Entre as diferentes dúvidas que surgem quando o assunto é aleitamento materno, como o medo de não conseguir realizá-lo e o que fazer a partir disso, a perda de peso em decorrência da amamentação é uma delas.
Muitas vezes, a questão surge quando mães ficam receosas de que não conseguirão voltar ao que a balança mostrava antes da gestação. Já em outros momentos, ela acaba sendo associada com a potência do leite que está sendo ofertado para o bebê. Mas será que isso realmente tem ligação?
Para sanar as principais dúvidas que se entrelaçam entre a diminuição de peso após o nascimento do bebê por meio do aleitamento materno, conversamos sobre o assunto com três especialistas. Veja o que é realmente verdade e aquilo que não passa de mito, resultado de pressões estéticas e da romantização da maternidade.
1. A amamentação faz a mulher perder peso no pós-parto
Verdade. De acordo com a ginecologista e obstetra Isabel Botelho, da Unihclinic de São Paulo, para cada litro de leite ser produzido pelo organismo feminino, há um gasto de, em média, 800 calorias. Metade deste total é eliminado da ingestão alimentar diária da mãe e a outra parte é da gordura que foi armazenada na gestação.
“Durante a gravidez, conforme a paciente vai ganhando peso e estocando gordura principalmente nos tecidos periféricos para suprir o bebê e suportar todas as demandas gestacionais, ela acumula esta gordura. Já ao amamentar, ela começa a queimá-la”, detalha a especialista.
Assim, a perda de peso relacionada ao aleitamento materno acaba diretamente ligada com quantos quilos a mulher engordou durante a gestação e também com a quantidade de mamadas diárias do bebê.
2. Se a mãe não está emagrecendo, o aleitamento materno está errado
Mito. Ainda que, quanto mais leite for ofertado ao bebê, maior o gasto calórico será, a perda de peso após o parto não está relacionada apenas à amamentação.
Isabel pontua que, especialmente no puerpério, a mãe tende a ter restrição de sono em decorrência das mamadas e outras demandas do bebê. Esse processo influencia diretamente na produção de hormônios durante o descanso – substâncias estas ligadas ao processo de emagrecimento.
Outra questão importante é a análise da alimentação desta mulher. É normal que o aleitamento materno acabe gerando mais fome já que há um grande gasto calórico para que ele ocorra. Entretanto, é preciso atenção para que essa saciedade aconteça com alimentos saudáveis.
3. Quando a mãe não perde peso significa que o seu leite está fraco
Puro mito! A pediatra e consultora de amamentação Jacqueline Padovesi enfatiza que não existe leite materno fraco. “Ele é personalizado para as necessidades de cada bebê, um verdadeiro alimento vivo que se modifica dia a dia. Para otimizar a sua quantidade de gordura, é necessário que o hormônio do amor, a ocitocina, atue livremente. Inclusive, algumas mulheres até sentem leves fisgadas durante a amamentação, que são os reflexos de ejeção de leite causados pelo hormônio”, explica a especialista.
Em contrapartida, algumas mulheres podem enfrentar dificuldades para realizar a amamentação, principalmente porque ela não é um processo automático como acaba sendo dito. Além de aprender a pega correta, o entorno também precisa estar favorável a esta lactante.
“Para liberar este hormônio é fundamental que a mãe esteja calma, em um ambiente confortável, sentindo-se acolhida por uma rede de apoio e no processo de fusão emocional com seu bebê. É por isso que mães que estão passando algum tipo de estresse podem ter mais dificuldade com o aleitamento materno. O psicológico conta muito!”, ressalta Jacqueline.
4. A amamentação é apenas um dos fatores que influencia na perda de peso no pós-parto
Verdade. O apetite da mulher que realiza o aleitamento materno pode ser maior e, pela necessidade de praticidade devido as demandas do bebê, a primeira opção buscada pode ser fast-food ou outros tipos de alimentos práticos não saudáveis. Assim, uma alimentação desequilibrada é um dos fatores que contribuem para que a mãe não perca peso mesmo amamentando.
Ainda segundo a ginecologista e obstetra Laura Penteado, diretora clínica da Theia, outro fator crucial que influencia neste processo é como era a rotina desta mãe antes da gravidez. “Se a paciente já estava acima do peso, ganhou muitos quilos na gestação, não praticava atividade física e era uma pessoa muito estressada, tudo isso reduz a velocidade do metabolismo da mulher”, detalha.
Assim, a alternativa trazida pela especialista é fracionar a alimentação para que a lactante consiga sentir-se saciada sem aumentar excessivamente a ingestão calórica. E, a partir do momento que houver liberação do médico que a acompanha após o parto do bebê, vale retomar algum tipo de exercício físico em busca de um estilo de vida saudável.
Só é importante não se esquecer que o corpo no pós-parto não é o mesmo – e tudo bem, porque você também não é. Como lembra a pediatra Jacqueline, os três primeiros meses após o nascimento do filho são reconhecidos como “quarto trimestre” e, por isso, o foco precisa ser a conexão com o pequeno.
“Nele, o bebê é extremamente imaturo e necessita tanto do leite quanto da disponibilidade da mãe para realizar uma fusão emocional. Assim, é aconselhado que ela esteja voltada ‘para dentro’ para chegar a este ponto, pois se estiver muito preocupada com questões ‘externas’, dentre elas a pressa pela volta ao corpo ideal, estará perdendo a oportunidade de conexão com o bebê e depois poderá sofrer para alcançar o resgate emocional com a criança”, enfatiza.