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Puberdade precoce: entenda o que é e como identificá-la

Especialistas explicam as principais causas, diagnóstico e tratamento deste quadro que pode acometer meninas antes dos oito anos e meninos dos nove.

Por Nathalie Ayres
Atualizado em 27 jan 2022, 10h39 - Publicado em 27 jan 2022, 09h00
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 (Cavan Images/Getty Images)
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A adolescência e a puberdade são períodos difíceis para os pais: de repente o corpo do filho começa a passar por uma série de mudanças e a mente não fica de fora do processo, resultando em atitudes que podem ser desafiadoras para a família. Mas e quando esse processo todo ainda por cima começa mais cedo?

A chamada puberdade precoce é um quadro com diferentes causas possíveis, em que a criança inicia o desenvolvimento dos caracteres sexuais mais cedo do que é considerado normal. “Como mamas, pelos pubianos e menstruação antes dos oito anos em meninas, e o aumento dos testículos, pênis e pelos pubianos antes dos nove anos em meninos”, descreve a hebiatra e endocrinologista pediátrica Lília Freire Rodrigues de Souza Li, membro do Departamento de Adolescência da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP).

Quando pensamos na classificação da puberdade precoce, ela é dividida em tipos, conforme suas causas. A seguir, explicamos cada uma delas:

– Puberdade precoce central:

“Este caso acontece quando a causa da puberdade é a ativação precoce do eixo hormonal hipotálamo-hipófise-gonadal”, resume a endocrinologista e pediatra Luciana Izar, do Hospital Infantil Sabará.
Isso significa que o hipotálamo e a hipófise, glândulas centrais do sistema endocrinológico, começam a estimular os testículos e ovários (considerados periféricos) a liberarem os hormônios que iniciam o desenvolvimento puberal mais cedo. Esta alteração pode ocorrer devido a algum tumor ou lesão no sistema nervoso, sendo mais comum em meninos do que em meninas.

– Puberdade precoce periférica
“Já neste caso, o relógio biológico não está amadurecido, mas há aumento de hormônios sexuais – tanto de origem ovariana quanto testicular”, explica Lília. Isso pode ocorrer devido ao contato com os chamados disruptores endócrinos (DEs), que são substâncias com ação semelhante ao estrógeno ou testosterona, provenientes dos alimentos contaminados com agrotóxicos, derivados do petróleo, dispositivos eletrônicos e entre outros.

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– Puberdade precoce incompleta ou atípica:
Como o nome dá a entender, este tipo da condição é quando o paciente apresenta um caractere púbere isolado antes da idade esperada. “Como a telarca (crescimento das mamas) em meninas com menos de oito anos, mas que evoluem bem, sem alterações em exames solicitados e com desenvolvimento dos seios de outros caracteres dentro do período esperado”, caracteriza Luciana.

    Os motivos que podem ocasionar a puberdade precoce

    As especialistas explicam que já há algum tempo parece que a puberdade vem acontecendo mais cedo do que antes. “Há uma tendência secular de aumento de crescimento e antecipação de puberdade mais pronunciada nas meninas, mas também documentada nos meninos. Acredita-se que a melhora das condições socioeconômicas e nutricionais com redução da desnutrição e aumento do sobrepeso e obesidade são responsáveis por essa tendência”, pondera Lília.

    Outro fator importante para as especialistas entrevistadas são os fatores exógenos já citados. “Há estudos a respeito de disruptores endócrinos como pesticidas, bisfenol A (contido em recipientes plásticos) e uso de produtos tópicos para reposição hormonal em mulheres que acabam entrando em contato com a criança em grande quantidade”, argumenta Luciana.

    Outro ponto importante é a questão do estilo de vida e do estresse, que também podem afetar o sistema endocrinológico. No entanto, a puberdade precoce na primeira infância, antes dos seis anos de idade, é mais comumente causada por tumores.

