Ao me tornar mãe solo, descobri que a maternidade é solo
A conclusão veio da conversa com mulheres casadas, separadas, solteiras... Que diferença faz o diálogo nas nossas vidas!
Dentro do cinema, eu dei um refresh no celular e o resultado do teste de gravidez tinha saído. “Olha aqui pra mim, pois eu não estou entendendo nada desses números. Não era para ter um positivo ou um negativo?”, indaguei para uma das minhas melhores amigas. Ela, bióloga, pegou o aparelho, analisou, e me disse: “Você está muito grávida!”. Naquele momento, simplesmente voltei meu olhar para a tela e continuei assistindo ao filme. Uma reação muito diferente daquela que achei que teria, caso descobrisse uma gravidez.
Digo “caso”, pois, na minha cabeça, nunca me imaginei mãe. Mesmo sendo muito maternal com as pessoas ao meu redor, a figura do barrigão, da mulher que faz chá revelação e pega os filhos no colo nunca existiu no meu consciente. A trajetória que eu tinha em mente seria parecida com a da minha mãe, dona Laura, que deu à luz aos 40 anos e se autointitulou como “pãe”, a junção de pai e mãe. Eu, Tainá, manteria minha vida profissional na ativa, viajaria enlouquecidamente e, perto dos 45, caminharia para a adoção e para a maternidade solo.
“Então, aos 31 anos, com o teste positivo, deu pane no sistema”
“Não era para ser assim. No entanto, se veio, vamos fazer acontecer”. Essa foi a frase que disse para minha amiga, depois da sessão de filme de ação. Ela havia me levado até lá para esfriar a cabeça e estar por perto, caso eu tivesse uma convulsão (sou epilética). Em situações mais tensas, minha tendência é sempre trazer o humor para aliviar e fazer a pessoa que acredita no copo meio cheio. Isso era necessário, afinal, eu precisava contar para minha mãe.
Na chamada de vídeo, disse que estava grávida e ela perguntou quem era o pai, pois sabia que não estava namorando. “Não sei”, respondi. “Como você me faz uma coisa dessas, filha? Agora, a gente vai ter que criar”, ela falou. Naquele momento, de certa forma, sabia que estava pronta para qualquer desafio, e amparada por uma pessoa que entendia o que era maternidade solo desde os anos 1990.
Um quarto, muitos diálogos
O medo de ser mãe solo me rondou por alguns momentos. Porém, depois de vários diálogos com dona Laura e com minhas amigas, percebi que a maternidade é solo – seja você casada, juntada, separada, solteira… Quando contei para o mundo que estava grávida, diversas mães vieram me falar que eu era sortuda de não precisar criar duas crianças, o bebê e o marido ou namorado. Isso me deixou muito chocada!
“O fulano não ajuda”. “Meu marido não tem iniciativa, tenho que mandar fazer tudo”. “Se eu ganhasse um Pix por cada palpite do meu namorado, estaria rica”. Essas e outras frases eu ouço até hoje. Fico pensativa sobre a falta de diálogo na parentalidade. E isso eu aprendi muito com minha mãe, que, mesmo trabalhando como contadora em uma grande empresa, criou seus métodos de educação participativa e acolhedora.
Em casa, se acontecia alguma coisa e uma discordava da outra, dona Laura me chamava no quarto dela, fechava a porta e só saíamos de lá quando falássemos tudo o que estávamos pensando, cada uma na sua vez. E o mais importante de tudo: saíamos apenas quando entrávamos em acordo, sem, necessariamente, uma vencedora.
“Minha mãe me ensinou que as duas precisavam ceder para que nosso convívio fosse mais harmonioso e menos pesado (para ela, no caso)”
Quando Francisco chegou, no final de outubro de 2022, eu entendi de verdade o significado daquele momento no quarto da minha mãe. A maternidade solo dela exigia esse recurso, essa conversa entre amigas, para fazer as coisas caminharem. E, hoje, com meu filho, quero evoluir esse conceito, educando-o para sempre dialogar comigo, com a avó, com o mundo e, principalmente, consigo mesmo.
Com esta coluna, quero dialogar sobre vários outros temas e trazer reflexões para as mães solo e para quem vive a maternidade solo. Entendeu a diferença? Como mulher recém-chegada a esse universo, além de jornalista e cantora, meu papel aqui será provocar, plantar sementes nas caixolas e deixar as ideias germinarem. Afinal, ninguém precisa vencer quando se dialoga, né?
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