Guia definitivo sobre o uso de máscaras em crianças

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por Flávia Antunes Atualizado em 9 jun 2020, 17h50 - Publicado em
9 jun 2020
17h48

Se você ainda tinha alguma dúvida sobre o uso de máscaras nos filhos, este guia, baseado nas orientações da Sociedade Brasileira de Pediatria, vai te ajudar a zerar as questões!

Claro que o melhor método de proteger a sua família do novo coronavírus ainda é o isolamento social e a adoção de medidas básicas de prevenção e higiene. Porém, sabemos que ficar em casa pode não ser possível 100% do tempo… E é aí que entra o tão falado uso das máscaras.

Desde o pronunciamento do Ministério da Saúde, em abril, o item passou a ganhar lugar nas cartilhas médicas, já que sua utilização foi prescrita para toda a população – e não mais apenas para os profissionais da saúde. Mesmo que recomendado, o acessório ainda desperta muitas dúvidas, principalmente no que se refere ao seu uso pelas crianças, já que elas podem ter dificuldade em seguir o protocolo de cuidados à risca e acabar aumentando o risco de contaminação.

Pensando nisso, e para solucionar de vez os principais questionamentos dos pais, preparamos este guia completo, baseado no documento “O uso de máscaras faciais em tempo de Covid-19 por crianças e adolescentes: Uma proposta inicial”, que a Sociedade Brasileira de Pediatria divulgou na última semana de maio.

Qual máscara meu filho deve usar?

O ideal é optar pelas máscaras caseiras, para que máscaras cirúrgicas e N95 ou PFF2, já escassas no mercado, fiquem disponíveis para os profissionais de saúde.

Recomenda-se que o acessório seja confeccionado em tecidos que tenham predominantemente algodão em sua composição, como aquele usado para fazer lençóis de meia malha 100% algodão, forros para lingerie e tecidos de camiseta. Misturas na composição também podem funcionar (90% algodão com 10% elastano e 92% algodão com 8%, por exemplo).

O Tecido Não Tecido (TNT) sintético pode ainda ser uma opção, desde que o fabricante garanta que o item não cause alergia e seja apropriado para o uso humano. Oss únicos materiais que devem ser evitados, na realidade, são aqueles que podem irritar a pele, como poliéster puro.

Na hora da confecção, alguns detalhes merecem atenção. Para que a máscara seja eficiente como uma barreira física, ela precisa ter pelo menos duas camadas de pano – ser, portanto, dupla face -, ser grande o suficiente para cobrir totalmente a boca e o nariz da criança e estar bem ajustada ao rosto, sem deixar espaços nas laterais. E, o mais importante: o item é de uso individual! Nada de compartilhá-lo mesmo que esteja limpo, viu?

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Quanto tempo cada máscara deve ser usada?

Cada máscara possui sua própria vida útil e é importante que ela seja respeitada para que continue protegendo a criança. No manual da SBP,  três tipos de máscaras são citados:

  • Máscaras caseiras: a reutilização pode ser feita mediante à avaliação de seu estado de conservação, incluindo a degradação do tecido e do elástico que a envolve. Caso ela fique úmida, a recomendação é que seja trocada em até duas horas, no máximo. Danificações também exigem a substituição imediata.
  • Máscaras cirúrgicas: duram apenas algumas horas. Assim que ficar úmida e/ou suja, deve ser descartada;
  • Máscaras N95, PFF2 ou equivalentes: estando íntegra, limpa e seca, pode ser usada várias vezes pelo profissional de saúde. O limite de utilização costuma girar em torno de sete dias ou do tempo estabelecido pelo Serviço de Controle de Infecção Hospitalar da Instituição em que trabalha;

Caso precise sair, devo levar mais que uma máscara na mala da criança?

Cada máscara caseira deve ser utilizada por no máximo duas horas ou menos, caso esteja umedecida. Portanto, se a família for ficar mais do que este período fora de casa, a SBP recomenda que sejam levadas máscaras extras.

Na hora de trocar, o procedimento é o seguinte: tire-a do rosto, dobre no meio com a parte de fora para dentro e guarde em uma sacolinha, embalada individualmente e tomando cuidado para não entrar em contato com outros utensílios que estejam carregando.

Apesar do documento falar na troca a cada duas horas, sabemos que os pequenos podem ficar agitados no meio do percurso e o acessório pode acabar caindo. Por isso, é interessante levar uma máscara a mais na mala da criança mesmo que o tempo na rua seja curto. A regra é clara: caiu no chão, substitua por outra limpa imediatamente!

Qual a forma correta de colocar e retirar a máscara?

