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Casos de pólio pelo mundo alertam sobre baixas coberturas vacinais

Mesmo com a vacina disponível na rede pública brasileira de saúde, o número de crianças imunizadas contra a poliomielite não chegou a 60% em 2021.

Por Alice Arnoldi
Atualizado em 17 mar 2022, 18h46 - Publicado em 17 mar 2022, 15h18

Ao mesmo tempo em que é preciso estar atento ao coronavírus, ainda presente ao redor do mundo, também é necessário não perdemos de vista outras doenças prejudiciais especialmente ao público infantil e que possuem vacinas para serem combatidas. É o que alerta os dois casos de poliomielite diagnosticados em Israel e Malawi que, mesmo ocorrendo geograficamente distante do Brasil, trazem a necessária reflexão sobre o risco de retorno da doença devido as baixas taxas vacinais no nosso país.

Depois de cinco anos sem relatos da poliomielite na África, o caso foi registrado no Malawi em fevereiro deste ano. As autoridades de saúde do país chegaram a conclusão que ele está relacionado ao vírus presente na província Sindh, no Paquistão – o qual, junto com o Afeganistão, são os dois principais países afetados pela doença.

Já de acordo com o Ministério da Saúde de Israel, o caso foi de um garotinho de quatro anos em Jerusalém. Ele foi contaminado pelo vírus da pólio porque não havia sido imunizado contra a doença, o que levou o país a registrar a enfermidade depois de 30 anos sem nenhuma ocorrência.

Os dois quadros, ainda que a quilômetros de distância do Brasil, lembram o que já vem sendo discutido desde 2019: é preciso que as taxas vacinais voltem a crescer no país, inclusive a contra poliomielite. Caso contrário, a população pode presenciar o retorno do vírus, especialmente entre crianças abaixo de cinco anos, faixa etária comumente mais afetada pela doença.

Os motivos por trás da baixa cobertura vacinal no Brasil

Em 2015, 98,3% da população infantil estava protegida da poliomielite com a carteirinha em dia, mas o cenário mudou em 2019 e ficou ainda pior com a pandemia causada Covid-19. Inclusive, o Brasil, junto com Bolívia, Equador, Guatemala, Haiti, Paraguai, Suriname e Venezuela, tornaram-se os seis países das Américas com maior risco de retorno da doença, segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas).

De acordo com dados do Ministério da Saúde, a cobertura vacinal para a pólio estava em 84%, em 2019. Já em 2020, este número caiu para 76% e, até o balanço feito em outubro de 2021, o índice do público infantil protegido contra a doença era de 59,82%.

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Nos períodos mais críticos da pandemia, sabemos que o medo de ser contaminado pelo coronavírus ao ir em postos de vacinação e clínicas particulares reduziu a busca pelas picadinhas. Mas o pediatra Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), explica que há mais razões além desta para a queda da cobertura vacinal no país.

“Uma delas é a conveniência, que é a dificuldade que as pessoas têm de ir às unidades de saúde por causa do horário, devido a forma que são atendidas ou pela competência dos profissionais que, às vezes, é falha. Há também a complacência, que é a falsa sensação de que como você nunca viu a doença ou não a conhece, acredita que não precisa se vacinar”, detalha o especialista.

Além destas duas, o profissional explica que há o conceito da confiança, que permeia não só a população saber sobre a segurança e eficácia da vacina. “Mas também a confiança que se passa pelos recados que são transmitidos pelos governantes, instituições e profissionais de saúde. Temos observado, em especial neste último ano, um aumento da desinformação, das fake news, levando cada vez mais dúvidas sobre as vacinas às pessoas“, completa o presidente da SBIm.

Tanto que, até mesmo diante da possibilidade de vacinar o público infantil contra o coronavírus e ver o cenário brasileiro sendo revertido, famílias não se mostraram adeptas à imunização. De acordo com a nota técnica “Diferenciais de cobertura vacinal segundo grupos etários no Brasil”, realizada pelo Observatório da Covid-19, da Fiocruz, apenas 39,3% das crianças de cinco a 11 anos receberam a primeira dose da vacina contra o coronavírus nos últimos três meses (de 17 de janeiro a 12 março) e somente 4,7% estão com o esquema vacinal completo.

Como é a imunização infantil contra a poliomielite?

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(Karl Tapales/Getty Images)

Ainda que o último caso de pólio no Brasil tenha sido em 1989, com o ganho do certificado de doença eliminada em 1994, pela Opas, a baixa cobertura vacinal mostra que ainda é preciso explicar no que consiste a enfermidade e, principalmente, como é o esquema de imunização para proteger as crianças.

“É uma doença infectocontagiosa, ou seja, causada pelo poliovírus que habita no intestino. Consequentemente, ele é eliminado nas fezes, mas também nas secreções respiratórias. Assim, as principais formas de transmissão são oral-oral ou contato via fecal-oral, como contato com a água contaminada por resíduos fecais”, explica a infectologista Carla Kobayashi, do Hospital Sírio-Libanês.

A especialista ainda esclarece que a poliomielite, por ser uma doença viral, causa sintomas semelhantes a qualquer outra infecção deste tipo – como febre, sintomas respiratórios e gastrointestinais. “E, em alguns casos, ela pode causar quadros mais sérios com envolvimento neurológico, sendo o mais conhecido a paralisia muscular de membros inferiores“, completa a infectologista, pontuando que este evento gira em torno de 5 a 10% dos acometidos pelo poliovírus.

Só que, ainda que não exista remédio para tratamento após o contágio, existe a vacina para proteção diante da contaminação. Disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) e recomendada pela Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), a imunização contra a poliomielite ocorre da seguinte forma:

  • 2, 4 e 6 meses = doses feitas com a Vacina Inativada Poliomielite (VIP), injetável;
  • Entre 15 e 18 meses e entre 4 e 5 anos = reforços com a Vacina Oral Poliomielite (VOP), em gotinhas.
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