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“Espero que meu filho surdo não seja excluído, mas respeitado onde for”

Eduarda Melo viu os planos idealizados para o filho desmoronarem ao saber que ele era surdo. Mas foi só o começo de uma jornada cheia de aprendizado.

Por Ketlyn Araujo
26 set 2021, 10h00
Dia Nacional da Surdez: Eduarda Melo e o filho, Eduardo Joshua
 (Priscila Guimarães Fotografia/Eduarda Melo/Arquivo Pessoal)
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Não foi logo após o nascimento do filho, Eduardo Joshua, hoje com cinco anos de idade, que a enfermeira Eduarda Melo soube que ele era surdo. A descoberta levou tempo e só aconteceu quando Dudu, como ela o chama carinhosamente, estava com um ano e sete meses.

Frustrada com a descoberta, a pernambucana a princípio sentiu que os planos e desejos que havia pensado para o seu menino iriam por água abaixo, mas com paciência e conhecimento percebeu que não precisava ser assim. Após estudar muito e trocar com outras mães, tomou a decisão de colocar um implante coclear em Eduardo.

“Meu filho é apaixonado por sons, música e barulho, e isso é muito importante para mim. Dei essa oportunidade a ele, mesmo que no futuro ele me diga que não quer mais ouvir”, diz ela, confiante em sua decisão.

Além disso, Eduarda decidiu dedicar-se ao estudo de Libras, na intenção de entender, de fato, sobre a vivência de seu pequeno, e ampliar ainda mais o conhecimento – próprio e o dele – em diferentes formas de comunicação.

“Tento ensinar de tudo [ao Eduardo] – português, leitura labial, Libras. Quero que ele tenha várias ferramentas e instrumentos para a comunicação, assim ele vai utilizar a forma com a qual se sentir mais à vontade“, explica ela, que hoje conta com uma rede de apoio bastante fortalecida, formada principalmente pela mãe, a tia, a irmã e o pai que, segundo ela, são as pessoas que mais a auxiliam e apoiam nos cuidados com o pequeno.

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Em comemoração do Dia Nacional do Surdo, que acontece em 26 de setembro, Eduarda conta aqui sobre sua jornada cheia de descobertas ao lado do filho, e destaca a importância de uma sociedade mais inclusiva não apenas na teoria, mas na prática.

Descoberta e mudanças

“Descobri que meu filho era surdo quando ele tinha um ano e sete meses. Me senti péssima, não sabia o que fazer, era tudo muito desconhecido. Quando soube, não conseguia nem reagir, mas senti que todos os sonhos e vontades que eu tinha para ele estavam desmoronando.

Depois do choque inicial eu fui pesquisar sobre o que poderia ser feito, quais atitudes tomar para ajudá-lo. Foi pesquisando, questionando e procurando por outras mães que cheguei à decisão de colocar um implante coclear no Eduardo.

Neste processo todo, a primeira mudança que senti foi a necessidade de ter uma pessoa que o acompanhasse nas diferentes terapias. Isso porque, depois do implante já instalado, a criança precisa fazer terapia ocupacional, passar com psicóloga, psicopedagoga e fonoaudióloga e fazer musicoterapia para auxiliar em todo o processo de aprendizagem, tanto de ouvir quanto de falar”.

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Aprendizado na prática

“A princípio eu não sabia nada, mas fui pesquisar sobre pacientes surdos. Sou enfermeira, então decidi fazer um curso de Libras: comecei com o ‘Básico 1’, fui para o ‘Básico 2’, ‘Intermediário 1’, ‘Intermediário 2’, ‘Avançado’… Fiz pós-graduação em Educação inclusiva com foco na pessoa surda, para justamente aprender quem é, de fato, o indivíduo surdo. Fiz isso para que pudesse entender um pouco sobre o meu filho e, assim, aprender mais e mais e tentar auxiliá-lo em seu processo.

Queria que as pessoas entendessem que o meu filho é igual a todo mundo. Crianças são crianças, só precisam de respeito e de entendimento. Ele é como qualquer outro, não gosto que ninguém saia por aí o diferenciando, como ‘especial’. Sim, ele é especial para mim, como mãe, mas deve ter todos os direitos que qualquer criança tem.