    Com a explosão da Covid-19 ao redor do mundo, Lília cita que relatos foram publicados, em países europeus, identificando um aumento significativo de casos confirmados de puberdade precoce em meninas e o dobro de suspeitos. A teoria mais provável para justificar este aumento se dá pelo sedentarismo ocasionado pela pandemia, aliado ao estresse provocado pelas mortes e incertezas do período.

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    Os principais sintomas para identificá-la

    Além do surgimento e crescimento progressivo das mamas em meninas, como já foram citados, a condição também acarreta no aparecimento de pelos pubianos na região dos grandes lábios. Inicialmente, eles serão finos e com o tempo tornam-se grossos, escuros e encaracolados, com a distribuição para acima do púbis e virilha.

    a menstruação não é vista como um sintoma inicial da puberdade precoce, pois ela surge apenas após estes sintomas mencionados.

    Para os meninos, a condição é associada ao aumento do volume testicular de modo progressivo, o que acarreta no crescimento do comprimento e volume peniano. Pelos pubianos também aparecem, mas inicialmente na base do órgão reprodutor. Mais tarde, observa-se que eles vão se distribuindo por uma área maior e engrossando.

    Tanto para garotas quanto garotos, o aumento da velocidade de mudança de estatura, acima do esperado para aquela faixa etária, também é um indicativo da puberdade precoce. Além de ser comum que os dois públicos também apresentem algumas alterações em seu comportamento, com mais oscilações de humor.

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    (ArtMarie/Getty Images)

    Qual médico os pais devem procurar?

    O ideal é que os responsáveis pela criança sigam fazendo consultas rotineiras com o pediatra, que acompanhará o crescimento e desenvolvimento das crianças, utilizando de gráficos de altura, peso e IMC. Com isso, ele conseguirá perceber todos os sinais precocemente.

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    Ainda que você não leve seu filho constantemente ao pediatra, ele deve ser o primeiro médico a ser buscado em caso de dúvida sobre puberdade precoce. Se for necessário, será ele quem encaminhará você e seu filho para um endocrinologista pediátrico.

    Como a puberdade precoce é identificada 

    Com os recursos do pediatra, como gráficos de altura, peso e IMC esperados para a criança em cada idade, e com o monitoramento periódico, consegue-se perceber se o crescimento está indo mais rápido ou devagar para a faixa etária do pequeno.

    “O acompanhamento da criança verificando a progressão tanto dos caracteres sexuais secundários como da velocidade de crescimento em um período de, pelo menos, quatro meses é a melhor abordagem diagnóstica”, esclarece Lília.

    Caso a suspeita se mantenha, alguns exames podem ajudar. O primeiro é a avaliação hormonal, para verificar se a criança está com níveis hormonais condizentes com a sua idade; o segundo é a radiografia de punho, que permite verificar se o crescimento ósseo corresponde à faixa etária do pequeno. Em casos de puberdade precoce, a idade óssea pode estar avançada em mais de dois anos.

    O médico também pode pedir exames de imagem para verificar como está a hipófise e o hipotálamo infantil, em busca de tumores ou lesões que possam estar causando essa aceleração. Inclusive, meninas podem precisar fazer a ultrassonografia pélvica para verificação de seus ovários.

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    Os tratamentos indicados para a condição

    Muitos fatores influenciam no tratamento da puberdade precoce: idade da criança, causa, se ela é central ou periférica, como está a evolução dos caracteres sexuais e entre outros.

    No caso da puberdade precoce central, a intervenção não muda com a faixa etária do paciente. “Consiste em tratamento com análogos do hormônio LH, com uma injeção mensal ou uma a cada 3 meses, até a criança ter idade óssea de 11 a 12 anos”, ensina Lília. Esse hormônio bloqueia o feedback hormonal, pausando a puberdade e o tratamento é, inclusive, oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

    Já puberdades precoces não centrais ou ligadas a tumores pedem tratamentos mais específicos, que serão diferentes dependendo do caso. “Variantes benignas devem ser acompanhadas para se assegurar que a evolução seja sem intercorrências”, ressalta a especialista.

    Quais são as consequências da puberdade precoce para as crianças?