A premissa básica é: usou a máscara, ela é automaticamente contaminada. Por isso, os cuidados na hora de colocar, retirar e higienizar são tão importantes:

  • Antes de colocar e retirar a máscara, lave bem as mãos com água e sabão, seguindo as recomendações de higienização;
  • Assegure que a máscara esteja seca e em boas condições de uso;
  • Confira se o tamanho do acessório é compatível com o tamanho da face da criança e se não estão sobrando espaços nas laterais;
  • Cubra com segurança o nariz e a boca e prenda o elástico ou as tiras atrás das orelhas, sempre mantendo o conforto para a respiração;
  • Durante o uso, evite tocar ou ajustar a máscara. Se precisar encostar no tecido, coloque o dedo na parte interna da máscara, onde o risco de contaminação é menor, e nunca na frente. Depois de tocar, higienize as mãos com água e sabão líquido ou álcool em gel a 70%;
  • Na hora de retirar, remova o item por trás, sem tocar na sua frente, e guarde-o envolvendo em um envelope de papel ou em saco plástico até sua lavagem.

Como higienizar as máscaras?

A limpeza da máscara deve ser feita com água e sabão em abundância na máquina de lavar, ou deixando de molho em água sanitária (uma colher de sopa de água sanitária para 500 ml de água corrente) por cerca de 30 minutos.

Em seguida, enxague bem e, após a secagem, passe ferro bem quente de ambos os lados e armazene em um saco plástico limpo, certificando-se de não deixar que o item encoste em materiais tóxicos ou contaminados.

Bebês podem usar?

De acordo com um comunicado da Anvisa e, posteriormente reforçado pela SBP, pela Academia Americana de Pediatria e pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), o uso de máscaras é contraindicado para crianças menores de dois anos.

O alerta se dá, principalmente, por conta do risco de sufocamento, tendo em vista que as vias aéreas dos pequenos são de menor calibre e o acessório sobre o rosto pode dificultar ainda mais a entrada de oxigênio. Isso sem falar na salivação intensa dos bebês e nos casos de obstrução nasal por secreção, que deixam a respiração dos nenéns mais comprometida.

Sabemos também que os bebês têm o comportamento de levar tudo à boca como forma de explorar o mundo e que, pelo estágio de desenvolvimento motor ainda precoce, teriam dificuldades para manusear a máscara sem se contaminarem ou até para retirá-la caso estivesse incomodando.

Quando for necessário levar a criança desta faixa etária para fora de casa – como nos casos de consulta médica –, o melhor é que os pais prefiram o transporte no carrinho, coberto com um tecido limpo ou com a proteção de plástico que costuma vir junto para chuva e sol.

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E as crianças com deficiências ou necessidades especiais?

As crianças que apresentam atrasos no desenvolvimento e condições específicas, como Transtorno do Espectro Autista, Deficiência Intelectual e outros transtornos comportamentais podem ter mais resistência na hora de usar as máscaras, aponta a SBP.

No caso do TEA, dificuldades sensoriais e estereotipias com movimentos que levam o pequeno a colocar as mãos no rosto impedem a utilização do acessório. Já na criança com Deficiência Intelectual, a desatenção ou os problemas no cumprimento de regras podem fazer com que o item seja mais prejudicial do que benéfico ao desenvolvimento. “Cabe tentar um treinamento e avaliar a adesão, de acordo com a resposta individual de cada criança”, sugere o documento.

As máscaras são contraindicadas também nas crianças com Paralisia Cerebral ou doenças neuromusculares que afetem a capacidade motora e respiratória, já que o acessório pode potencializar as dificuldades de respiração.

Já para os pequenos considerados grupo de risco, com necessidades de cuidados especiais em saúde ou imunocomprometidos, a recomendação é inversa: o ideal é que se use máscaras ainda mais reforçadas quando for preciso sair do domicílio, como as do tipo N95.

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Como proceder se a criança tiver medo de usar a máscara?

Ver os familiares entrando e saindo de casa de máscara é uma situação totalmente nova que pode angustiar os baixinhos. Caso perceba que seu filho está agindo diferente, o melhor é fornecer um ambiente de acolhimento e escuta, para que ele consiga lidar com seus receios de forma construtiva.

Algumas atitudes simples também podem deixar as crianças mais receptivas ao uso do acessório:

  • Antes de tudo, explique, usando uma linguagem compatível com a idade do seu filho, o por que das máscaras serem importantes neste momento e dê instruções claras sobre o seu uso. As crianças aprendem por imitação, então quanto maior a naturalidade com que você usar o acessório e der o exemplo, maior a chance do pequeno também se animar;
  • Coloque a máscara dentro de casa algumas vezes, para que a criança se acostume e observe como a utilização é feita na prática. Novamente, vale a dica de ouro: quanto mais lúdico o processo, melhor!
  • Se possível, decore a máscara e personalize de um jeito que o baixinho goste – com estampas coloridas, com seu personagem favorito, por exemplo.
  • Mostre fotos de outros amigos ou colegas da escola usando máscaras;
  • Faça analogias com os super-heróis preferidos do pequeno. Diga, por exemplo, que os médicos e enfermeiras são heróis que protegem as pessoas e a máscara é parte de seus uniformes – e que, quando usamos, também estamos salvando os demais deste vírus;
  • Crie jogos, pedindo para que seu filho tente decifrar a sua expressão facial por trás da máscara. Uma brincadeira inusitada, mas que pode trazer boas doses de diversão para a família!
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(Juliana Pereira/Bebê.com.br)