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Amamentação não depende só da mulher: mães falam sobre a rede de apoio

A postura da comunidade ao redor, em especial das pessoas mais próximas, influencia muito no sucesso do aleitamento

Por Chloé Pinheiro
Atualizado em 12 ago 2019, 17h47 - Publicado em 9 ago 2019, 14h45
6 Dicas incríveis para reviver a vida sexual após a maternidade
6 Dicas incríveis para reviver a vida sexual após a maternidade (Kathrin Ziegler/Getty Images)
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O leite materno é o melhor alimento para o bebê, mas amamentar não é uma tarefa simples. Trata-se de um momento delicado, ainda cercado de tabus e mitos, e a rede de apoio formada por família, comunidade e trabalho é crucial para que a amamentação seja bem sucedida

“É uma tarefa para mais pessoas além da mãe, sem dúvida”, resume Alline Valverde, 36 anos, redatora de Americana/SP, mãe de Stella, de quatro meses e meio, amamentada no peito. Alline passou por diversas dificuldades. “Logo no início, a bebê sugou errado e ganhei um machucado no mamilo, tive uma crise de ansiedade no dia seguinte ao nascimento”, relata. 

“Eu já entendia que nem eu, nem a bebê saberíamos o que fazer, e que tudo bem, que isso era normal, mas quando foi pra valer, tomei um susto”, continua. Na tensão dos primeiros meses, quando o tempo para descansar, dormir e cuidar de si é escasso para a mãe, é fundamental ter alguém por perto para restabelecer forças e fornecer apoio para que a amamentação se estabeleça.  

A responsabilidade do pai 

“No começo a amamentação foi difícil, eu ficava depressiva, nervosa, chorava o tempo todo, e isso afetou minha produção de leite, o bebê não estava com o peso adequado e tive que complementar com fórmula, o que fez com que eu me sentisse derrotada”, conta Jennifer Duarte Torricello, 34, de Praia Grande/SP, mãe de Arthur, 3 anos, que mamou até completar um ano. 

Ela contou com o apoio do parceiro, Diego, para atravessar em segurança a turbulência do puerpério. “Sem ele não teria conseguido. No puerpério, ele tomou todos os cuidados do Arthur e da casa para ele, eu estava bem debilitada da cesárea, e pude me preocupar única e exclusivamente com a amamentação”, conta Jennifer. “E ele colocou a mão na massa, fazia massagens, ajudava a desempedrar”, completa.  

Com Alline, que ainda está em plena época de aleitamento exclusivo, a história foi parecida. Ela passou por problemas para ajustar a pega e a filha tinha o reflexo de apertar muito a mandíbula, o que lesionava o mamilo e acabou desenvolvendo na mãe a síndrome de raynaud, interrupções da circulação sanguínea na região que causa dor e é uma causa frequente e silenciosa de desmame precoce. 

O companheiro participou ativamente desta fase. “Ele não apenas ajudou, mas fez parte de todo o processo, das coisas simples às complexas. Me ajeitava com almofadas, me dava água, esquentava compressas, fazia a prega no mamilo para eu ajeitar a pega e me dava a mão para apertar enquanto eu chorava amamentando”, relembra. 

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Mas, quando o apoio não ocorre como deveria, a amamentação pode ser prejudicada junto com a saúde mental da mulher. Mesmo que o pai esteja presente, nem todo o homem encontra e ocupa seu lugar nesse processo. “Para que isso ocorra, precisamos entender que o principal papel do pai quando o bebê nasce é cuidar da mãe, deixar o ambiente mais saudável para que o processo flua de um jeito tranquilo”, comenta Beto Lima, do Instagram Eu Papai, pai do João Pedro (5) e da Helena (1). 

Apoio para começar com o pé direito

O valor dado à amamentação pelo hospital e profissionais de saúde envolvidos no pré e pós-parto também faz a diferença. Damares Dantas Miranda de Souza, pedagoga de 31 anos, conversou com o Bebê.com.br enquanto amamentava sua primeira filha, Raquel, que nasceu há quatro dias no Hospital Vila Nova Cachoeirinha, em São Paulo.

A instituição conta com o programa Parto Seguro, uma iniciativa da Prefeitura Municipal e do CEJAM (Centro de Estudos e Pesquisas Dr. João Amorim) para humanizar a assistência à gestante na rede de saúde paulistana. “Me explicaram desde o início a importância da amamentação logo após o nascimento, e assim que ela nasceu colocaram ela no meu seio com todas as orientações necessárias, foi uma primeira experiência maravilhosa”, diz a mãe. 

Nos hospitais com o Parto Seguro, 98% dos bebês são amamentados na primeira hora de vida. “As evidências mostram que essa prática aumenta o índice de aleitamento materno exclusivo, diminui a gravidade de doenças respiratórias e favorece o transporte de bactérias da mãe para a microbiota intestinal do bebê”, aponta Anatalia Basile, enfermeira que coordena o projeto. 

Damares e a filha recém-nascida Raquel
Damares e a filha, Raquel, de quatro dias (Divulgação/Divulgação)

No início de sua jornada no aleitamento, Damares ainda sente dores, mas está otimista. “Se toda maternidade fosse assim, com certeza a mãe estaria mais amparada e motivada para amamentar”. 

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Creche e trabalho também ajudam 

Quando a licença-maternidade acaba, os desafios para manter a amamentação são diferentes. Por isso, as creches são um dos espaços que devem servir como parte da rede de apoio da mãe. Em São Paulo, amamentar em creches e centros de educação infantil é um direito garantido por lei, e a prefeitura mantém o selo CEI Amigo do Peito para reconhecer as instituições que apoiam e o aleitamento materno.

Na rede particular, é possível encontrar várias escolas que oferecem benefícios do tipo. Na Creche Escola Ipê, no Rio de Janeiro, por exemplo, as mães realizam consultas com uma nutricionista para ajudar a manter a amamentação se desejarem após a volta ao trabalho. O colégio oferece espaço especial para amamentar durante o dia e há a possibilidade de levar para a escola o leite extraído em casa. 

O trabalho é outro ponto fundamental aqui. Jennifer é funcionária de uma multinacional de tecnologia e trabalha de casa, mas conta que a empresa é adepta de práticas de incentivo ao aleitamento. Entre elas, flexibilidade nos horários e uma enfermeira consultora que acompanha pré-natal e pós-parto, oferecendo assistência para a amamentação e em outros departamentos se necessário. 

Trata-se, entretanto, de um privilégio. Basta uma pesquisa rápida na internet para conhecer diversos casos de mães que tiveram que processar locais de trabalho e outras instituições por descumprirem o direito garantido por lei de amamentar. O cenário passa a mudar com a conscientização sobre o tema, e é para isso que iniciativas como o Agosto Dourado existem. 

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