Aqui, falando sobre o meu filho – pois nem toda criança surda é ‘rebelde’, e nem toda criança ouvinte é tranquila-, é preciso paciência. Entender o tempo dele, respeitar, orientar, conversar, escutar e tentar prestar atenção nas atitudes dele, nos olhares. Por mais que o Dudu tenha um implante coclear, o olhar dele fala bastante, entendo muita coisa que ele quer através disso”.

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Preconceito e inclusão

“As pessoas, na minha opinião, precisam parar de usar o termo ‘surdo-mudo’, porque raramente existe alguém que é apenas mudo. Existe o surdo, e o surdo só não fala porque não foi ensinado a falar. Eu fico brava quando alguém diz ‘surdo-mudo’, mas também sei que isso se dá porque muita gente não sabe sobre o assunto. Também me incomoda quando alguém diz que ele é ‘deficiente auditivo’: ele é surdo, esta é a característica dele.

Outra coisa complicada são as pessoas que dizem que meu filho ‘precisa aprender português’, que precisa ouvir e falar em vez de aprender Libras. Não gosto disso. Ele vai aprender o que ele quiser, e eu tento ensinar de tudo – português, leitura labial, Libras. Quero que ele tenha várias ferramentas e instrumentos para a comunicação, assim ele vai utilizar a forma com a qual se sentir mais à vontade.

Eu só espero que meu filho não seja excluído socialmente, mas respeitado e reconhecido onde for, tratado com acolhimento. Pode ser que no futuro ele fique sozinho, sem a minha presença para protegê-lo, para cuidar dele – esta é, para mim, a parte mais desafiadora de tudo isso. Tudo o que eu posso fazer por ele tem de ser agora, para que esse sentimento seja amenizado. Meu maior medo é de que zombem dele, brinquem com a cara dele, o humilhem.

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Quando eu descobri a surdez do Eduardo, só tinha conhecimento sobre pessoas surdas que não estudaram, não se formaram. Não vou mentir, o meu sonho para o Dudu é que ele se torne um Doutor – não um médico, mas alguém que fez doutorado.

Conheço uma pessoa surda que fez doutorado, e acho isso uma vitória, principalmente em um país tão preconceituoso quanto o nosso. Mesmo que a esposa do presidente diga que fala em Libras, aquilo não significa nada, é preciso inclusão para todo mundo”.

De mãe para mãe

“Meu conselho, para mães que passam pelo mesmo que eu, é ter paciência. Que compreendam e, como diz uma pessoa que conheço, ‘sintam o que o coração quer dizer, façam o que o coração pede’. Nem sempre o que uma outra mãe faz vai ser o melhor para você, principalmente quando você conhece bem o seu filho e se permite viver tudo com ele.

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Esta vivência, este conhecimento, este momento só de vocês são muito importantes, tanto para a mãe quanto para o filho. Se a criança contar com a presença do pai, massa, dos irmãos também. Mas que exista esta troca entre a mãe e a criança, não apenas a que é surda, mas a autista, a que tem Síndrome de Down, e todas as outras especificidades.

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Permita-se, não coloque o seu filho dentro de uma ‘bolha’. Crianças surdas, como qualquer outra, são inteligentes, espertas, amáveis, amorosas, carinhosas e adoram atenção. Portanto, não coloque mais empecilhos na vida dele, acredite no potencial da criança, porque ela é extremamente fantástica – a cada dia que passa eu acredito mais e mais nisso.

Se você tiver a oportunidade de colocar o implante coclear na sua criança surda, dê a chance de poder ouvir para ela. Se ela não quiser mais, com o passar do tempo, ela pode jogar o aparelho fora, até porque ele não vai servir para mais ninguém. Dei essa oportunidade ao meu filho, que é apaixonado por sons, música, por barulho. Isso é muito importante para mim, mesmo que no futuro ele diga que não quer mais ouvir”.

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