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Amamentação do bebê prematuro é desafio, mas benefício compensa o esforço

Confira dicas de especialistas e o depoimento de uma mãe de prematuro extremo sobre sua experiência com o aleitamento.

Por Chloé Pinheiro
Atualizado em 27 nov 2019, 16h02 - Publicado em 14 nov 2019, 11h18
Bebê prematuro recebendo leite na seringa
 (metinkiyak/Getty Images)
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Amamentar já é uma tarefa difícil. Agora, imagine amamentar um bebê prematuro, que passa boa parte do início da vida em uma incubadora, cercado de fios e aparelhos, e só vai para o colo da mãe depois de dias — em alguns casos, meses? Essa é a realidade das mães de UTI neonatal.

“A gente sempre escuta que é preciso ficar em contato com o bebê, colocá-lo no peito para estimular a produção, mas no meu caso essa não era uma opção”, relembra Yurika Maria Fogaça Kawaguchi, 34 anos, mãe de Bento, hoje prestes a completar um ano de vida.

Portadora de insuficiência istmo-cervical (dificuldade do colo do útero em sustentar o peso da placenta), ela entrou em trabalho de parto na 24ª semana de gestação. O pequeno nasceu com 30cm e 740g, o que o torna um prematuro extremo, mais sujeito a problemas como infecções, dificuldades na alimentação e respiração.

Yurika, depois do parto, também enfrentou suas próprias complicações: uma infecção generalizada e uma trombose, que exigiam o uso de medicamentos e impediram durante mais de dois meses que ela oferecesse seu leite ao filho.

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Yurika amamentando na UTI neonatal (Arquivo pessoal/Reprodução)

Rotina intensa

Nesse meio tempo, ela seguiu uma rotina religiosa de extração do leite, mesmo que ele fosse descartado depois, para manter a produção e, assim, alimentar Bento quando chegasse a hora. Não adiantou, e ela teve que tomar remédios que estimulam a fabricação.

Depois de dois meses entubado e alguns dias em um aparelho para respirar, o filho finalmente pôde ir ao colo e começou o contato pele a pele. Com a ajuda do tratamento, o volume de leite aumentou, Bento teve alta pouco antes de completar cinco meses de internação e, hoje, está saudável, praticamente sem sequelas da prematuridade.

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“Passei por muitas dificuldades, espremia meu peito na angústia de sair alguma coisa, a bomba machucava, tinha que ir no banco de leite toda hora, é um período muito difícil”, relata Yurika, que ainda oferece o peito para o filho, junto com a introdução alimentar e o complemento da fórmula.

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Yurika e o filho, Bento, hoje um bebê saudável. (Reprodução/Arquivo Pessoal)

Benefícios da amamentação para prematuros

Oferecer o seio pode ser decisivo para o futuro do bebê e o benefício mais conhecido é na imunidade. “No caso do prematuro, que está mais sujeito a ter várias infecções por conta da imaturidade do sistema imune, é fundamental que ele receba os anticorpos fornecidos pelo leite”, comenta Débora Passos, pediatra e neonatologista da Pro Matre Paulista.

Para o neurodesenvolvimento, o líquido também é precioso. “Diversas pesquisas comprovam que, entre os prematuros alimentados com leite materno e fórmula, os que mamaram têm melhor desenvolvimento psicomotor bem depois, na adolescência”, destaca Débora. Um estudo divulgado este ano mostrou, por exemplo, que o leite da mãe promove o crescimento cerebral de prematuros extremos.

O bebê que nasce antes da hora tem necessidades especiais, e o corpo da mãe parece saber disso. “O leite da mãe do prematuro é mais rico em nutrientes que são necessários neste momento delicado”, comenta Flávia Guedes, nutricionista mestranda em pediatria, do Conselho Científico da ONG Prematuridade.com.

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Perfil do prematuro no país reforça necessidade

Uma pesquisa conduzida pela Prematuridade.com com mais de 3 mil pais e familiares de bebês prematuros traçou o perfil desses recém-nascidos no país. Ele mostra que as dificuldades motoras são as mais comuns entre eles — justamente uma área em que o leite materno pode ajudar.

Por outro lado, a amamentação foi um dos momentos mais citados como causadores de “grande ansiedade e incerteza”, em outra pesquisa sobre alimentação de prematuros feita pela ONG, com 500 pais.

E o estresse, que é totalmente justificável, tem um efeito negativo na produção de leite. Daí a necessidade de adotar estratégias que facilitem esse momento para a mãe e reforcem a importância da amamentação.

Como é feita a amamentação do bebê prematuro?

