Você leu tudo o que podia, foi ao médico, conversou com o parceiro e juntos decidiram que chegou a hora de ter um bebê. Só que no momento que julgava ser o mais feliz da sua vida, apareceram também sentimentos conflitantes. Do nada, a alegria deu lugar ao esgotamento. Se essa cena é familiar para você, pode ser que esteja enfrentando uma crise de estresse.
A boa notícia é que perceber os sintomas é o primeiro passo para driblar o problema. Conversamos com Raquel Jandozza, psicóloga, doula e criadora do projeto Pré-Natal Emocional e reunimos dicas para auxiliar as mulheres que estão vivenciando essa situação na vida materna. Confira abaixo e lembre-se: você não está sozinha!
1. Se planeje
A gente sabe que a maternidade não tem fórmula: às vezes, o que é útil para uma pessoa, pode não funcionar para outra. É na prática, nas situações do dia a dia, que as mulheres entendem o que realmente dá certo para elas e para os pequenos. Mas apesar disso, a organização é importante. “Tenha um plano de ação e com quem contar – seja o parceiro ou familiares. No pós-parto, isso faz com que a mãe consiga realmente se dedicar ao bebê, sem ter que dar conta de outras demandas como as da casa ou da rotina da família”, orienta Raquel Jandozza. Gerar, dar à luz ou mesmo criar uma criança não é uma tarefa fácil e pode, sim, ser estressante. Além disso, também há os fatores hormonais que fazem com que o humor oscile durante a gestação e depois do nascimento do filhote. “A mulher se sente muito insegura com todas as alterações e até estranha a si mesma porque está em um território totalmente diferente do que ela vivia antes. A adaptação é extremamente necessária para que isso aconteça de forma mais tranquila. Antes do parto, ela deve se preparar e pensar em qual será o seu planejamento”, acrescenta a especialista.
2. Tenha uma rede de apoio
Contar com a participação do pai, assim como receber o suporte da família e também de amigos é outra medida que alivia o estresse materno. Ter esse tipo de apoio faz toda a diferença para que as mulheres não se sintam sobrecarregadas. “Muitas vezes, elas pedem ajuda, mas não são ouvidas. Por vezes, também não conseguem delegar as tarefas para outras pessoas, pois se sentem impelidas a fazerem tudo como sempre fizeram”, afirma a psicóloga de São Paulo. Especialmente nos primeiros meses de vida, as mães passam grande parte do tempo suprindo as necessidades do pequeno que chegou ao mundo, mas isso não quer dizer que as pessoas próximas não possam assumir algumas responsabilidades. “Nutrir um bebê demanda energia física e emocional. Quem está ao lado, pode contribuir colocando-o para arrotar após a amamentação, trocando as fraldas, cuidando das tarefas domésticas e favorecendo momentos de descanso, de lazer, e até uma alimentação adequada para a mãe”, sugere a profissional.
3. Cobre o envolvimento do pai
Não importa se o casal está ou não junto, é obrigação do pai se envolver com a criação do filho. Nada menos do que isso deve ser aceito. “Vemos socialmente o papel da mulher muito atarefada, sobrecarregada e responsável por boa parte da rotina da criança, então, de fato fica pesado. Quando ela começa a crescer, todos esses cuidados – desde a alimentação até a educação – passam inevitavelmente pela mãe de forma muito mais intensificada do que é para o pai. Isso causa bastante estresse porque ela não é só mãe: é filha, esposa, profissional”, reforça Raquel. Fica o recado: pai que é pai não ajuda, faz a sua parte.
4. Se permita
A experiência de ter um filho é realmente única, mas ela também é cheia de altos e baixos e as mães não devem se sentir culpadas por isso. Muito pelo contrário: é necessário que elas se permitam expressar o que estão vivendo. “É importante que, quando a mulher perceber que está pesado, difícil, doloroso, que está muito cansada, fadigada, irritada, observe a rotina dela e, mais uma vez, conte com apoio. Se está sentindo um incômodo constante – seja em forma de angústia ou até mesmo sintomas físicos – deve procurar ajuda tanto médica quanto psicológica, ou até compartilhar com uma amiga, parceiro e familiar”, orienta a especialista. Vale lembrar que logo depois que o pequeno nasce, muitas mães sentem uma melancolia – chamada de baby blues -, que é diferente da depressão pós-parto. Esteja atenta aos sintomas.
5. Não se cobre tanto
Casa, trabalho, bebê, vida social, casamento… Não. Você não tem que dar conta de tudo e entender isso é fundamental para atenuar o estresse. “Fazer parte abaixar um pouco as defesas, se sentir vulnerável e trazer para si mesma a compreensão de que ninguém é de ferro, para que tudo flua um pouco melhor. A mãe não deve se cobrar de deixar a casa 100% limpa, as roupas da crianças arrumadas o tempo inteiro ou de ter filhos perfeitos porque todo mundo falha. E aí que está a importância do diálogo entre família”, ressalta a psicóloga. Peça ajuda, tire um tempo para você, converse com uma amiga próxima, respire fundo e o mais importante: deixe os julgamentos de lado.
6. Preserve a sua individualidade
É normal a mãe sentir saudade de quem ela era antes de ter os pequenos. E deixar um tempo livre para se curtir, fazer um esporte, ler um livro ou descansar são alternativas válidas. “Muitas mulheres que têm filhos assumem para si uma vida dupla – ou mesmo tripla – onde não há individualidade. Algumas vivem essa carga o tempo inteiro. E não é que existe um período do dia em que dá para deixar de ser mãe, mas tem ocasiões em que é possível ser só mulher – cuidar da própria vida, carreira e se dedicar aos momentos de prazer”, explica a especialista. Então fica a dica: cuide também de você!
7. Não menospreze o estresse
Ter dias bons e ruins faz parte da vida, mas se você estiver percebendo que está extremamente esgotada, converse com uma pessoa próxima e não deixe de procurar auxílio. “O estresse é muito nocivo para a mulher, para a gestante, para qualquer ser humano. Fique atenta aos sintomas emocionais: não os negue, despreze ou diminua achando que tudo é por causa da gravidez e do pós-parto. Esteja atenta o tempo inteiro porque para cuidar de um filho e de uma família, é importante primeiramente cuidar de si mesma. Só assim você terá condições físicas e emocionais para dar suporte a todos que ama”, finaliza Raquel.