Desde que os relatos chocantes sobre casos no Discord vieram à tona, a preocupação de pais e cuidadores em relação à presença online de crianças e adolescentes ficou ainda mais evidente. E não é para menos, já que as violências praticadas contra eles são graves. Por isso, é essencial saber o que de pior acontece – não para se alarmar, mas para poder orientar os filhos a navegarem de forma segura em um espaço tão pouco controlado.
Eva Dengler, Superintendente de Programas e Relações Empresariais da Childhood Brasil, conversou com BEBÊ e apontou quais são os perigos mais comuns. Veja a seguir!
Cyberbullying e cyberstalking
Como o nome sugere, cyberbullying nada mais é do que o bullying praticado e intensificado nos meios digitais. “Isso está muito ligado às plataformas que permitem interação em tempo real, como a do Discord”, destaca Eva. Um ponto importante aqui é que, quando o bullying acontece de forma online, ele é mais difícil de ser observado, o que exige ainda mais atenção dos adultos.
Já “stalk” significa seguir, espreitar. O cyberstalking é, portanto, uma maneira de perseguição online e que envolve o uso de tecnologia para isso – mídias sociais e, principalmente, bancos de dados, mecanismos de busca e outros recursos da internet. A intenção é de deixar alguém com medo, chantagear e limitar sua liberdade e sua segurança.
Por mais que estejamos, atualmente, tão expostos no ambiente online, é importante explicar aos filhos que tudo aquilo que é compartilhado na rede pode ficar acessível para sempre. Logo, é preciso ter muito cuidado e não expor informações sensíveis, como onde mora, estuda, lugares que frequenta, entre outras, além de fotos e vídeos em situações de constrangimento.
Abuso sexual na internet
Aqui, encaixam-se todas as formas de abuso sexual facilitadas pela tecnologia e divulgadas pelas mídias. “O agressor, muitas vezes, age de forma sedutora, tenta conquistar a confiança da criança ou do adolescente, e o abuso online pode acontecer de diversas maneiras, chegando ou não até um contato pessoal“, destaca a porta-voz da Childhood Brasil.
Eva Dengler explica que existe, inclusive, o termo estupro virtual, que se trata do ato de constranger a criança ou o adolescente para que ele pratique, na frente da webcam, algum ato libidinoso, “inclusive com cenas mais perversas”, alerta. Ele acontece, em geral, quando se está sob ameaça grave.
Exploração sexual online
Inclui todos os atos em que a relação sexual é fruto de uma troca (financeira, favores, oferta de presentes). Esse tipo de violência é caracterizada também pela geração de imagens e materiais que documentam a situação com a intenção de produzir, disseminar, comprar e vender o conteúdo. “É o mesmo que temos no mundo real”, lembra Eva.
Ela reforça ainda que produtos para fins comerciais (produção e distribuição de material – fotografias, vídeos, desenhos…) com crianças e adolescentes são considerados pornografia e, “diferentemente dos adultos, são crime”.
Vale ressaltar que, segundo a SaferNet, organização que defende e promove os direitos humanos na internet, a orientação mundial é substituir o termo “pornografia infantil” por “imagens de abuso e exploração sexual infantil” ou “imagens de abusos contra crianças”, já que o termo antigo implica consentimento.
Outras formas de violência online
Eva Dengler explica que o contato com conteúdos inapropriados também é um risco que os jovens encontram na internet. “É quando se tem a exposição de crianças e adolescentes, intencionalmente ou acidentalmente, a conteúdos violentos, que geram ódio ou de natureza sexual, e que são prejudiciais ao desenvolvimento da criança”, afirma.
Entre essas questões, estão envio de nudes, sexting (troca de conteúdo sexual), sextorção (chantagem envolvendo propagação de imagens), flaming (envio de mensagens vulgares e hostis), gamificação do abuso (aplicação de elementos como pontuação, competição com os outros…) e grooming (aliciamento de crianças e adolescentes no mundo virtual por parte de adultos).
Em caso de suspeita, denuncie
Para denunciar qualquer suspeita ou caso de abuso, Disque 100. A ligação é gratuita e anônima. Abuso e exploração sexual são crimes, mesmo que online. Já a SaferNet Brasil disponibiliza um site para denunciar anonimamente violações contra os Direitos Humanos na internet: new.safernet.org.br/denuncie.