.

Flavia Janini grávida
Flávia Janini grávida de sua bebê, fruto de reprodução independente (Flávia Janini/Arquivo Pessoal)

Métodos de reprodução assistida

A reprodução independente pode se dar de duas formas: pela inseminação uterina e pela fertilização in vitro, a FIV. Nos dois casos, o sêmen vem de um doador anônimo que a mulher vai escolher em um banco de dados, que traz informações como idade, altura, profissão, interesses, questões genéticas, entre outras. Vale lembrar que, no Brasil, não é permitido revelar a identidade dos doadores.

“Na inseminação, o sêmen processado é introduzido na cavidade uterina com o auxílio de um cateter. Depois disso, o processo é todo natural: os espermatozoides devem nadar até a tuba uterina, encontrar o óvulo, fertilizá-lo e formar o embrião. Este, por sua vez, irá se dividir e migrar de volta para a cavidade uterina, onde irá se implantar para gerar a gravidez”, detalha o especialista.

Já na fertilização in vitro, há mais intervenção médica, como o obstetra explica: “O sêmen é processado em laboratório e usado para fertilizar os óvulos que foram retirados previamente dos ovários. Depois, os embriões formados ficam em uma incubadora se desenvolvendo por 5 dias, até atingirem um estágio de maturidade, chamado de blastocisto. Então, esse blastocisto é transferido já pronto para a cavidade uterina, também por um cateter. Só resta a ele implantar e gerar a gravidez”.

A escolha no banco de sêmen

Para Flávia, uma das etapas mais difíceis de todo o processo foi justamente a da escolha do doador. “É um pouco chocante você ir num site e começar a filtrar quem poderia ser o pai da sua filha. Porque na vida real não escolhemos dessa forma. Acabei optando muito pela parte genética, observando doenças ou coisas assim”, relata. Para ela, essa foi a parte mais demorada, que levou cerca de seis meses.

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“Depois, você passa por estímulo de hormônios, tomando injeções, e vai fazendo todo o acompanhamento. Eles te deixam um pouco inchada, mas nada que cause um desconforto tão grande. Já a transferência é um momento muito mágico, especial, você vê o embrião sendo colocado no teu útero, é algo que eu tenho filmado”, conta carinhosamente.

Imagem de um óvulo sendo fertilizado em laboratório
(the-lightwriter/Thinkstock/Getty Images)

Decisão que precisa de planejamento

Embora Flávia tenha considerado o processo relativamente simples, ela conta que as preocupações são inevitáveis. “Eu pensava, por exemplo, como seria depois, com minha filha perguntando sobre o pai”, diz. Por isso, ter um preparo psicológico e uma forte rede de apoio – seja para ajuda prática ou para conversar e desabafar – é tão importante. 

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“Acho que, se a mulher tem esse desejo, deve ir atrás, mas também se planejar e se estruturar, afinal, é uma criança. Precisa pensar na questão financeira, pois um filho é custoso, e também ter a cabeça tranquila, estar com o psicológico preparado. Eu fiz terapia porque sabia que mais questionamentos iriam surgir depois, então precisava trabalhar ‘o antes’ como fosse possível”, relata.

Bebê de Flávia Janini
A pequena Bruna, filha de Flávia Janini, aos 4 meses de vida (Flávia Janini/Arquivo Pessoal)

O custo da fertilização in vitro

No Brasil, o doador do esperma deve permanecer anônimo, mas nos Estados Unidos, por exemplo, não. O que algumas mulheres fazem aqui é importar o sêmen – procedimento que precisa ser feito, obrigatoriamente, por intermediação de uma clínica de reprodução humana brasileira por determinação da Anvisa. 

Segundo Fernando Prado, os valores de uma fertilização in vitro podem variar muito, dependendo da clínica escolhida. De maneira geral, fica entre 15 e 30 mil reais, sendo que a compra de sêmen de um banco dos EUA custa de 7 a 10 mil reais.

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