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Maya Eigenmann fala sobre quebra de ciclos de violência na educação

Livro "A Raiva Não Educa, a Calma Educa" traz explicações introdutórias para pais, cuidadores e curiosos sobre o tema de forma acessível

Por Carla Leonardi
Atualizado em 3 fev 2023, 13h03 - Publicado em 8 jan 2023, 10h00
Maya Eigenmann segurando o livro A raiva não educa, a calma educa. O livro cobre metade do rosto dela. Ela é uma mulher branca, de cabelo curto e castanho, usa uma blusa de manga comprida azul e de gola alta. Ela está sorrindo.
 (Maya Eigenmann/Divulgação)
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Você teve uma educação e se tornou aquilo que considera uma “boa pessoa”, o que automaticamente significa que aquele modelo de criação foi o melhor a ser seguido. Será? É difícil, na vida adulta, olhar para trás e procurar entender que diversas questões de comportamento podem ter surgido a partir de pequenas ou grandes violências sofridas na infância. É compreensível, afinal, ter esse olhar crítico em relação aos pais ou aos responsáveis soa quase como uma traição, já que eles fizeram aquilo que sabiam e a partir das ferramentas que tinham na época. Além disso, nomear atitudes como “violentas” pode parecer um exagero num primeiro momento.

Muitas pessoas olham para a própria infância, para a violência que passaram, e não a veem como tal, mas como algo natural, que faz parte do processo, e que graças a isso se tornaram humanos bons”, diz Maya Eigenmann, pedagoga, educadora parental, pós-graduanda em neurociências e autora do livro A Raiva Não Educa, a Calma Educa. “Isso está conectado a uma questão de falta de autoconhecimento, mas também a todo um sistema tóxico no qual estamos inseridos, e não é tão fácil assim olhar para além dele”, afirma.

A questão que Maya apresenta em seu livro é que, quando se ocupa a posição do adulto que deverá educar, essa mirada para o passado precisa acontecer de forma consciente e reflexiva. O movimento de olhar a própria educação e entender o que pode não ter sido tão legal é fundamental para não dar continuidade a ciclos de violência que são incutidos nas famílias e perpetrados por gerações. Para isso acontecer, porém, informação e conhecimento são essenciais.

“Nós estudamos para tudo na vida. Se vamos abrir um negócio, fazemos uma pesquisa de mercado antes. Se quero virar médica, vou para a faculdade de medicina. E mesmo com cursos livres, vamos atrás de conhecimento para tudo que queremos conquistar. Mas com os filhos, não. Achamos que basta a intuição, que ela é suficiente – e obviamente não é. Inclusive, a ciência traz muita informação que vai nos aliviar nesse sentido”, pontua.

E não se trata apenas de não bater em crianças. Sim, esse é um ponto-chave na medida em que é uma forma explícita de violência. Mas a repressão do choro, a não aceitação do erro, o ato de invalidar emoções atribuindo tudo à birra, as cobranças desmedidas, entre outros comportamentos que se tem com os filhos, podem gerar consequências negativas para toda a vida.

Na foto, uma mão infantil segurando uma mão adulta, ambas de pele branca.
(boonchai wedmakawand/Getty Images)

A educação positiva como compromisso de todos

A educadora parental salienta que a educação positiva – também chamada de educação com respeito, não-violenta, entre outras formas – é, muitas vezes, vista de maneira negativa como mais uma carga a ser carregada pela mulher, que ainda assume majoritariamente a responsabilidade pela criação dos filhos numa sociedade atravessada por fortes resquícios patriarcais. “O problema não é a educação positiva ser mais um peso, o problema é que todo o sistema está defasado, deixando tudo por conta dessa mulher sozinha. Em um primeiro momento, pode passar essa impressão de que é uma carga a mais, mas na verdade a educação positiva vem para aliviar. Só que, às vezes, essa resistência é tão intensa que a pessoa nem se abre para a possibilidade”, explica a especialista.

Maya, que tem um perfil no Instagram com mais de 1 milhão de seguidores, onde compartilha informações e troca experiências, conta que a imensa maioria de seus leitores é formada, justamente, por mulheres. “A gente já vê uma discrepância em relação ao interesse das pessoas do sexo masculino sobre educação positiva. Esse é um problema muito reforçado pelo patriarcado e pelo machismo, em que a mulher é vista como a pessoa responsável pela criança, pela educação e criação dela, e o homem é responsável por sustentar a casa. O problema é que, enquanto os homens não perceberem como eles contribuem para esse sistema, eles também estão sendo coniventes e violentos para com as mulheres e seus filhos“, alerta. 

Uma questão importante, segundo a pedagoga, é conseguir lidar com as próprias emoções para ser capaz de abraçar genuinamente os sentimentos das crianças. “Como eu vou acolher o choro do meu filho se não sei nem acolher o meu próprio choro? Essa é a realidade de muitos homens”, ressalta Maya, lembrando que situações como essas não se resolvem de forma simples ou com fórmulas mágicas – tudo é um processo longo, que parte, inicialmente, do diálogo.

Crianças-sentadas-em-um-curativo
(Arte: Victoria Daud/ Foto: Malte Mueller/Getty Images)

A mudança que deve estar no adulto

Como em quase tudo na vida, mudar é parte de uma extensa caminhada. Isso significa que aqueles “três passos infalíveis para acabar com a birra” provavelmente não vão funcionar de um dia para o outro. O que faz diferença é a consistência, a tentativa consciente e a busca constante por informações. Então, não adianta esperar que depois de um curso ou de um livro lido, o comportamento da criança vai ser aquele que você espera.

“Eu bato na tecla o tempo todo de que a educação positiva não é para as crianças, é para os adultos. Se a pessoa já entra com essa mentalidade, ela não vai se decepcionar, porque ela vai saber que o fator de mudança, ou o agente de mudança, é o adulto e não a criança. A criança não precisa me provar que eu estou sendo bom adulto, não precisa me retribuir pelo meu esforço. Não é a criança que tem que facilitar as coisas pra mim, eu que tenho que facilitar”, finaliza Maya.

A Raiva Não Educa, a Calma Educa

O livro de 2022 publicado pela Astral Cultural traz os principais pontos da educação positiva de forma introdutória, ideal para quem ainda está dando os primeiros passos nas reflexões sobre parentalidade. Com exemplos simples, Maya Eigenmann apresenta aspectos essenciais dessa área de estudo que não precisa, de forma alguma, ser restrita apenas a pais e mães. Afinal, ter respeito – de fato – pelas crianças é, também, uma maneira de criar um futuro melhor para todos.

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