    Como já pontuamos anteriormente, esta é uma condição que deve estar no radar dos pais para que, diante dos primeiros sinais, seja investigada e tratamento. No entanto, sua ocorrência pode causar alguns impactos na saúde da criança:

    • Baixa estatura: com o crescimento ósseo mais rápido do que o previsto para a idade, a criança para de crescer mais cedo do que o restante e pode ficar mais baixa do que a média familiar;
    • Maior disposição a doenças: a puberdade precoce está associada ao risco aumentado de diabetes tipo 2, excesso de gordura no organismo, ganho de peso, obesidade, doença cardiovascular, câncer de mama, próstata e morte prematura;
    • Maior incidência de comportamentos de risco: nas meninas, o início da menstruação e atividade sexual precoces podem estar associadas à gravidez precoce e abandono dos estudo.

    O último tópico está intimamente relacionado à confusão emocional que o crescimento adiantado causa nestas crianças.  Muitas começam a se sentirem diferentes de seus amiguinhos, procurando companhias mais velhas, adiantando experiências do “mundo adulto”, como a descoberta da sexualidade. Além das raízes machistas da sociedade que contribuem para isso, quando o corpo infantil é sexualizado diante das suas mudanças.

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    Este impacto costuma ser maior entre as meninas, que se sentem mais envergonhadas e tímidas com essas transformações. “Por exemplo, é mais frequente elas desenvolverem transtornos de humor, como depressão, além dos transtornos alimentares e experimentação e uso de substâncias precocemente”, enumera Lília.

     

    Já os meninos tendem a sofrer com menor impacto social e psicológico. “A puberdade antecipada pode ser positiva para os garotos, pois eles ficam mais altos do que seus pares e muitas vezes assumem a liderança o que proporciona maior autoconfiança”, analisa a especialista.

    Como ajudar as crianças a lidarem com as mudanças

    Por conta das consequências psicológicas citadas acima, é importante que os pais estejam atentos e sejam acolhedores com as possíveis inseguranças e dúvidas destas crianças. “É importante entender que, apesar da criança parecer muitas vezes um adolescente, ela ainda tem idade mental compatível com a sua idade cronológica e não se deve estimulá-la a ter comportamentos de crianças mais velhas”, sintetiza Lília. 

    E se a família perceber que não está conseguindo agir da maneira que gostaria diante dos desafios enfrentados pelo pequeno, pode ser hora de buscar por ajuda de profissionais voltados à saúde mental. A tendência é que eles os ajudem a criar novos recursos de conexão e respeito com o seu filho que está em formação, para que ele não se sinta pressionado e sobrecarregado diante das expectativas irreais da sociedade sobre ele.

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    (AleksandarNakic/Getty Images)

    É possível evitar a puberdade precoce? 

    O primeiro passo é lembrar que, muitas vezes, a puberdade precoce é uma herança familiar, ou seja, se a mãe ou o pai da criança tiveram um desenvolvimento mais cedo de seus caracteres sexuais, vale olhar mais atenção para o filho.

    Além disso, agentes do dia a dia relacionados à saúde física do pequeno não podem passar despercebido. “O excesso de peso na infância pode levar a um avanço da idade óssea, com consequente antecipação da puberdade”, exemplifica Lílian. Por isso, observe sempre os seguintes fatores:

    • Alimentação: é fundamental cuidar da alimentação para evitar os contaminantes que agem como disruptores endocrinológicos no organismo;
    • Atividade física e tempo de tela: deve-se estimular a movimentação do corpo com atividades lúdicas às crianças, reduzindo o contato com dispositivos eletrônicos, como tablets e celular. “A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda a não exposição até os dois anos e, após essa idade, limitar o uso por no máximo duas horas por dia”, expõe Lília.
    • Qualidade e quantidade do sono: a ausência de descanso é um fator estressante para as crianças, que pode vir a desregular funções básicos do organismo. Lembre-se que quanto mais novo, o pequeno precisa de mais tempo para dormir, sendo o melhor horário para uma criança ir à cama é às oito horas da noite.
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