Até quando bebês prematuros precisam de cuidados especiais?

Eles são mais frágeis, porque tiveram menos tempo e proteção para se desenvolver totalmente dentro do útero materno

Por Da Redação
30 nov 2022, 15h34
Gravidez: É seguro fazer tatuagem? Descubra os riscos reais para a mãe e bebê
Gravidez: É seguro fazer tatuagem? Descubra os riscos reais para a mãe e bebê (Cavan Images/Getty Images)
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Quando o bebê chega antes da hora – ou muito antes da hora, no caso dos prematuros extremos – a preocupação é intensa. É internação na UTI, uma maratona para tirar o leite e oferecer, a atenção redobrada com a respiração, o desenvolvimento, possíveis infecções… Além disso, existe a complexa missão de equilibrar as emoções e o psicológico dos pais nesse momento. É preciso buscar forças para ajudar aquele serzinho tão frágil e vulnerável a sobreviver. Um dia por vez.

Mas, afinal, até quando um prematuro que vence todas essas dificuldades iniciais precisa de atenção especial? Quais são, aliás, os cuidados mais importantes antes e depois da alta hospitalar? A saúde e o desenvolvimento dessa criança vão requerer necessidades diferentes para sempre ou existe um momento em que ela consegue se igualar a seus pares? Para entender um pouco melhor essas questões e oferecer algumas respostas importantes, conversamos com uma especialista no assunto, a pediatra e neonatologista Silmara Aparecida Possas, que é gerente das Unidades de Terapia Intensiva do Hospital Pequeno Príncipe (PR).

Cuidados com a vacinação na prematuridade

Ainda na barriga, o bebê obtém uma grande parte das defesas do sistema imunológico da mãe no terceiro trimestre, principalmente a partir da 34ª semana de gestação. Isso significa que uma criança nascida a termo ainda tem algumas semanas para receber esses anticorpos, enquanto está protegido dentro do útero. Quando um bebê nasce prematuro, sobretudo antes dessa idade gestacional, sua imunidade é ainda mais incompleta e ele precisa desenvolvê-la já do lado de fora, provavelmente dentro de uma UTI neonatal, onde, apesar de todo o rigor, fica mais exposto a agentes infecciosos, se comparado ao ambiente intrauterino.

Os cuidados com a imunização, portanto, precisam ser ainda mais acentuados do que os que se tem com bebês que nascem após as 37 semanas. “O esquema vacinal é diferente com o início da vacinação habitual do governo brasileiro, associado ao uso de anticorpo, pensando em quadros pulmonares”, explica Silmara.

Há um calendário de vacinação específico para bebês prematuros. Ele é parecido com o de crianças nascidas a termo, mas tem algumas particularidades. A vacina BCG, por exemplo, que os recém-nascidos recebem logo que chegam ao mundo, só deve ser dada quando eles atingirem o peso mínimo de 2 kg. Os prematuros também recebem anticorpos para diminuir as chances de infecção pelo VSR, vírus que causa a bronquiolite.

Como fica a alimentação do prematuro?

O leite materno, lógico, é o alimento mais importante. “A gestante que tem parto prematuro produz um leite específico para o seu bebê. A natureza é impecável. No entanto, associado a isso, temos fórmulas específicas”, explica a neonatologista. Segundo a especialista, elas são produzidas para fornecer os nutrientes adequados para o desenvolvimento renal, pulmonar e cerebral. “Se, por algum motivo, a mãe não consegue suprir o filho com o próprio leite, existem essas opções, que devem ser usadas até que o bebê complete a não prematuridade, ou seja, o momento em que ele atinge a idade gestacional de 38 semanas”, afirma. Isso quer dizer que uma criança nascida de 30 semanas, por exemplo, deve usar essa fórmula por oito semanas aproximadamente, dependendo da avaliação médica. Depois disso, de acordo com Silmara, com todo o monitoramento, ele pode começar a transição para o leite de bebê a termo e ser exposto às proteínas. “Nem sempre isso é feito com tanta tranquilidade, mas ocorre e é possível”, reforça.

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Outro ponto que merece atenção, a neonatologista ressalta, é o momento de liberar um prematuro para receber alimentação sólida. Em geral, as crianças começam a introdução alimentar por volta dos 6 meses. Com os prematuros, na maioria dos casos, os pediatras usam a idade corrigida, ou seja, os 6 meses atingidos contando a partir do momento em que o bebê completaria 40 semanas de gravidez e não do dia do nascimento.

