Condições de trabalho da mãe podem afetar a amamentação, sugere estudo
Pesquisadores maranhenses analisaram as ocupações de mais de 5 mil mães que interromperam ou não o aleitamento exclusivo, e o resultado é revelador
Já é comprovado que o estresse pode prejudicar o aleitamento materno, ainda mais se for associado a fatores como cansaço e ansiedade. E se tínhamos alguma dúvida de que o ambiente de trabalho é um prato cheio para potencializar estas condições na mãe, um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) conseguiu confirmar esse fato.
Publicada na revista científica Cadernos de Saúde Pública no início deste mês, a pesquisa entrevistou mais 5 mil puérperas que residiam em São Luís, Maranhão, durante o ano de 2010 (e posteriormente, com os filhos maiores). O resultado do trabalho constatou que mães com ocupações classificadas como “trabalho manual semiespecializado” – ou seja, aquelas que são manicures, balconistas, costureiras, feirantes, entre outros -, são mais propensas a interromper a amamentação exclusiva. Entre elas, 58,2% descontinuavam a prática até a criança atingir 4 meses de idade, e 34,4% das entrevistadas até os 6 meses.
Além disso, mulheres com jornada de trabalho de 8 horas ou mais, que exerciam seu cargo mais de 4 dias na semana e tinham ocupações em escritórios também amamentaram seus filhos por menos tempo, quando comparadas às mães sem ocupação remunerada.
O curioso é que a interrupção do aleitamento materno exclusivo até 4 ou 6 meses também era prevalente entre as mães que trabalhavam em pé a maior parte do tempo e as que levantavam objetos pesados durante o serviço.
Por outro lado, 64% das mulheres que não tinham algum trabalho remunerado conseguiram amamentar o filho até quatro meses de vida, e 46% até os seis meses.
Para os pesquisadores, os resultados confirmaram que mulheres brasileiras que têm ocupações manuais semiespecializadas geralmente desempenham atividades mal remuneradas, de maneira irregular e sob pressão. “Nesse contexto, a proteção à maternidade não é garantida para as trabalhadoras, o que pode gerar estresse ou diminuição da oferta do leite materno e interrupção da amamentação exclusiva até os seis meses de idade”, revelou o estudo. Já no caso das mulheres com ocupações em escritórios e carga horária acima de 8 horas de trabalho, o material indica que tenham interrompido a amamentação pois as suas atividades são desenvolvidas em empresas de pequeno porte, às vezes com contratos informais, sem direitos trabalhistas ou apoio adequado para o aleitamento no ambiente de trabalho.
“Esses achados reforçam as dificuldades de mulheres exercerem concomitantemente as funções de trabalhadoras e mães. É possível que as características do trabalho materno remunerado tenham interferido negativamente na amamentação exclusiva até o quarto mês de vida da criança pelos 120 dias de licença-maternidade, em especial para mulheres de piores condições socioeconômicas”, concluiu a pesquisa.