Você já deve ter ouvido alguém dizer que comer canjica ajuda a aumentar a produção de leite materno. E, se gosta do doce tão típico das nossas Festas Juninas, provavelmente adorou a informação. Mas a verdade é que essa relação de causa e efeito não é comprovada.
Além da alta ingestão de água, que deve acontecer, o consumo de certas comidas pouco influencia na quantidade de leite da mãe – embora uma nutrição equilibrada seja sempre essencial. “Não podemos achar que comer um alimento, fazer uso de uma erva ou tomar uma medicação vai fazer toda a diferença para aumentar a produção de leite”, alerta Cinthia Calsinski, enfermeira obstetra consultora internacional de lactação. A especialista explica que é a própria prática da amamentação, com uma boa pega, que estimula esse aumento, destacando a livre demanda.
O pediatra Paulo Telles reforça a questão, lembrando que é o esvaziar da mama que manda uma mensagem para o corpo de que é preciso produzir mais leite. “É a quantidade de vezes que o bebê mama no peito, pela sucção no seio, que vai estimular toda uma cadeia hormonal para que se consiga melhorar essa produção”, detalha.
Canjica e as crenças populares
Segundo as crenças populares, seria a alta ingestão calórica proporcionada pela canjica que colaboraria para a lactação, mas o médico alerta que não há qualquer comprovação científica. “Não existe nenhuma explicação técnica”, afirma, lembrando que o consumo de leite entra nessa mesma categoria de informações reproduzidas no senso comum, sem fundamentos empíricos.
Vale destacar que se trata da chamada “canjica” no sudeste e outras regiões (que leva o nome de “mugunzá” no nordeste, por exemplo), feita com grãos de milho, leite condensado ou de coco, leite e especiarias – com variações.
Não é preciso tirar o doce do cardápio
“Embora não haja evidências científicas robustas, há evidências anedóticas fortes”, pondera Cinthia Calsinski. Isso significa que a ciência não corrobora esse entendimento, mas a prática popular reforça a canjica como uma substância galactagoga, ou seja, “que auxilia na produção de leite”, explica. Então, se você ama o doce, não precisa abrir mão dele só porque não há indicação médica. Basta se atentar ao consumo excessivo de açúcar ou até mesmo de adoçante, sobretudo com aspartame, já que pesquisas indicam que seu uso pode ser prejudicial ao bebê.
Por fim, é importante ressaltar que a cerveja preta, também muito presente entre as crenças populares nesse mesmo sentido, é altamente contraindicada na gravidez e na amamentação por ser uma bebida alcoólica e acarretar efeitos adversos ao bebê.
“O mais importante é entender que a mãe precisa estar bem alimentada, hidratada e tentando descansar o máximo possível, com suporte da rede de apoio para se manter tranquila nesse processo”, finaliza Paulo Telles, reforçando mais uma vez que é a própria mamada que estimula a produção do leite materno.