Com investigações ainda em curso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) atualizou, no sábado (23), os dados sobre um suposto surto de hepatite na Europa e América do Norte. Em 5 de abril, 10 relatos da doença haviam sido confirmados no Reino Unido em crianças com menos de dez anos. Três dias depois, 8 de abril, o número de casos subiu para 74.
No último relatório divulgado, há 169 casos de hepatite aguda confirmados nos Estados Unidos – onde o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) já emitiu alerta de atenção entre os médicos – e em onze países europeus (Reino Unido, Espanha, Israel, Dinamarca, Irlanda, Holanda, Itália, Noruega, França, Romênia e Bélgica).
Os casos variam entre crianças de um mês e 16 anos e até agora, dezessete pacientes precisaram passar por um transplante de fígado e uma morte foi relatada. O que chama atenção das autoridades de saúde é que em nenhum dos casos foi identificada a presença dos vírus mais comuns por trás das hepatites A, B, C, D e E.
A hipótese estudada é de que a doença seja resultado de infecção pelo adenovírus tipo F41, detectado em pelo menos 74 casos. A SARS-CoV-2, vírus da Covid-19, foi identificado em 20 casos e 19 foram relatados como coinfecção de ambos os agentes.
“O adenovírus já é muito conhecido e uma causa bastante comum [de doenças] na infância. Até os dez anos praticamente todas as crianças já foram infectadas por algum tipo de adenovírus”, explica Paulo Telles, pediatra e neonatologista pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). De acordo com a OMS, existem mais de 50 variedades distintas de adenovírus que podem levar a infecções em humanos, mas o tipo 41 não é conhecido por ser uma causa comum de hepatite em crianças.
Mas o que é a hepatite?
A doença é caracterizada por uma inflamação das células do fígado. Dependendo do seu curso, pode ser aguda (que se inflama de repente e depois desaparece, com uma duração inferior a 6 meses) ou crônica (uma condição de longo prazo que produz sintomas mais sutis e danos progressivos ao fígado).
De acordo com o pediatra, as hepatites na população infantil podem vir de origem neonatal – através da mãe ou logo após o parto, entre um e dois meses de vida – e pela infecção dos vírus da doença durante a infância. Cerca de 20% destes casos são originados por citomegalovírus, rubéola, sarampo e vírus da hepatite A, B ou C. Nos 80% restantes dos casos, nenhum vírus específico é identificado como a causa da inflamação hepática.
“A causa infecciosa mais comum na faixa etária pediátrica costuma ser a hepatite A. Esta hepatite é transmitida através da ingestão de alimentos ou líquidos contaminados. Tende a ser mais branda e com resolução espontânea, não evoluindo para uma condição crônica”, completa o especialista.
Os sintomas da doença podem ser bem variados. Algumas crianças têm quadros semelhantes a um resfriado, mas as características mais marcantes das hepatites virais são icterícia (quando a pele e a porção branca dos olhos ficam amareladas), fezes esbranquiçadas, urina escura, diarreia, mal-estar e febre.
Fique atentos aos sintomas do adenovírus!
Segundo a OMS, enquanto o adenovírus é a principal hipótese como a causa subjacente do surto de casos de hepatite aguda em crianças, isso não explica exatamente a gravidade dos quadros observados. “A infecção por adenovírus tipo 41 não foi anteriormente ligado a tal apresentação clínica”, explica a nota oficial.
Telles explica que os adenovírus podem atingir qualquer idade e geralmente causam infecções no trato respiratório, com sintomas semelhantes a um resfriado. A evolução do quadro pode levar a conjuntivite, bronquite e pneumonia, mas os vírus também podem acometer o trato intestinal: causando vômitos, dores e diarreia.
“As infecções respiratórias são mais comuns no final do inverno, primavera e início do verão. Enquanto as infecções do trato intestinal podem ocorrer a qualquer momento ao longo do ano”, completa.
Como se proteger? Com vacina e cuidados de higiene!
No caso dos adenovírus, a transmissão é através de gotículas e das fezes. Portanto, cuidados de higiene (lavar as mãos, uso de álcool gel e máscaras) podem ajudar a evitar a infecção. Já a melhor forma de prevenir as hepatites mais conhecidas é através da vacinação.
“Infelizmente ainda não existem vacinas contra hepatites tipos C, D e E. Portanto, as crianças devem ser vacinadas contra hepatite B e hepatite A”, explica o pediatra. A maioria dos casos agudos se resolverá com o tempo. Assim, o tratamento da doença se concentra na prevenção de mais danos ao fígado, invertendo os já existentes.