Mentir por educação? Criança que fala a verdade é mais julgada, diz estudo
Pesquisadoras concluem que os pequenos recebem mensagens contraditórias sobre como se comportar em relação às mentiras. Entenda!
![Menino com dúvida e confuso. Ele está com uma camisa vermelha, tem pele clara e cabelos castanhos. Está com um dedo indicador na bochecha direita, indicando que está com dúvida.](https://bebe.abril.com.br/wp-content/uploads/2022/11/menino-com-duvida-GettyImages-CiydemImages.jpg?quality=70&strip=info&w=1280&h=720&crop=1)
Você explica para a criança que é feio mentir, assiste a Pinóquio com ela e sempre a lembra de que a mentira tem pernas curtas… Mas aí o dia a dia vem e ela vai percebendo – e aprendendo – que falar a verdade nem sempre é a opção feita pelos pais e pelos outros que estão ao redor. Seja por modos sociais, para não magoar alguém dizendo o que se pensa, ou para evitar algum tipo de confusão, mentirinhas aqui e ali vão sendo faladas e até ensinadas aos pequenos, que às vezes são até repreendidos por um momento de sinceridade “inconveniente”.
É lógico que há uma grande distância entre mentir e apenas não sair falando tudo que nos vêm à mente (além do modo como dizemos as coisas, principalmente as delicadas), mas, para as crianças, essas diferenças podem não ser tão claras. O problema é que, quando a sinceridade é criticada ou até punida, a situação gera um conflito naquela pequena cabecinha, que passa a perceber que recebe sinais cruzados e confusos.
![Pinocchio-brinquedos-falsos-mentira Pinóquio: boneco de madeira sentado, com nariz comprido, roupa e touca vermelhas e sapatos pretos.](https://bebe.abril.com.br/wp-content/uploads/2022/09/GettyImages-malerapaso.jpg?quality=90&strip=info&w=1024)
Mensagens contraditórias
Um estudo publicado no Journal of Moral Education, no Reino Unido, liderado por Laure Brimbal, da Univeridade Estadual do Texas, e Angela Crossman, do John Jay College of Criminal Justice, apontou que os pequenos que costumam ser mais sinceros tendem a ser julgados de forma mais severa do que os que, logo cedo, aprendem a mentir “por educação”.
Para a análise, foram selecionados 24 atores entre 6 e 15 anos, meninos e meninas, que atuaram em diferentes cenas para vídeos dirigidos. Depois, as imagens foram exibidas a 267 adultos (de variada amostragem) que, em seguida, precisaram responder a um questionário como se fossem os pais daqueles jovens, julgando o caráter da criança ou do adolescente e avaliando confiabilidade, simpatia, gentileza, inteligência, entre outros critérios.
Os resultados mostraram que aqueles que foram mais sinceros receberam um julgamento mais severo e crítico dos que fizeram o papel de “pais”, com maior tendência a receber punições pelo comportamento. Já os que mentiram “por educação” foram avaliados pelos participantes adultos de forma mais positiva e com maior tendência a receber recompensas.
“As crianças aprendem que mentir é errado, mas desenvolvem a capacidade de contar mentiras desde tenra idade”, afirmam as pesquisadoras. “Nosso estudo ilustra o quanto os adultos são inconsistentes em suas avaliações e respostas comportamentais a crianças que mentem ou dizem a verdade. Ainda restam dúvidas se, pessoalmente, o comportamento seria o mesmo, mas é provável que essas contradições de mensagens explícitas e implícitas sobre honestidade e desonestidade atuem como influências socializadoras e moldem o comportamento infantil“, concluem as estudiosas.
O cenário, portanto, é complexo, e outros estudos futuros poderão avaliar o quanto essas contradições influenciam em como os indivíduos agem não apenas durante a infância e adolescência, mas também posteriormente, com efeitos na vida adulta.