Depende muito do grau de desenvolvimento do bebê. Às vezes, é preciso que ele passe um tempo em jejum pois ainda não está pronto para digerir nenhum alimento. Antes das 32 semanas, ele não tem a maturidade fisiológica para mamar e está em risco de sofrer crises de apneia durante a alimentação, então recebe o leite da mãe por meio de sondas no nariz ou na boca até que esteja pronto.

Já os que nasceram por volta das 34 ou 35 semanas até estão mais preparados, mas ainda assim a grande maioria tem dificuldade de sugar e abocanhar o seio, aí é preciso fazer exercícios com a fonoaudióloga para estimular o desenvolvimento.

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O mais importante deste processo é estimular a produção de leite da mãe assim que possível, de preferência nas primeiras 24 horas depois do parto. Isso geralmente é feito pelo banco de leite, onde a mãe usa bombinhas elétricas ou faz a ordenha manual. A coleta deve ser feita de 3 em 3 horas, então a mãe acaba tendo que ficar praticamente o dia todo no hospital.

Mesmo um pouquinho já é o suficiente

A quantidade de leite produzida sem a possibilidade do contato físico é menor, mas qualquer volume é importante para o bebê. Nos primeiros dias, já é prática nas UTIs neonatais fazer a colostroterapia. Basicamente, trata-se de aplicar algumas gotinhas de colostro, a primeira secreção que sai da glândula mamária depois do parto, na boca do bebê.

“É muito importante o contato com o colostro para que ele desenvolva suas próprias defesas e uma boa microbiota intestinal, com bactérias saudáveis”, comenta Mariana Pellanda, professora na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre.

“Como o prematuro não tem maturidade de receber nada pela boca nos primeiros dias, antigamente perdia esse benefício”, continua a médica. “Mas hoje os estudos mostram que colocar uma quantidade muito pequena, de 0,1 ml, na parte de dentro da bochecha, já é o suficiente para desencadear essa resposta do organismo”, completa.

Mesmo depois que o colostro acaba, qualquer volume extraído do seio continua a ser ofertado ao bebê. É comum que ele receba o complemento com fórmula ou leite materno doado através do banco, mas o líquido da própria mãe é precioso.

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Dicas para conseguir amamentar

Abaixo, elencamos alguns conselhos para que o aleitamento ocorra com sucesso.

  • A primeira delas é usar táticas de manejo do estresse, pois a tensão é um dos fatores que mais atrapalha a produção de leite. O hospital pode oferecer locais relaxantes para a mãe descansar entre uma mamada e outra, e a rede de apoio precisa ser bem acionada para garantir que a mãe não tenha tensões extras na rotina, que é pesada;
  • Técnicas como a relactação podem ajudar a retomar a produção mesmo depois que o seio secou. Trata-se de uma sonda que é conectada ao bico do seio da mãe com a fórmula, para que o bebê estimule o mamilo — outro ponto importantíssimo para que a glândula mamária entre em ação. Fazer uso do método canguru, pegar o bebê no colo, envolver-se na rotina e estar fisicamente próxima do bebê também ajudam;
  • Como para toda lactente, a hidratação é muito importante. A medida é muito individual, mas a recomendação é aumentar a quantidade de água tomada ao dia consideravelmente. Veja mais dicas para aumentar a produção de leite;
  • Não tenha vergonha de pedir ajuda à equipe do banco de leite, aos profissionais de saúde e, se necessário, a uma consultora de amamentação;
  • Teste o esquema intensivo de ordenha, chamado de power pump. “A mãe faz 20 minutos de extração com a bomba elétrica nos dois seios ao mesmo tempo, pausa dez minutos, faz mais dez, e assim por diante até complementar uma hora”, orienta a pediatra Loretta Campos, Consultora Internacional em Aleitamento Materno pelo IBCLC;
  • Em casa, o aleitamento em livre demanda é a regra, mas, como os prematuros se cansam mais rápido e são muito sonolentos, o ideal é não espaçar muito as mamadas. Tente manter um intervalo de 3 horas.

Por último, vale lembrar que tudo bem se a amamentação não der certo. Afinal, são várias as dificuldades para que ela se estabeleça, e a mãe já está em um ambiente de estresse intenso. O que ela precisa nesse momento é de apoio, não de julgamentos e sentimentos de culpa.

Você tem um filho prematuro?

A ONG Prematuridade.com e a Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre estão conduzindo uma pesquisa online sobre a experiência da amamentação na UTI Neonatal. A ideia é apontar práticas que podem ser adotadas pelos hospitais para facilitar esse momento. Clique aqui para responder.

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