Mãe é impedida de assistir aula com filha de 11 meses em faculdade
A mãe ainda foi orientada por uma coordenadora da faculdade a "repensar" se deveria continuar os estudos por não ter uma creche para deixar a filha.
Enquanto trilham a jornada da maternidade, mulheres também podem ocupar outros lugares socialmente, como o de estudantes. Só que para isso, é fundamental que as instituições de ensino também desenvolvam uma estrutura para receber estas mães, principalmente na ausência de uma rede de apoio. Na prática, isso nem sempre acontece, como revelou Melissa Faria, de 20 anos, ao ser impedida de assistir à aula ao precisar levar sua filha Maitê, de 11 meses, junto com ela.
No seu perfil do Instagram, em que ela identifica que cursa o quinto semestre de Direito na Universidade Faminas, em Belo Horizonte, Melissa escreveu sobre a injustiça que viveu com a filha. “É com um nó na garganta e o sentimento de impotência que eu volto para casa, na chuva, com minha filha de 11 meses que não pôde me acompanhar na sala de aula da faculdade”, relatou.
Ela explica que, assim que chegou na instituição num dia chuvoso, recebeu ajuda para subir as escadas com o carrinho de Maitê. Mas assim que passaram a catraca do prédio para ir à aula, ela foi abordada pelos seguranças. “Em nenhum momento foram grosseiros comigo, porém, precisaram chamar a coordenadora para conversar comigo. Ela me disse que a faculdade não é lugar para crianças, pois é uma instituição de ensino superior”, contou Melissa. Ela ainda tentou explicar que estava com a filha, porque não conhecia ninguém de confiança para cuidar da pequena enquanto estudava, além de ainda amamentá-la.
Sem rede de apoio, sem acesso à educação?
“Doeu ouvir da coordenadora que como não tenho com quem deixar, e por estudar a noite e não ter creche disponível, terei que “repensar”. Repensar o quê? Com outras palavras, ESQUECE! Se você é mãe e amamenta e não tem uma rede de apoio, ESQUEÇA de estudar, aqui não te cabe“, desabafou Melissa.
Entre políticas públicas que existem para garantir os direitos das mulheres, a mãe cita tratados internacionais assinados pelo Brasil como o da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (CEDAW), de 1979. para proteção inclusive da maternidade e da educação.
“Eles têm força de lei, devem ser respeitados. A gente quer continuar os estudos, ter uma carreira, mas às vezes não dá para achar espaço em creche pública ou não dá para pagar escola. Algumas meninas desistem, outras, como eu, passam constrangimento quando tentam entrar com o filho. Se as instituições adotarem espaços para as crianças, seria um incentivo à educação“, refletiu a mãe.
A resposta da faculdade
A publicação de Melissa no Instagram já soma mais de 28 mil curtidas e o seu relato chegou até a faculdade em que estuda. Um dia após a postagem da mãe, a instituição emitiu uma nota oficial, em que afirma não compactuar com a maneira que a estudante foi tratada.”Não existe uma normativa interna que impeça as mães de trazerem seus filhos para a faculdade e não existe uma normativa interna que impeça a vinda das crianças à FAMINAS”, pontuou o documento.
De maneira ampla, a universidade afirma que está trabalhando em medidas internas para que episódios semelhantes ao de Melissa não voltem a acontecer, e que está em contato direto com a estudante para que possam encontrar a solução mais cabível para a situação.
Em entrevista ao jornal “O Tempo”, a estudante de Direito contou que recebeu a ligação de um dos diretores da instituição, que se desculpou pelo ocorrido e afirmou que ela pode levar a filha para aula sempre que precisar.