Mas a data não é exata e vai depender de cada criança e do parecer realizado pelos profissionais multidisciplinares que cuidam dela. “É necessário fazer uma avaliação neurológica de mastigação e de deglutição para ver se é possível”, diz a médica. Ainda que o bebê seja liberado para começar a receber alimentos sólidos, isso acontece com cuidado e com um olhar muito atento, para saber até quando é preciso fazer a suplementação. “Por vezes, você oferece o nutriente, mas a absorção não é tão adequada. Muitos prematuros têm problemas gastrointestinais, passam por cirurgias, submetem-se a tratamentos com antibióticos prolongados. Nem sempre o intestino consegue absorver como esperado”, exemplifica.

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(Nenov/Getty Images)

Alta hospitalar: um misto de alegria e tensão

O momento mais esperado é a alta de um bebê prematuro. Depois de meses ou semanas de agonia na UTI neonatal, finalmente os pais podem levar o filho para casa. Mas o sentimento é bem dividido, segundo Silmara. “Nesse dia, todas as lágrimas que vejo da equipe médica, assistencial, de pais e avós são de alegria, mas também de extrema preocupação”, conta.

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É normal que os responsáveis se sintam um pouco tensos diante da necessidade de cuidar sozinhos de um bebê frágil que, até então, era monitorado por profissionais 24 horas por dia, sete dias por semana. Por isso, de acordo com a médica, geralmente a alta é anunciada alguns dias antes da data prevista. “O pai e a mãe têm de se empoderar e se sentir seguros”, explica. Para ajudar, durante todo o tempo de internação, eles são estimulados a participar ativamente dos cuidados, seja na troca de fralda, na alimentação, no banho seco…

E o que acontece depois que essa criança vai para casa? “É algo muito próximo da rotina da UTI neonatal ou daqueles poucos dias em que permanecem no quarto”, afirma Silmara. Em um primeiro momento, é importante manter as visitas restritas, deixar o quarto ensolarado, ter um bom padrão de higiene, entre outros cuidados.

O prematuro que tem alta do hospital ainda precisa continuar sob o olhar atento da equipe multidisciplinar. É fundamental verificar com o pediatra qual a frequência ideal de consultas – o que pode variar de acordo com a necessidade. Algumas crianças precisam de terapias respiratórias ou motoras, acompanhamento de fonoaudiologia, etc. “Esse bebê deve sair com uma retaguarda médica”, recomenda a neonatologista.

Quando sair de casa e receber visitas?

A vontade da mãe e do pai, a gente sabe, é de mostrar o filho, seu novo amor, para o mundo. É tanto orgulho, que é difícil manter essa alegria no âmbito particular. Se o bebê é prematuro – um verdadeiro guerreiro que lutou a cada dia pela própria sobrevivência, mesmo sendo tão pequeno – a vontade se multiplica. No entanto, pelo menos no início, o melhor é segurar um pouco as saídas e as visitas.

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Os pais podem passear com o bebê para ver as árvores, a rua, mas não podem expor a pele do bebê, que ainda é extremamente frágil, diretamente ao sol. Se não houver ninguém doente, quando a criança já tiver tomado as primeiras vacinas, ela pode ir visitar os avós, por exemplo. Tudo isso não tem um prazo ou uma idade específica, não é um número mágico, mas depende da estabilidade”, diz a médica.

É importante que o médico avalie se a criança tem autonomia respiratória, autonomia de equilíbrio cardíaco e renal. Quando estiver tudo ok, o bebê pode, sim, ir com os pais a ambientes mais tranquilos. “Nada de festas infantis ou passeios no shopping, que são lugares fechados e com aglomerações”, destaca a especialista.

Até que idade os cuidados são diferentes?

De novo, a resposta é: depende. “O bebê prematuro precisa de cuidados diferenciados até que ele se baste, como um bebê a termo”, diz Silmara. Quando a criança atinge a idade gestacional de 40 semanas, deixa, em tese, de ser prematura. Isso, porém, não significa, necessariamente, que ela terá o mesmo ritmo de desenvolvimento. Algumas medidas e marcos acontecem dentro da normalidade, levando-se em consideração a idade cronológica (a partir do dia de nascimento). Outras, contam a idade corrigida (a partir da data em que completaria 40 semanas de gravidez).

“Não se pode esperar, por exemplo, que um bebê que atingiu 37 semanas, mas nasceu de 24, consiga alcançar essas 13 semanas de uma hora para outra. Por isso, as terapias são tão importantes para conseguirmos equipará-los, seja com 1 ano, seja 2, seja com 3, depende de sequelas ou não, às crianças de termo. Até que idade precisa de cuidados diferenciados? Ele é um bebê e vai me contar pelo desenvolvimento. Como médicos e com as terapias auxiliares, vamos saber quando essa criança está pronta para um voo solo”, compara a médica. “O que eu sempre digo para as famílias é: nunca tenha pressa com prematuros. Cada dia é uma vitória”, completa.

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