Quando nasce aquele bebê, tão pequeno, tão frágil, tão indefeso, dependendo de você para tudo, é como se um novo universo se abrisse. Por mais que você tenha lido, se informado, participado de cursos para gestantes durante a gravidez, não tem jeito: adaptar-se é um desafio e a insegurança faz parte do jogo. A boa notícia é que há profissionais que podem e devem orientar pais e mães (de primeira viagem ou não), nesse momento de transformação. O pediatra será um de seus maiores aliados.
O ideal é marcar uma consulta com o profissional ainda durante a gestação, para conhecê-lo, tirar dúvidas e alinhar expectativas. Se isso não for possível e o bebê nascer em uma maternidade, ele será avaliado por um neonatologista, que providenciará os primeiros cuidados e orientações. Fora isso, é importante marcar uma consulta dentro dos primeiros sete dias de vida do recém-nascido.
Mas são tantas dúvidas, tantas novidades, tantas preocupações, que é mais frequente do que se imagina os pais estarem ali, finalmente, diante de um profissional que poderá ajudá-los…. E dar aquele branco, bem na hora! Por isso, é importante anotar tudo o que você precisa perguntar. Além das dúvidas que surgem na rotina, alguns assuntos são muito importantes. Tocar neles é fundamental nesse primeiro encontro.
Pedimos aos pediatras Luiz Renato Valério, do Hospital Pequeno Príncipe (PR) e Pedro Cavalcante, do Departamento de Pediatria da Rede D’Or São Luiz (SP), que listassem as perguntas que os pais não deveriam deixar de fora na primeira consulta. Confira quais são:
1. Como saber se a amamentação está indo bem?
O bebê está mamando? Você está sentindo dificuldades? Será que está com fome? Como saber? “O pediatra vai ver se o bebê está bem nutrido, vai verificar a oscilação de peso nos primeiros dias”, explica Luiz. “Todas as crianças perdem um pouco de peso nos primeiros dias, recuperando depois, em ritmo variado. Depois de uma semana, o bebê, na maioria das vezes, já recuperou ou está muito próximo de recuperar o peso de nascimento”, relata.
Além disso, o médico poderá fazer perguntas, como a quantidade de vezes em que o bebê faz cocô ou xixi, para saber se está dentro do esperado. “Se o bebê está mamando bem, engordando, urinando adequadamente, não é necessário se preocupar”, diz Pedro. “O recém-nascido mama a todo momento mesmo. Isso é saudável e esperado. Fortalece o vínculo e só traz benefícios”, aponta. Se a mãe sentir alguma dificuldade de amamentar, com dor, dificuldade na pega ou outras questões, o médico também poderá orientá-la ou indicar algum serviço de orientação, como consultorias de aleitamento materno ou bancos de leite humano.
2. Quais vacinas o bebê precisa tomar?
As vacinas são um assunto importantíssimo para tratar desde sempre. Normalmente, os nomes e os intervalos em que as vacinas devem ser dadas estarão explícitos na carteirinha de vacinação da criança. Porém, é bom aproveitar a consulta para tirar dúvidas, inclusive sobre as reações e como amenizá-las. “O Brasil é considerado um país que tem um dos melhores calendários de vacinas do mundo”, ressalta o pediatra do Hospital Pequeno Príncipe.
3. A partir de quando é possível receber visitas?
As orientações variam muito – e a vontade das famílias também. Há quem receba visitas ainda na maternidade e há quem prefira esperar um pouco mais, permitindo apenas a aproximação de pessoas de um círculo mais íntimo. Para Pedro Cavalcante, o ideal seria não receber visitas até que o bebê tome as primeiras doses das principais vacinas, ou seja, até os três meses. “É importante que as visitas sempre se atentem e evitem aparecer caso estejam com sintomas de gripe, porque vírus simples para os adultos podem ser muito perigosos para bebês pequenos”, recomenda.
4. Como cuidar do umbigo do bebê?
O coto umbilical causa uma certa agonia e até medo em algumas famílias. “É uma região delicada, que está exposta. Além disso, é um local que até poucos dias antes era a fonte de alimentação do bebê”, aponta o pediatra Luiz Renato Valério. Quando a criança nasce, o cordão é clampeado, mas o coto leva alguns dias para secar e cair. “Enquanto isso, é importante manter o local seco e higienizado. A orientação é limpar cerca de quatro ou cinco vezes por dia com álcool 70”, explica. O coto costuma cair entre uma e duas semanas de vida do bebê.
