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Como os prontos-socorros infantis estão funcionando com o coronavírus?

A telemedicina continua a ser uma solução, especialmente para que famílias fiquem menos tempo esperando resultados de exames nos hospitais.

Por Alice Arnoldi
Atualizado em 16 jul 2020, 18h48 - Publicado em 16 jul 2020, 18h45

Ficar em casa continua a ser a medida mais efetiva para o combate do novo coronavírus. Entretanto, sabemos que, em famílias com crianças, pular de um lado, brincar de outro e até mesmo a chegada do inverno podem resultar em uma preocupação: a de precisar ir à emergência hospitalar às pressas.

E ao tentar entender a gravidade do acidente e da doença, a mente também é inundada pelo medo de que os filhos sejam contagiados pelo vírus que pode estar no hospital. Outro receio é que, ao levá-los ao pronto-socorro, eles possam voltar assintomáticos e acabem passando a doença para a família e grupos mais fragilizados – como idosos, pessoas com comorbidades como pressão alta e diabetes, além de outras crianças que também podem ser do grupo de risco.

Para que tais impactos sejam minimizados ao máximo, dentro de uma doença que ainda tem tantas lacunas nas informações, hospitais pediátricos mudaram os protocolos de funcionamento e até mesmo suas estrutura física para atender ao público com mais segurança.

A triagem já começa na porta

Assim como acontece em maternidades com a chegada de uma gestante para o parto ou consulta de acompanhamento, a primeira medida é uma triagem antes mesmo da entrada no hospital.

“O paciente passa por uma catraca ou recepção, onde é feito um pequeno questionário para informar se ele tem sintomas gripais – nariz escorrendo, febre, tosse. E, ao mesmo tempo, já é medida sua temperatura”, explica Werther Brunow de Carvalho, pediatra do Hospital Santa Catarina. A mesma checagem é feita nos pais ou outro acompanhante da criança.

A análise do paciente pediátrico antes mesmo da entrada é também seguida pelo Hospital Infantil Sabará. Felipe Lora, Gerente Médico da instituição, pontua que esse cuidado é essencial para casos em que a criança apresenta sintomas menos comuns do COVID-19, como dor de barriga e diarreia, e não necessariamente respiratórios.

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Após a entrada, o fluxo entre pacientes suspeitos e não suspeitos continua separado, como ocorre no Hospital da Criança, unidade especializada da Rede D’Or São Luiz no público infantil, em São Paulo. Além da separação física, os ambientes são higienizados com frequências maiores

O histórico familiar também importante

Em situações em que a emergência é buscada por outros motivos, como acidentes domésticos, Cid Pinheiro, coordenador médico do Hospital da Criança, lembra situações em que pais podem não citar sinais relacionados ao COVID-19. 

“Nesse momento, você pode ter um paciente preocupado com trauma, por exemplo, e ele se esquece que talvez tivesse outros sintomas. Se for identificado algum histórico que pode sugerir um caso suspeito, o fluxo dele muda”, detalha o especialista.

O mesmo alerta é feito por Felipe, do Sabará. Caso a criança chegue ao hospital por outro motivo, mas há uma semana teve contato com familiares que testaram positivo para a doença, o fluxo do pequeno mudará para o de caso suspeito. Essa atenção redobrada é importante para que se tenha controle maior de possível transmissão dentro do ambiente.

Atenção à hora dos exames

Para conseguir laudos completos, um dos recursos médicos é a realização de testes para cada doença. Em tempos de coronavírus, hospitais também precisaram se readaptar para coletas não serem mais um meio de transmissão.

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No Sabará, foi possível separar as equipes de atendimento de acordo com os casos. “Quem colhe os exames dos pacientes respiratórios é o enfermeiro do pronto-socorro. E os não-respiratórios é o pessoal da coleta habitual”, esclarece Felipe.

Já no Santa Catarina, o setor de imagens é ao lado do centro de emergência, o que faz com que seja preciso andar menos entre os corredores do hospital, enquanto que o tempo de espera dos exames acontece em locais de fluxo diferente.

São Luiz e Sabará também conseguiram distinguir salas diferentes para a realização de exames de imagem, como Raio-X. Entretanto, a tomografia acaba sendo a mesma máquina para os dois fluxos nos três hospitais. O que faz com que a atenção seja redobrada à higienização após cada paciente.

Telemedicina ainda é uma opção

Para os casos estáveis que precisam de retorno ou colheram exames que demandam horas para o resultado, como o de urina, hospitais têm apostado em consultas virtuais para menor exposição de crianças e adultos.

“Temos pediatras da rede que fazem a reavaliação desses pacientes. E, evidentemente, se o médico julgar que é necessário, ele vai recomendar que o paciente venha ao pronto-socorro para ser analisado, talvez para uma nova coleta de qualquer que seja, procedimentos ou medicamentos”, detalha Cid.

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Felipe explica que o Sabará segue a mesma linha e, em casos positivos de Covid-19, há um acompanhamento ainda mais próximo por telemedicina. Médicos ligam no dia seguinte ao teste, informando o resultando do exame, checam os sintomas da criança e analisam se ela precisa voltar à emergência. Caso não, após sete dias, eles retornam o contato para uma segunda avaliação.

Máscaras? Sempre que puder!

Junto com o distanciamento social e uso de álcool sempre que possível, o terceiro item essencial para a proteção é a máscara. Entretanto, para as crianças menores de dois anos, o acessório não é recomendado. Também vale ficar atento quando a máscara não é tolerada pelas crianças, gerando choro, desespero e fazendo com que elas coloquem as mãos no rosto com maior frequência.

Nestas situações, os cuidados ficam para os profissionais da saúde, que precisam estar paramentados corretamente contra a doença para proteger os pequenos dela. E também é importante mantê-los no colo ou o mais próximo possível, controlando o toque em possíveis superfícies contaminadas.

“A atenção não só a eles transmitirem, mas também terem contato com alguém que eventualmente possa estar apresentando um quadro pré-síndrome, isto é, que ainda não manifestou os sintomas, mas pode estar transmitindo”, explica o coordenador do Hospital da Criança.

Fluxo cirúrgico rigoroso

Os cuidados também são redobrados para pacientes infantis que precisam passar por cirurgias já agendadas ou que se tornaram necessárias após acidentes.

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“No Santa Catarina, a criança fica 14 dias antes da cirurgia em observação em casa, o tempo de encubação do vírus. Três dias antes, ela faz o teste do Covid-19 e só vai para a cirurgia caso dê negativo”, detalha Werther. Para garantir maior segurança do paciente, o hospital está funcionando com sistema de Drive thru, em que o paciente fica no carro na hora de colher o exame.

A medida também tem sido efetiva para crianças em tratamento oncológico, ou que precisam de medicamentos subcutâneos ou sublinguais que não possuem em casa.

Já no Sabará, também três dias antes da cirurgia, um enfermeiro vai até a casa do paciente para realizar o teste do coronavírus. “Além disso, ele entrega um kit de máscara para a criança e os pais se protegerem”, reforça Felipe. O procedimento cirúrgico só é feito caso o resultado dê negativo.

Para situações emergenciais, em que é preciso realizar a cirurgia antes do tempo necessário para o teste ficar pronto, é seguido o protocolo como se fosse um caso de Covid-19 positivo, para garantir maior segurança à família.

(Juliana Pereira/Bebê.com.br)
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