Quando um homem descobre que vai ser pai e dá a notícia para os colegas de trabalho e para o chefe, é “parabéns” para cá, tapinha nas costas para lá e até um happy hour com drinks para comemorar. No entanto, quando se trata de uma mulher contando que está grávida, ainda nos dias de hoje, o mercado de trabalho reage de maneira diferente. Óbvio que não é sempre assim. Existem (ainda bem!) as exceções. Porém, não é raro que as pessoas tenham preconceito e façam perguntas como: “E agora, com quem vai ficar o bebê?” e “será que você vai render menos na empresa?”
No quesito carreira, ainda há um longo caminho a ser percorrido em prol da igualdade das mulheres – e esse é só um exemplo. Diante disso, dá para entender por que é normal ficar insegura, ter dúvidas ou sentir até um certo receio na hora de revelar no trabalho que você está esperando um bebê (ou que está na fila de adoção, ou que sua companheira está grávida).
“É uma notícia marcada por expectativa, angústia, preocupação, além de ansiedade, enjoo, cansaço e sonolência, que são algumas características do primeiro trimestre de gestação”, lembra Camila Antunes, cofundadora da consultoria Filhos no Currículo.
Qual é o melhor momento para dar a notícia?
A verdade é que ele não existe… “Não tem certo e errado. Há quem prefira esperar o término do primeiro trimestre, até por recomendação médica”, diz a especialista. Como nas 12 semanas iniciais as chances de acontecerem intercorrências (como perda gestacional) são maiores, algumas famílias acham melhor aguardar esse período mais crítico em silêncio. “Além disso, é no início do segundo trimestre que a grávida realiza um exame importante [o ultrassom morfológico], que revela um panorama mais detalhado sobre a saúde física e genética do bebê”, destaca Camila.
A decisão, portanto, é pessoal. Há quem opte por conversar sobre o assunto desde a jornada de tentante. E tudo depende também da relação com a liderança e com os colegas de trabalho. Quem pretende ter um bebê por meio de reprodução assistida, por exemplo, talvez queira contar logo para que a ida a consultas e exames, que fazem parte do processo, não causem estranhamento.
A pessoa que decide adotar também pode informar a empresa desde a intenção, quando a entrada do nome na lista de espera é oficializada, ainda que possa demorar, ou quando se inicia o processo de adaptação. O importante é se sentir segura e confortável para falar – além de conhecer seus direitos.
Para quem contar primeiro?
Algumas mulheres têm uma relação de amizade com os colegas de trabalho e, de novo, fica a critério delas se abrir ou não. Sobretudo para quem opta por manter a notícia em off nos primeiros três meses, com os enjoos e a sonolência, talvez seja interessante ter algum “cúmplice” na empresa, alguém para ajudar em situações mais desafiadoras. “Mas é importante marcar uma conversa com sua liderança e com o RH”, recomenda Camila. E antes que a notícia chegue a eles por outros meios.
O ideal é separar um momento, em um dia mais tranquilo, para falar sobre o assunto com calma, tirar as dúvidas e mencionar as preocupações. Camila sugere, inclusive, que a mãe faça uma lista com os temas que deseja abordar, para não esquecer de nada.
De acordo com as dicas do Programa de Parentalidade (que a Filhos no Currículo leva para as empresas, com a intenção de criar uma cultura de bem-estar parental no mercado corporativo), alguns pontos importantes para abordar ao longo da primeira reunião são:
- Verifique a necessidade de adequação de espaço ou de condições de trabalho (se você exerce uma profissão que ofereça risco para a gravidez, por exemplo);
- Informe-se sobre benefícios e procedimentos necessários para a fase de espera da criança;
- Decida, junto da liderança, como a notícia será compartilhada com a equipe;
- Se possível, combine antes as saídas necessárias para o pré-natal ou processo de adoção. Isso pode mudar ao longo dos meses, então, é importante ir atualizando a situação, caso haja intercorrências. Mais para frente, decida, junto com o obstetra, a partir de quando deve tirar a licença-maternidade e informe também, assim que possível.
“Empatia na escuta e na comunicação são importantes ao longo de toda a jornada”, reforça a consultora. “A liderança não tem como saber do que você precisa, se você não disser”, reforça ela. Caso seja possível, a orientação é para que haja espaço para conversas recorrentes ao longo das semanas de gravidez, já que a situação e as necessidades podem mudar com o passar do tempo.
Como fica a gravidez no trabalho remoto?
Hoje, principalmente depois da pandemia, várias empresas e diversos profissionais aderiram ao home office. Nesse caso, é preciso contar também? Segundo, Camila, a comunicação aqui é ainda mais valiosa. “O nosso modo de interação muda completamente quando estamos fisicamente distantes das outras pessoas. A falta de convivência e de proximidade física pode ser mais um obstáculo para perceber as necessidades dos outros”, diz.
O principal, então, é o diálogo. Seja qual for a situação, com uma conversa aberta e sincera, fica mais fácil se organizar para que tudo seja combinado e adaptado da melhor forma para todos os envolvidos. Assim, você consegue conciliar a gestação e a carreira com mais tranquilidade e se preparar para receber seu bebê nos braços com todo o carinho e atenção que ele merece.