5. Quais cuidados são importantes na hora do banho?
O recém-nascido parece tão frágil, que os pais sentem até um certo medo de dar banho nos primeiros dias. Por isso, receber recomendações do pediatra sobre o assunto também pode ajudar. Luiz Renato explica que os pais devem começar a lavar o bebê pela cabeça, pelo rosto, pelo pescoço e pelas axilas. “A parte genital, que é onde estão acumulados os maiores resíduos do corpo do bebê, pode ser deixada por último”, explica. O banho deve ser rápido e durar de 2 a 3 minutos, em água com temperatura semelhante à temperatura corporal, entre 37 e 38ºC. “Certifique-se de escolher um momento do dia mais confortável e um ambiente estável, sem corrente de vento”, indica o especialista.
6. Qual a melhor posição para dormir?
Quem nunca passou a noite confirmando várias vezes se o bebê estava respirando? É uma preocupação comum dos pais. E não é para menos. Não há dados brasileiros, mas, nos Estados Unidos, 38 em cada 100 mil bebês foram vítimas da síndrome da morte súbita do lactente (SMSL) em 2016, segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC). “A recomendação é que o bebê fique sempre de barriga para cima, já que a posição minimiza o risco de morte súbita do lactente”, diz o pediatra Pedro Cavalcante. “Lembre-se de não usar travesseiros, cobertores ou qualquer objeto no berço”, reforça.
7. Será que meu bebê dorme o suficiente?
Principalmente para os pais de primeira viagem, é importante esclarecer dúvidas sobre o sono. Há famílias que chegam desesperadas, contando que o bebê simplesmente não dorme. Outras (acredite!) se preocupam por achar que a criança dorme demais. “O recém-nascido costuma dormir bastante, cerca de 20 horas por dia. Porém, como não têm compromisso assinado com nada, alguns dormem com intervalos maiores e outros com intervalos menores”, diz Luiz. Para o pediatra, os pais não devem estipular horários de sono, já que isso não funciona nesse início de vida e pode só deixar a família mais frustrada.
“Se você acha que seu bebê dorme muito pouco, é importante, sim, levantar esse assunto com o médico, que avaliará a possibilidade de alguma outra questão, que cause desconforto e impeça o sono, como fome ou cólica, por exemplo”, orienta.
8. É normal ter cólica?
Sim, bebês pequenos podem chorar bastante por dor na barriga. “A cólica é caracterizada por um choro intenso que dura horas e, geralmente, ocorre a partir da 3ª semana de vida até os 3 meses”, aponta o pediatra Pedro. “O que confunde muito são as chamadas disquesias, ou seja, a maturação intestinal. O problema gera discretos desconfortos que, no entanto, não duram muito tempo”, explica. Talvez na primeira semana de vida do seu filho, as cólicas ainda não tenham aparecido, mas é um bom momento para se precaver. Pergunte ao pediatra como reconhecer, o que fazer para aliviar e quais sinais indicam que não se trata de apenas cólica e que a dor abdominal pode vir de outro problema, que precisa ser investigado.
9. É normal o bebe ter refluxo?
Seu filho mama e o leite volta. Será que isso acontece sempre ou será que é só com o seu pequeno? Pergunte para o pediatra e veja se, na avaliação dele, é preciso investigar a questão mais a fundo ou só tomar medidas amenizadoras. “A regurgitação pode ser normal, desde que não atrapalhe a engorda ou rotina do bebê. Agora, se houver alteração no ganho de peso ou irritabilidade e incômodo, deve-se investigar uma doença do refluxo gastroesofágico”, explica Pedro.
10. Quando devem ser marcadas as próximas consultas?
A última pergunta não foge muito do que se faz com qualquer outra especialidade médica: “Doutor, quando deve ser o retorno?”. A primeira consulta, depois, claro, da avaliação inicial do recém-nascido na maternidade, deve acontecer com uma semana. “As outras costumam ser mensais, mas depende de cada bebê. Se for uma criança que nasceu com baixo peso, prematuro, se for uma criança que permaneceu mais tempo internada, se for uma criança que apresenta algum cuidado diferente, o pediatra vai avaliar a necessidade de uma maior frequência. Mas o comum é fazer um acompanhamento a cada 30 dias”, diz Luiz.