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Tadeu França: “Para onde os exemplos que dou vão arrastar meus filhos?”

O influenciador reflete sobre os caminhos da parentalidade - que podem ser os melhores possíveis, ainda que sejamos humanos e cheios de falhas

Por Por Tadeu França | Arte: Anamaria Sabino
Atualizado em 18 ago 2023, 16h58 - Publicado em 18 ago 2023, 16h54

Depois de ter filhos, descobri que minha geração foi considerada a “Geração dos Sobreviventes”. Aquela que apanhou e não morreu, mas que, por isso, cresceu cheia de traumas, que sempre ouviu “na volta a gente compra”, mas que nunca viveu esse momento. Uma geração que passou por diversos tipos de violência física e/ou psicológica de seus pais, para que as necessidades dos mesmos fossem atendidas, sob a justificativa de que aquilo era para educar e ensinar a “ser gente”.

E mesmo com o avanço da tecnologia e do acesso à informação, muitos de nós reproduzimos os modelos de educação das gerações anteriores, sem buscar quebrar o ciclo. Daí eu me pergunto: essa não quebra de ciclo se dá por mau-caratismo ou por falta de bons exemplos e referências? Fico com a segunda opção.

Dizem que o exemplo arrasta. E arrasta mesmo. Seja ele bom ou ruim, a nossa tendência é repetir os padrões que nos foram ensinados, sem questionamentos. Porque é mais fácil, pois você viveu dessa forma, além de que dá muito trabalho mudar o que já está sendo feito há anos. E assim nossa sociedade segue.

Eu escolhi quebrar esse ciclo. Percebam, eu disse: “Eu escolhi”! Ou seja, a sociedade em que vivemos me deu a opção de decidir como eu vou criar os meus filhos. Na violência, como aconteceu comigo, ou no respeito à infância, como não aconteceu com ninguém antes de mim. E, sim, eu escolhi fazer o diferente, só não imaginava que seria tão difícil assim, e muito menos que eu me depararia com o maior obstáculo que poderia existir: a minha humanidade.

Tadeu frança com os filhos
Tadeu com os filhos Augusto, de 4 anos, e Hugo, de 2 (Tadeu França/Arquivo Pessoal)

Como eu vou ser um bom exemplo para o meu filho sendo humano? Como ele vai se espelhar em alguém tão falho, que muitas vezes não faz o que prega? Que não diz sempre “por favor”, “com licença” e “obrigado”? Para onde os exemplos que eu dou vão arrastar meus filhos?

Nunca encontrarei as respostas para essas perguntas, talvez elas nem existam. Mas uma das melhores lições da criação através do exemplo é exatamente a exposição dos nossos sentimentos e das nossas vulnerabilidadesSão os caminhos que tomamos para sair de uma situação embaraçosa, para recalcular a rota após um erro, e a possibilidade de dizer: “Filho, hoje o papai errou com você, porque eu estou triste e muito nervoso. O papai também tem dias ruins, mas você não tem culpa! Me desculpa?”. Uma atitude que fará com que as crianças confiem mais em nós, que nos vejam como portos seguros de acolhimento e que entendam que elas sempre poderão correr PARA NÓS e, não, que não precisam correr DE NÓS.

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Um dia, meu filho mais velho, de 4 anos, estava extremamente resistente ao banho, chorando, gritando, rolando no chão, e aquilo foi a gota d’água para mim, que estava tendo um dia ruim por conta do trabalho. Até que gritei: “CHEEEGAAAA”! Ele, na mesma hora, de forma reativa, arregalou os olhos em lágrimas, levantou o dedo indicador, apontou para mim chorando e disse: “Você não pode falar assim comigo! Me respeita!” Já com o meu filho mais novo, de 2 anos, houve um dia em que estávamos trocando a fralda de cocô e, na última passada de lencinho, ele puxou o objeto da minha mão e disse: “Esse eu que passo! Me respeite!”

Tadeu França com o filho
Tadeu beijando o pequeno Augusto (Tadeu França/Arquivo Pessoal)

Em ambos os casos, constatamos que os dois já absorveram, através do exemplo, noções de privacidade, respeito ao próprio corpo, limites de comunicação, maneiras de falar etc. Isso significa que todos os dias fazemos palestras conceituais para eles? Não! Mostra que as nossas atitudes refletem no comportamento dos nossos filhos, pois muitas coisas são absorvidas por eles a partir das entrelinhas, no ato de pedir licença ao trocar a fralda ou dar banho, ou quando nos abaixamos no nível da criança para acolher seus sentimentos e demonstramos interesse genuíno pelo que ela está sentindo. Até no “obrigado” sincero que falamos após um favor prestado.

Não vou dizer que é fácil e nem romantizar a paternidade, mas depois que fui pai me tornei um homem muito melhor, em constante aprendizado, principalmente a partir das trocas que tenho com os meus filhos e com a sociedade em que estamos inseridos.

Criar filhos a partir do exemplo é o melhor caminho que enxergo para exercermos a parentalidade nos dias de hoje. E que nossos exemplos possam arrastar as crianças para o melhor caminho possível – claro, sempre considerando suas individualidades, subjetividades e maneiras de ser. E já que é possível escolher, que a gente escolha ser o melhor exemplo que puder.

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Tadeu França (@otadeufranca) é escritor, ator, criador de conteúdo e pai do Augusto e do Hugo.

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