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Vacina, grupo de risco e mais: tudo que sabemos sobre covid-19 e gravidez

Conversamos com especialistas e reunimos tudo que já noticiamos sobre o tema para você tirar suas dúvidas

Por Nathalie Ayres
Atualizado em 20 jan 2021, 15h36 - Publicado em 19 jan 2021, 16h19

Finalmente a Anvisa aprovou as vacinas CoronaVac e de Oxford em caráter emergencial no Brasil. Além de muita comemoração, a novidade tem trazido dúvidas e até deixado algumas futuras mamães apreensivas: afinal, grávida pode tomar esses imunizantes?

Aproveitamos as novidades para atualizar você sobre tudo que sabemos até agora sobre a relação entre a gestação e a covid-19. Confira a seguir:

Estou grávida, posso tomar a vacina?

A questão é bastante pertinente: nenhum desses dois imunizantes foi testado em gestantes e lactantes, ou seja, não há evidência científica nem de segurança e nem de risco. Mas, a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) e a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) reforçam que “a segurança e eficácia das vacinas não foram avaliadas nestes grupos, no entanto estudos em animais não demonstraram risco de malformações”.

A CoronaVac, que está sendo distribuída inicialmente pelo governo federal, é feita com o vírus inativado, enquanto a de Oxford usa trechos do material genético do Sars-CoV-2. Ambas não são capazes de deflagrar a doença, e portanto podem até ser mais seguras. “A vacina da Influenza é de vírus atenuado e a recomendamos as gestantes”, ressalta a ginecologista Fernanda Belem, preceptora da residência de Ginecologia e Obstetrícia da BP – A Beneficiência Portuguesa, em São Paulo.

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Mas ambas as sociedades médicas reforçam que a decisão de tomar ou não compete à gestante e ao seu médico, que devem analisar o caso individualmente, respondendo questões como o risco que a futura mãe está exposta atualmente, presença de comorbidades que possam piorar a manifestação do vírus, entre outros. O mesmo vale para as lactantes.

E se eu descobrir que estou grávida depois de ter tomado? De acordo com a SBIm: “o profissional deverá tranquilizar a gestante sobre a baixa probabilidade de risco e encaminhar para o acompanhamento pré-natal. A vacinação inadvertida deverá ser informada no sistema do e-SUS como um ‘erro de imunização’ para fins de controle”.

Gestantes são consideradas grupo de risco para covid-19?

Logo no começo da pandemia, as gestantes não foram consideradas como um grupo de risco, já que a taxa de mortalidade era igual a de outros grupos de pessoas. “Posteriormente o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA) reavaliou a questão e viu que apesar da taxa de mortalidade ser parecida, as chances de gestantes, mesmo que de baixo risco, evoluírem para quadros mais graves (envolvendo UTI e entubação) eram maiores”, destaca o ginecologista Maurício Abrão, professor associado de Ginecologia da FMUSP, responsável pelo Setor de Endometriose do HC e Chefe do Setor Avançado de Ginecologia da BP.

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Além disso, o quadro de covid-19 pode causar problemas ao bebê, como aumentar o risco de prematuridade, o que também eleva as chances de um desfecho perigoso para o pequeno. Já as gestantes com comorbidades relacionadas a um pior prognóstico do coronavírus, como diabetes, hipertensão ou obesidade, precisam de cuidados redobrados contra a doença.

Outro ponto é que gestantes infectadas podem desenvolver um quadro chamado pré-eclâmpsia símile. “Trata-se de um quadro clinicamente muito parecido com a pré-eclampsia, ainda que tecnicamente não seja a mesma coisa, é comum aparecer após o covid”, descreve Belem.

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Se eu pegar covid na gravidez, vou passar para meu filho?

Até o momento a transmissão materno fetal é uma incerteza. “Os casos suspeitos e, portanto, em investigação, são bem raros. Novos estudos são necessários para descartar ou comprovar a transmissão materno-fetal”, reforça o ginecologista e obstetra Antônio Paulo Mallmann, professor da Escola de Medicina da PUCPR. 

Alguns estudos observaram em alguns bebês o resultado positivo no PCR, por exemplo, sem a criança ter tido a doença de fato. Outros estudos realizaram o PCR do líquido amniótico também e ainda assim sem uma conclusão universal. “O que se sabe é que sim, a transmissão fetal do vírus é possível, no entanto, ainda não foram verificados recém-nascidos que tenham desenvolvido a doença em si, por isso as conclusões ainda não estão encerradas”, resume Belem.

O que é CIVD e qual é a sua relação com a covid-19?

Apesar de ter um nome que lembra covid, a CIVD é um quadro que não tem apenas relação com a doença causada pelo novo coronavírus. A sigla significa coagulação intravascular disseminada e esta é uma complicação que pode acontecer devido a hemorragias ou tromboses, eventos que estão relacionados à infecção pelo Sars-CoV-2. “Após o parto, o bebê está a salvo, mas para a mãe, sempre é uma complicação grave e que não esperamos que ocorra”, considera Mallmann.

O coronavírus causa alterações na placenta?

Também ainda não é possível afirmar claramente que há uma relação entre a infecção pelo Sars-CoV-2 e alterações na placenta ou mesmo a prematuridade. “De fato, alguns estudos sugerem que a covid-19 possa favorecer o parto prematuro. O real mecanismo de desencadeamento e como evitar isso ainda não são claros e requerem mais estudos futuros”, considera Mallmann

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Abrão levanta a hipótese de que o problema esteja muito mais relacionado a fatores emocionais do que ao vírus em si. “Tanto o estresse materno quanto o fetal são os principais mecanismos responsáveis por desencadear trabalhos de parto prematuros”, ressalta o especialista. Para ele, é normal que quando a saúde geral do corpo está ruim, órgãos específicos também mostrem alterações, como é o caso da placenta.

Se estou com covid, como deve ser meu parto?

Para as mamães que desejam um parto normal, boas novas: a covid-19 não obriga que a criança nasça por cesariana. O mais importante na hora do parto é observar a saúde da mãe: se ela está estável, não há necessidade de mudar a via de parto planejada.

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“De modo geral, o que é afetado no parto de uma gestante com covid é o momento de fazer o parto, que precisa ser muito bem escolhido”, considera Belem. A ideia, no caso, é fazê-lo quando a mãe não está mais transmitindo a doença, o que deixaria o bebê mais seguro.

“No início da pandemia, existia uma impressão de que era importante adiantar o parto, uma vez que havia o risco de uma piora do quadro diante da doença. Entretanto, hoje sabemos que para pacientes pouco sintomáticas existe uma chance muito maior de evoluir bem”, reforça Abrão.

Então como as grávidas podem se proteger?

Além da proteção normal – que inclui evitar aglomerações, usar máscara protetora e higiene com uso de álcool em gel – é importante que a gestante tome cuidados redobrados, como trabalhar à distância. 

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