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Coronavírus: como as crianças são afetadas pelas novas cepas?

Especialistas explicam se existe uma terceira onda do coronavírus e se, no momento atual do país, os pequenos continuam fora do grupo de risco.

Por Ketlyn Araujo
Atualizado em 4 jun 2021, 13h08 - Publicado em 4 jun 2021, 12h43

Enquanto alguns líderes globais tomam medidas preventivas para uma possível terceira onda do coronavírus, no Brasil, ao que tudo indica, permanecemos na contramão do mundo: o atraso na vacinação não ajuda, mas de acordo com especialistas não é possível classificar o momento atual em território nacional como passível de uma terceira onda.

“A gente considera uma ‘onda’ quando o que ocorre é um aumento expressivo de casos seguido por uma redução importante e, depois, uma reativação desses casos com outro aumento significativo”, explica Renato Kfouri, presidente do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Segundo ele, o que ocorre atualmente no Brasil é uma maior circulação do vírus em cima de um patamar já muito elevado, no qual a população brasileira não conseguiu nem mesmo se livrar da segunda onda da Covid. Na prática, diz o médico, a denominação não faz muita diferença, o que importa é que os casos continuam aumentando.

Marcelo Otsuka, infectologista e coordenador do Comitê de Infectologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), parte do mesmo pressuposto. “É difícil falarmos em terceira onda da Covid no Brasil, porque em nenhum momento nós tivemos controle da epidemia. Isso se dá, principalmente, se a gente considerar que temos uma média de 60 mil novos casos por dia, e quase dois mil óbitos por dia há muito tempo”, diz o médico, que reforça o fato de que houve, sim, uma certa estabilização no cenário, mas que ela não é suficiente para considerarmos o problema resolvido e, de repente, indicativo de uma terceira onda.

Novas cepas: maior chance de transmissão

Independente da onda, de qualquer maneira a situação continua grave, e é preciso entender de que forma as crianças são afetadas por ela – ainda mais com a presença de novas variantes detectadas por aqui.

Renato relembra que são quatro as variantes classificadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como variantes de preocupação – são elas a do Reino Unido, a da África do Sul, a brasileira e, agora, a indiana, pela ordem cronológica de aparecimento. No Brasil, como era de se esperar, predomina a variante brasileira, ou P1, com grande impacto em território nacional.

“Por enquanto, essas variantes não se mostraram mais graves, mas sim mais transmissíveis. Todas elas ganham, aliás, essa capacidade maior de disseminação por conta dessa transmissibilidade, mas os dados até o momento têm mostrado que as vacinas não perderam ou pouco perderam a efetividade, elas continuam funcionando bem”, diz ele. Porém, por mais que haja uma maior transmissibilidade do vírus, a questão dos pequenos permanece bastante similar à do começo da pandemia, em 2020.

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O que acontece, fala Marcelo, é que essas variantes acabam facilitando a infecção de qualquer indivíduo, seja ele criança, adulto ou idoso. A facilidade com que o vírus mutante consegue infectar mais facilmente, informa o médico, se deve por uma adaptação dele aos nossos receptores e, consequentemente, à necessidade de uma carga viral menor para provocar a doença. Isso pode influenciar em uma maior chance de infecção em crianças, mas até o momento não é o observado – a explicação mais plausível para isso é o fato de os pequenos terem menos receptores para o vírus em suas vias respiratórias.

“Quando avaliamos os dados de notificações em crianças, adultos e idosos ao longo de 2020, e inclusive comparando com 2021 pós-vacinação, vemos que o percentual de casos de covid em pacientes pediátricos, levando a óbito, mantém-se exatamente igual. É claro que, com mais indivíduos doentes, teremos mais crianças doentes. Mas isso não significou até o momento uma maior chance de elas terem algum quadro grave, seja pelas variantes antigas ou atuais”, exemplifica o infectologista.

Exceções à regra

Apesar de as crianças serem menos acometidas por quadros graves do coronavírus, ou seja, terem menores chances de desenvolverem a infecção de forma grave, Marcelo reforça que, conforme notamos um aumento no número de doentes, ele também afeta os pequenos, o que implica na observação de quadros piores em crianças com maior frequência.

“As crianças representam menos de 1,5% do total de hospitalizações, e menos de 0,3% das mortes. Proporcionalmente é uma parcela muito pequena da população afetada, mas em números absolutos, ou seja, quando vemos 0,3 ou 0,5% de 450 mil óbitos, estamos falando de mais de 1500 crianças que já faleceram de Covid”, completa Renato.

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Os cuidados continuam e precisam ser reforçados

Ainda sobre as novas variantes, a infectologista pediátrica do Hospital do GRAACC Fabianne Carlesse acrescenta que são necessários estudos complexos para que possamos entender as implicações das novas cepas na sociedade.

“Há uma corrida na comunidade científica global neste sentido, mas ainda não temos nada conclusivo em relação ao impacto nas crianças. Por isso, vale a pena reforçar que até o momento não dispomos de medidas farmacológicas eficazes contra o SARS CoV-2, não temos cobertura vacinal adequada e, portanto, a única arma que dispomos é a prevenção através daquilo que temos adotado durante toda essa pandemia”, fala a especialista, que reforça os seguintes cuidados:

Para Marcelo, o ideal mesmo seria que os cuidados individuais viessem acompanhados por uma testagem em massa da população, além do isolamento dos doentes identificados (inclusive assintomáticos), o que nunca foi implementado de fato no Brasil.

Além disso, finaliza o médico, é preciso lembrar-se de que pacientes pediátricos costumam pegar o coronavírus dos adultos, como familiares e cuidadores. Ou seja, os maiores responsáveis pelas medidas preventivas não são os pequenos, mas sim a população adulta que não deve deixar de colocá-las em prática.

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